As ciências na formação do Brasil entre 1822 e 2022: história e reflexões sobre o futuro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2022.36105.013

Palavras-chave:

Bicentenário da Independência do Brasil, História das Ciências, Ciências na formação nacional, Crise da ciência, Desafios da ciência no futuro

Resumo

Este artigo traça um panorama da história da atuação das ciências no processo histórico de formação do Brasil como nação. Entre 1822 e 2022, os cientistas deram contribuições cruciais ao debate sobre constituição do Estado; identidade nacional; cidadania; visões sobre populações; políticas públicas de saúde e educação; projetos de criação de universidades; circulação internacional de saberes; soberania, desenvolvimento nacional, inserção do Brasil no mundo e convivência entre o atraso e a modernidade. Sugere-se que esses temas centrais em 1822 e 1922 devem ser atualizados na agenda do Bicentenário da Independência. Tal atualização requer uma análise do processo histórico em que se destacam tendências acentuadas pela pandemia de Covid-19: a importância das ciências, e da sustentabilidade da atividade científica, na resposta à crise e aos desafios contemporâneos; a persistência das desigualdades, inclusive as relacionadas ao desenvolvimento científico e tecnológico, e a questão ambiental, transversal e incontornável para todas as áreas do conhecimento.

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Publicado

2022-06-03

Como Citar

Lima, N. T., Sá, D. M. de, Casazza, I. F., & Brito, C. A. G. de. (2022). As ciências na formação do Brasil entre 1822 e 2022: história e reflexões sobre o futuro. Estudos Avançados, 36(105), 211-236. https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2022.36105.013