Chamada para o nº 28 — Literatura como encontro.

2020-06-19

CHAMADA ABERTA > LITERATURA COMO ENCONTRO
Prazo de submissões: 24 de julho de 2020
Submissões: https://www.revistas.usp.br/criacaoecritica/about/submissions

A literatura demanda o outro e nos convida ao encontro. Ao refletir sobre o ofício da escrita em seu curso A preparação do romance, Roland Barthes anotou que “a ‘relação’ luta contra a Obra [...]; são os encontros que nos impedem de escrever” (2005, p. 155). Em um caminho similar, Franz Kafka em seus Diários escrevera sobre sua angústia de não conseguir se afastar das obrigações e afazeres burocráticos mundanos para dedicar-se tão e somente à escrita. No entanto, mesmo quando conseguimos nos isolar para ler ou escrever, percebemos que não estamos sozinhos, por entrarmos continuamente em contato com diversas vozes que compõem o texto. No registro do imaginário, essas vozes ecoam das personagens as quais forjamos ou às quais somos apresentados; das citações costuradas no texto; de nossas experiências de mundo; de tudo aquilo de que nos apropriamos para elaborar nossa própria voz/escrita/leitura.
Se por um lado esses encontros são proporcionados pelos próprios atos de ler e de escrever, por outro, há o encontro efetivo entre leitores, escritores, críticos literários e outros agentes da prática literária. Vemos se multiplicarem eventos literários, como conversas e debates com escritores, performances, saraus, encontros de slam. A presença em cena do corpo dos sujeitos que integram a literatura torna possível pensar a importância desses corpos na projeção e na construção da voz. O corpo deixa de ser mero invólucro, passando a ser meio de aquisição de conhecimento. Ao refletir sobre os povos autóctones da região do México, a performer e pesquisadora Diana Taylor vê na performance mais do que um campo artístico. A performance é, para ela, uma episteme, um modo de conhecer: “um sistema de aprendizagem, armazenamento e transmissão de conhecimento” (TAYLOR, 2013, p. 45). Tal perspectiva contribui para uma aproximação da literatura com a performance, ambas demandando o outro, não apenas como espectador/leitor, mas como agente, como participante na construção do trabalho.
Com a internet, os encontros entre autores e leitores se diversificaram: vemos surgirem experiências de escritas ao vivo; blogs e microblogs tornaram-se espaços para a publicação de textos literários, com abertura para os comentários dos leitores; softwares permitem a escrita coletiva, online e em tempo real; mais recentemente, as redes sociais colocaram autor e leitor em contato direto. Nesse contexto, abre-se espaço também para discussões a respeito da influência desses novos encontros proporcionados pela tecnologia na literatura.
Convencidos de que a literatura nos promove uma vastidão de encontros, convidamos a todos que queiram contribuir com trabalhos que dialoguem com esta temática. Serão bem-vindas reflexões que discutam:
O surgimento e a relevância dos salões de arte e dos saraus na literatura;
As diferentes possibilidades de construções de memórias narrativas por meio de transmissões orais;
Os encontros de slam como forma de engajamento do corpo e de produção de conhecimento na literatura;
O encontro de diferentes mãos e saberes no texto por meio das escritas coletivas/colaborativas;
A constituição da figura pública do escritor e sua imersão na sociedade contemporânea;
As relações possíveis entre a performance e a literatura;
O impacto dos novos encontros proporcionados pelas tecnologias na criação literária.
As contribuições devem ser enviadas através do site, de acordo com as normas da revista, até o dia 24 de julho de 2020.
A revista aceita artigos em português, francês, espanhol e inglês.