Economia política da desgovernança global
DOI:
https://doi.org/10.1590/S0101-41612007000300001Palavras-chave:
governança, déficit em conta corrente, taxa de câmbio, populismoResumo
A desgovernança econômica global, mais do que a governança, é uma das características mais marcantes, hoje, da economia mundial. Dois fatos confirmam esta afirmativa: as recorrentes crises do balanço de pagamentos em países em desenvolvimento, e o enorme déficit em conta corrente dos Estados Unidos. As crises em mercados emergentes são, essencialmente, o resultado de uma estratégia que o Norte propôs para o Sul: o crescimento com poupança externa. Dado o fato de que os fluxos de capital externo valorizam a taxa de câmbio, e que os países não aproveitaram as oportunidades de investimento nos anos 1990, tal estratégia não gerou aumento da acumulação de capital e crescimento, mas um grande déficit em conta corrente e crises (financeiras) de balanço de pagamentos. Por outro lado, o déficit em conta corrente dos Estados Unidos é um problema sério. Os Estados Unidos já são um país devedor, mas os ajustes continuam a ser adiados. Assim, a probabilidade de um soft landing é pequena. As duas fontes geradoras de instabilidade estão relacionadas com os déficits de conta corrente e a moeda sobrevalorizada. A política por trás disso tudo tem um nome: populismo cambial, uma das duas formas de populismo econômico (a outra é o populismo fiscal). Isto não é surpreendente em países em desenvolvimento, mas pode ser em um país desenvolvido como os Estados Unidos. Mesmo assim, quando considerados o retrocesso político e social que a sociedade americana vem experimentando desde o fim da Segunda Guerra Mundial, este fato deixa de ser surpreendente.Downloads
Referências
Aglietta, Michel. Problèmes posés par la régulation monétaire. In: Jacquet, Pierre;
Pisany-Ferry, Jean; Tubiana Laurence (eds.), Governance mondiale. Paris: La
Documentation Française, 2002, p. 375-392.
Alves, Antonio J.; Ferrari Filho, Fernando; Paula, Luiz Fernando de. Crise cambial,
instabilidade financeira e reforma do sistema monetário. In: Ferrari Filho,
Fernando; Paula, Luiz Fernando de (orgs.), Globalização financeira. Petrópolis:
Vozes, 2004, p. 369-461.
Bernanke, Ben S. The global saving glut and the US current account deficit. Richmond:
Sandridge Lecture, Virginia Association of Economics, 10 March 2005.
Bresser-Pereira, Luiz Carlos A turning point in the debt crisis. Revista de Economia
Política, v. 19, n. 2, p. 103-130, 1999.
Bresser-Pereira, Luiz Carlos. Financiamento para o subdesenvolvimento: o Brasil e
o Segundo Consenso de Washington”. In: Castro, Ana Célia (org.), Desenvolvimento
em debate: painéis do desenvolvimento brasileiro I, vol. 2. Rio de Janeiro:
Mauad/BNDES, 2002, p. 359-398.
Bresser-Pereira, Luiz Carlos; Abud, Jairo. Net and total transition cost: the timing of
economic reform. World Development, v. 25, n. 6, p. 905-914, 1997.
Bresser-Pereira, Luiz Carlos; Abud, Jairo. Exchange rate: fix, float, or manage it? Prefácio a Mathias Vernengo (org.),
Monetary integration and dollarization: no panacea. Cheltenham: Edward Elgar,
, p. xiii-xix.
Bresser-Pereira, Luiz Carlos; Nakano, Yoshiaki. Uma estratégia de desenvolvimento
com estabilidade. Revista de Economia Política, v. 21, n. 3, p. 146-177, 2002.
Bresser-Pereira, Luiz Carlos; Nakano, Yoshiaki. Crescimento econômico com poupança externa? Revista de Economia Política,
v. 22, n. 2, p. 3-27, 2003.
Bresser-Pereira, Luiz Carlos; Varela, Carmen A. The second Washington Consensus
and Latin America’s quasi-stagnation. Journal of Post Keynesian Economics, v. 27,
n. 2, p. 231-250, 2004.
Bresser-Pereira, Luiz Carlos; Gala, Paulo. Crítica do crescimento com poupança
externa. Texto para Discussão EESP/Fundação Getúlio Vargas 14&, outubro
Bresser-Pereira, Luiz Carlos (ed.), Populismo econômico. São Paulo: Editora Nobel,
Canitrot, Adolfo. La experiencia populista de distribución de renta. Desarrollo
Económico, v. 15 (59), p. 331-351, outubro de 1975.
Cline, William R. The United States as a debtor nation. Washington: Institute for
International Economics, 2005.
