Fingimento e Barroco: as desdobras de identidade em "Anfitrião ou Júpiter e Alcmena", de Antônio José da Silva

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v12i23p133-155

Palavras-chave:

Antônio José da Silva, Barroco, Fingimento, Anfitrião

Resumo

Neste artigo trataremos da peça Anfitrião ou Júpiter e Alcmena (1736), de Antônio José da Silva (1705-1739), considerando o fingimento enquanto apropriação de identidade: Júpiter se transforma em Anfitrião, e o mesmo faz Mercúrio em relação à Saramago. Notamos que o autor luso-brasileiro, à guisa de superação do modelo plautino e de seus paradigmas intertextuais, reforça em sua peça os processos de multiplicação, acrescentando desdobras ao mythos inicial. Nesse sentido, podemos identificar vários procedimentos de desdobras, dentre os quais, a divisão da “fôrma-Anfitrião” em marido (Anfitrião ele-mesmo) e amante (Júpiter disfarçado); a inserção de Juno e Íris como fator de oposição à aventura amorosa de Júpiter e, consequentemente, à ramificação da ação principal. Para tanto, relacionamos a estratégia do fingimento das personagens, incluindo a sedução feminina, aos processos de desdobras realizados pelo comediógrafo. Na peça em questão, a personagem Juno desdobra duas vezes sua identidade, fingindo-se primeiramente Felizarda e, então, Flérida. Discorremos, ainda, sobre os quadrângulos amorosos, que também se dão como desdobras: em paralelo aos jogos amorosos entre os discretos (Anfitrião/Alcmena/Júpiter/Juno), teremos a ação cômica, que se dá pelos quiproquós entre Mercúrio/Cornucópia/Saramago/Íris. Logo, constatamos que os processos de desdobras que marcam a estética barroca manifestam-se tanto na estrutura das intrigas séria e cômica da peça quanto nas variações de identidade das personagens, tendo Antônio José da Silva investido sobremaneira neste recurso, de modo quase vertiginoso.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Eduardo Neves Silva, Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

    Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Graduou-se em Letras (Português-Inglês) pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” e em Filosofia pela Universidade de São Paulo.

Referências

BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1984.

CAVAILLÉ, Jean-Pierre. Descartes: a fábula do mundo. Tradução de Miguel Serras Pereira. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.

DELEUZE, Gilles. A dobra: Leibniz e o Barroco. Campinas: Papirus, 2000.

DESCARTES, René. Meditações. Obra escolhida. 3ª ed. Introdução de Gilles-Gaston Granger. Prefácio e notas de Gérard Lebrun. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. 3ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994. p. 105-198.

MARCELLO, Benedetto. O teatro à moda. Tradução de Ligiana Costa. São Paulo: Editora Unesp, 2010.

MÍSSIO, Edmir. A civilidade e as artes de fingir: a partir do conceito de dissimulação honesta de Torquato Accetto. São Paulo: Edusp, 2012.

PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. Tradução de Jacó Guinsburg e M. Lúcia Pereira. São Paulo: Perspectiva, 2008.

PLAUTO. Anfitrião. Introdução, tradução e notas de Carlos Alberto Louro Fonseca. Lisboa: Edições 70, 1993.

REBELLO, Luiz Francisco. História do teatro português. 2ª edição. Lisboa: Publicações Europa-América, 1972.

SILVA, António José da. Obras completas. Prefácio e notas do Prof. José Pereira Tavares. Lisboa: Sá da Costa, 1958. 4.v.

Downloads

Publicado

2020-12-29

Como Citar

Silva, E. N. (2020). Fingimento e Barroco: as desdobras de identidade em "Anfitrião ou Júpiter e Alcmena", de Antônio José da Silva. Revista Desassossego, 12(23), 133-155. https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v12i23p133-155