Clastres contra Rousseau: a filosofia à luz da etnologia

Autores

  • Mauro Dela Bandera Universidade Federal do Paraná

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2318-8863.discurso.2022.200498

Palavras-chave:

Clastres, Rousseau, política, economia, Contra o Estado

Resumo

Leitor atento de Rousseau, embora raramente o citasse em seus textos, Clastres emprega o mesmo vocabulário que ganhou fama sob a pluma do cidadão de Genebra, tomando por vezes distância de suas reflexões: 1) alusão à vontade geral; 2) a encenação do gesto fundador da sociedade civil de cercar um terreno e o discurso possessivo que inaugura a propriedade privada e a acompanha (“isto é meu”); 3) e, por fim e mais importante, a crítica direcionada às duas frentes que compõem a narrativa de Rousseau sobre a origem do Estado: de um lado, a associação entre desejo de prestígio e vontade de poder; de outro, o fundamento econômico do poder político. Se é certo afirmar que a Arqueologia da violência é contra Hobbes ou uma inversão do argumento de Hobbes – pois aí Clastres politiza a guerra –, por sua vez, a Sociedade contra o Estado é em certa medida contra Rousseau ou, ainda, uma inversão do argumento de Rousseau, visto que se coloca contra a narrativa hipotética da história ocidental: não mais da economia e do prestígio para a política, mas da política para a economia, pois aí Clastres politiza a economia.

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Publicado

2022-06-30

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Seção

Artigos

Como Citar

Bandera, M. D. (2022). Clastres contra Rousseau: a filosofia à luz da etnologia. Discurso, 52(1), 124–143. https://doi.org/10.11606/issn.2318-8863.discurso.2022.200498