Cline, William R.; Weintraub, Sidney (eds.), Economic stabilization in developing
countries. Washington: The Brookings Institution, 1981.
Davidson, Paul. Financial markets, money and the real world. Cheltenham: Edward
Elgar Publishing, 2002.
Diaz-Alejandro, Carlos. Southern Cone stabilization plans. In: Cline, W.; Weintraub,
S. (orgs.), op. cit., 1981, p. 119-148.
Dooley, Michael; Folkerts-Landau, David; Garber, Peter. An essay on the revived
Breton Woods system. Cambridge, MA: NBER Working Paper 9971, September
Dooley, Michael; Folkerts-Landau, David; Garber, Peter. Interest rates, exchange rates and international adjustment. NBER Working Paper 11771, November 2005.
Economist, The. The disappearing dollar. The Economist, 2 de dezembro de 2004.
Eichengreen, Barry. Capital flows and crises. Cambridge: MIT Press, 2003.
Feldstein, Martin S. Distinguished lecture on economics in government: thinking
about international economic coordination. Journal of Economic Perspectives, v. 2, n. 2, p. 3-14, 1988.
Frenkel, J. A.; Rockett, K. A. International macroeconomic policy coordination when policy-makers do not agree on the true model. The American Economic Review, 78, p. 318-340, 1988.
Galbraith, James K. Apocalypse not yet. Cópia: 06 de dezembro de 2004. Versão reduzida desse artigo em Newsday, 3 de dezembro de 2004.
Hausmann, Ricardo; Sturzenegger, Federico. ‘Dark matter’ makes the US deficit
disappear. Financial Times, 8 de dezembro de 2005.
Jacquet, Pierre; Pisani-Ferry, Jean; Tubiana, Laurence (eds.), Gouvernance mondiale.
Paris: La Documentation Française, 2002.
Jarret, Peter. Coping with the inevitable adjustment in the US current account. Economics
Department Working Paper n°.467, Dezembro 2005.
Kregel, Jan. Was there an alternative to the Brazilian crisis? Revista de Economia Política, v. 19, n. 3, p. 23-38, 1999.
Kuroda, Haruhiko. The ‘Nixon Shock’ and the ‘Plaza Agreement’: lessons from two
seemingly failed cases of Japan’s exchange rate policy. China & World Economy, v. 12, n. 1, p. 3-10, 2004. Moggridge, D. Keynes. Londres: Macmillan, 1876.
Nonnenberg, Marcelo José Braga. Aumento do déficit em conta corrente norteamericano
e perspectivas de desvalorização do dólar. nota técnica in Brasília:
Boletim de Conjuntura (do IPEA), 68 março 2005, p. 82-84.
O’Donnell, Guillermo. State and alliances in Argentina, 1956-1976. In: O’Donnell,
Guillermo (1999). Originalmente publicado em Desarollo Económico, janeiro
de 1977.
O’Donnell, Guillermo. Counterpoints – Selected essays on authoritarianism and democratization. Notre Dame: Indiana University Press, 1999.
Raffer, Kunibert; Singer, Hans W. The economic north-south divide. Cheltenham: Elgar
Press, 2001.
Rajan, Ramkishen S.; Kiran, José; Hefeker, Carsten; Schnab, Gunther. The US
dollar and the euro as international currencies. Intereconomics, v. 41, n. 6, p.
-141, 2006.
Roseneau, James N. Turbulence in world politics: a theory of change and continuity.
Princeton: Princeton University Press, 1990.
Roseneau, James N. Along the domestic-foreign frontier: exploring governance in a turbulent world. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.
Sachs, Jeffrey D. Social conflict and populist policies in Latin America. In: Brunetta,
R.; Dell-Arringa, C. (eds.), Labor relations and economic performance. London:
Macmillan Press, 1989.
Stiglitz, Joseph E. Globalization and its discontents. Nova York: W.W. Norton, 2002.
UNCTAD. Trade and development report. Geneva: United Nations Conference on
Trade and Development, 2001.
UNCTAD Secretariat. The financial crisis in East Asia: a background note. Genebra:
janeiro de 1998.
Williamson, John. Curbing the boom-bust cycle: stabilizing capital flows to emerging
markets. Washington: Institute for International Economics, 2005.
Wong, Wing-Keung; Khan, Habibullah. Can the American dollar survive the onslaught
of the euro? An empirical investigation. Singapore: National University of Singapore
e Universitas 21 Global, fevereiro de 2006.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2007 Luiz Carlos Bresser-Pereira
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
A submissão de artigo autoriza sua publicação e implica o compromisso de que o mesmo material não esteja sendo submetido a outro periódico.
A revista não paga direitos autorais aos autores dos artigos publicados.
O detentor dos direitos autorais da revista é o Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo.