Dilemas éticos na cultura do consumo: Antropoceno, psicanálise e capitalismo como modo de operação das paixões

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2023.37107.019

Palavras-chave:

Antropoceno, Consumo ético, Cultura do consumo, Pulsão, Ética

Resumo

O consumo ético tem emergido como resposta possível à crise climática no contexto do Antropoceno. Neste ensaio, faço uma crítica a essa proposição contextualizando, historicamente, as relações entre consumo, capitalismo e paixões humanas que moldaram a cultura do consumo contemporânea. Partindo da Fábula das abelhas, de Bernard Mandeville e chegando ao conceito freudiano de pulsão, empreendo uma genealogia das paixões consumistas, sugerindo que a satisfação pulsional é uma noção central para o entendimento das dimensões psíquicas relacionadas ao consumo. Reflito sobre a ética a partir dessa perspectiva psicanalítica segundo a qual o mundo é incompleto e a satisfação total é impossível. Tal lógica é radicalmente oposta à da cultura do consumo na qual está assentado o discurso do consumo ético. Concluo argumentando que uma ética para o Antropoceno deve ser uma ética trágica e que a ética da Psicanálise, proposta por Lacan, tem algo a nos ensinar sobre isso.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

ANGUS, I. Facing the Anthropocene: Fossil Capitalism and the Crisis of the Earth System. New York: Monthly Review Press, 2016.

BARNETT, C.; CAFARO, P.; NEWHOLM, T. Philosophy and Ethical Consumption, 2005. In: HARRISON, R.; NEWHOLM, T.; SHAW, D. (Org.). The ethical consumer. London: Sage, 2005. p.11-24.

BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

BAUMAN, Z. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

BAUMAN, Z. Consuming life. Journal of Consumer Culture, v.1, n.1, p.9-29, 2001a.

BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001b.

BERNAYS, E. Propaganda. New York: Horace Liveright, 1928.

BHATTACHARYA, C.; SEM, S. Doing better at doing good: when, why, and how consumers respond to corporate social initiatives. California Management Review, v.47, n.1, p.9-24, 2004.

BRITO, A. As abelhas egoístas: vício e virtude na obra de Bernard Mandeville. São Paulo, 2006. Tese (Doutorado em Filosofia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.

CARUANA, R.; CRANE A. Constructing consumer responsibility: exploring the role of corporate communications. Organization Studies, v.29, n.12, p.1495-1519, 2008.

CLULEY, R.; DESMOND, J. Why psychoanalysis now? Marketing Theory, v.15, n.1, p.3-8, 2015.

COPJEC J. Read My Desire: Lacan Against the Historicists. Cambridge, MA: MIT Press, 1994.

CRUTZEN, P. Geology of mankind. Nature, v.415, p.23, 2002.

CRUTZEN, P.; STOERMER E. The anthropocene. IGBP Newsletter, v.41, p.17-18, 2000.

DICHTER, E. The strategy of desire. New York: Doubleday, 1960.

DUFOUR, D. A cidade perversa: liberalismo e pornografia. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.

ELIAS, N. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. v.1.

ELIAS, N. O processo civilizador: formação do Estado e civilização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. v.2.

EWEN, S. PR!: a social history of spin. New York: Basic Books, 1996.

FITCHETT, J. Marketing sadism: Super-Cannes and consumer culture. Marketing Theory, v.2, n.3, p.309-22, 2002.

FREUD, S. O mal-estar na civilização. São Paulo: Penguin-Cia. das Letras, 2011.

FREUD, S. As pulsões e seus destinos. São Paulo: Autêntica, 2014a.

FREUD, S. Compêndio de psicanálise e outros escritos inacabados. São Paulo: Autêntica, 2014b.

FREUD, S. Além do princípio do prazer. Porto Alegre: L&PM, 2016.

FULLERTON, R.; STERN, B. The Rise and Fall of Ernest Dichter, Werbeforschung and Praxis, v.35, p.208-11, June 1990.

GARLAND, J.; HUISING R.; STRUBEN J. What if technology worked in harmony with nature? Imagining climate change through Prius advertisements. Organization, v.20, n.5, p.679-704, 2013.

GÓES, C. Psicanálise e capitalismo. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.

HARVEY, D. Para entender O Capital: livro I. São Paulo: Boitempo, 2013.

HARVEY, D. Para entender O Capital: livros II and III. São Paulo: Boitempo, 2014.

HIRSCHMAN, A. As paixões e os interesses: argumentos políticos para o capitalismo antes de seu triunfo. Rio de Janeiro: Record, 2002.

