Indivíduo e narradores em "O Judeu" e "Português, escritor, quarenta e cinco anos de idade"
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v12i23p25-40Palavras-chave:
Bernardo Santareno, Narradores no teatro, Autobiografia, Tragédia, Teatro épicoResumo
Desde sempre presentes no teatro, os narradores reencontram uma funcionalidade dramatúrgica própria no âmbito da sintaxe teatral brechtiana, cuja influência prevalece na segunda fase do teatro de B. Santareno. Os narradores no teatro, estruturado nas tipologias propostas por B. Richardson (1988), permitem um jogo de perspetivas que concorre para a interpretação dinâmica dos acontecimentos apresentados em palco pretendida pelo teatro épico. Nas peças O Judeu (1966) e Português, escritor, quarenta e cinco anos de idade (1974), B. Santareno recorre a diversas tipologias de narrador cuja função iremos analisar. Em ambas as peças, nas quais é central a figura de um dramaturgo, emerge uma reflexão sobre a função social do teatro e a pertinência de o escrever numa sociedade marcada pela censura. Reflexão em que sobressaem da estrutura das duas peças alguns elementos de dualidade, ou ambivalência, que, embora não reduzam a matriz épica dos textos, questionam a prerrogativa cultural do teatro enquanto meio privilegiado de transformação da sociedade. Esperamos demonstrar que em O Judeu esses elementos são atinentes ao género trágico, enquanto que em Português, escritor, quarenta e cinco anos de idade estão ligadas ao caráter autobiográfico com que o texto e a representação são apresentados.
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