HOLBROOK, M. Some reflections on psychoanalytic approaches to marketing and consumer research. Marketing Theory, v.15, n.1, p.13-16, 2015.

HUME, D. Tratado da natureza humana. São Paulo: Editora Unesp, 2009.

IANNINI, G. Epistemologia da pulsão: fantasia, ciência, mito. In: FREUD, S. As pulsões e seus destinos. São Paulo: Autêntica, 2014. p.91-134.

ILLOUZ, E. O amor nos tempos do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

JAPPE, A. As aventuras da mercadoria: para uma nova crítica do va­lor. Lisboa: Antígona, 2013.

KEHL, M. Sobre Ética e Psicanálise. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.

LACAN J. O Seminário: Livro 7. A Ética da Psicanálise (1959-1960). Rio de Janeiro: Zahar, 1991.

LANG, T.; GABRIEL Y. A Brief History of Consumer Activism. In: HARRISON, R.; NEWHOLM, T.; SHAW, D. (Org.) The ethical consumer. London: Sage, 2005. p.39-53.

LEARS, J. From salvation to self-realization: Advertising and the the­rapeutic roots of the consumer culture, 1880-1930. In: FOX, R.; LEARS, J. (Org.) The culture of consumption: critical essays in American history, 1880-1980. New York: Pantheon Books, 1983. p.1-38.

LOOSE, R. The other side of marketing and advertising: psychoanalysis, art and addiction. Marketing Theory, v.15, n.I, p.31-38, 2015.

MANDEVILLE, B. The Fable of the Bees and Other Writings. Hackett Publishing Company Co. Indianapolis/Cambridge, 1997.

MARX, K. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Boitempo. Livro I: O processo de produção do capital, 2013.

MARX, K. O capital. São Paulo: Boitempo. Livro II, 2014.

MONZANI, L. Desejo e prazer na Idade Moderna. Campinas: Editora da Unicamp, 1995.

OSWALD, L. Marketing Hedonics: Toward a Psychoanalysis of Advertising Response. Journal of Marketing Communication, v.16, n.3, p.107-31, 2010.

PORTILHO, F. Sustentabilidade Ambiental, Consumo e Cidadania. São Paulo: Cortez, 2005.

POSTMAN, N. Amusing ourselves to death: Public discourse in the age of show business. Penguin Publishing Group, New York, NY, 2005.

RAYMEN, T.; SMITH, O. Lifestyle gambling, indebtedness and anxiety: A deviant leisure perspective. Journal of Consumer Culture, v.0, n.0, p.1-19, 2017.

SLATER, D. Consumer culture & modernity. Cambridge: Polity Press, 1997.

SMITH, O.; RAYMEN, T. Shopping with violence: Black Friday sales in the British context. Journal of consumer culture, v.17, n.3, p.677-94, 2017.

STRASSER, S. Satisfaction guaranteed: the making of the American mass market. New York: Pantheon Books, 1989.

TRENTMANN F. Citizenship and consumption. Journal of Consumer Culture, v.7, n.2, p.147-58, 2007.

VEIGA, J. A primeira utopia do Antropoceno. Ambiente & Sociedade, São Paulo, v.XX, n.2, p.233-52, abr.-jun. 2017.

VORSATZ I. Antígona e a Ética Trágica da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

WEGERER, P.; MUNRO, I. Ethics of ambivalence in corporate branding. Organization, v.25, n.6, p.695-709, 2018.

WOODALL, T. Driven to excess? Linking calling, character and the (mis)behaviour of marketers. Marketing Theory, v.12, n.2, p.173-91, 2011.

WRIGHT C. et al. Organizing in the anthropocene. Organization, v.25, n.4, p.455-71, 2018.

ZARETSKY, E. Segredos da alma: uma história sociocultural da psica­nálise. São Paulo: Cultrix, 2006.

ŽIŽEK, S. A subjectividade por vir - ensaios críticos sobre a voz obscena. Lisboa: Relógio D’água, 2004.

ŽIŽEK, S. A visão em paralaxe. São Paulo: Boitempo, 2008a.

ŽIŽEK, S. Violence: Six Sideways Reflections. New York: Picador, 2008b.

Downloads

Publicado

2023-12-05

Como Citar

Fontenelle, I. A. . (2023). Dilemas éticos na cultura do consumo: Antropoceno, psicanálise e capitalismo como modo de operação das paixões. Estudos Avançados, 37(107), 319-334. https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2023.37107.019