O texto visa apreender a formação e diversificação da riqueza paulista durante o século XIX. A análise recai sobre os Lacerda Franco, importante família cujos membros principiaram economicamente em atividades de cunho interno (lavoura de mantimentos, criação e comércio de animais, produção de aguardente) nas terras próximas da vila de São Paulo e, posteriormente, migraram para o Oeste Paulista, tornando-se senhores de engenho e cafeicultores. Esse processo de enriquecimento aponta a formação de sociedades agrícolas, casa comissária e exportadora, indústria, banco, diversificando as formas de riqueza dentro do complexo exportador cafeeiro da segunda metade do XIX. O fio condutor do trabalho é a apreensão da dinâmica (movimento) desse processo, materializada, através da documentação da família e de suas empresas – o que diferencia o trabalho das análises correntes apoiadas de forma unívoca em inventários –, de suas estratégias econômicas, nas diferentes atividades que os enriqueceram e nas difusas formas de alocação do capital.
The text aims to seize the formation and diversification of São Paulo’s wealth during the nineteenth century. The analysis rests on the Lacerda Franco, important family whose members started economically in activities of internal market (farm supplies, animal farming and trade, production of brandy) at lands near the village of São Paulo and later migrated to the Oeste Paulista, becoming planters and farmers. This enrichment process shows the formation of agricultural societies, commissioner and exporter firms, industry, banking, diversifying the forms of wealth within the coffee exporter complex in the second half of the XIX. The focus of the study is to apprehend the dynamic (movement) of this process, materialized through the documentation of the family and its businesses – what differentiates the work of the current analyzes supported unequivocally in inventories – the economic strategies, in different economic activities that they have enriched and the diffuse forms to invest their earnings.
A
Nossa análise busca compreender os meandros deste movimento explorando sua dinâmica em
três níveis: analítico, geográfico e acumulativo. Analiticamente, o estudo busca se
diferenciar de outros que se debruçaram sobre as formas de enriquecimento em São Paulo
no século XIX, mas que calcaram suas conclusões em inventários, documentação elaborada
no ponto final da trajetória do indivíduo e que não explica o movimento de acumulação em
sua totalidade.
A importância da dinâmica geográfica vem do deslocamento dos membros da família analisada pelo interior de São Paulo durante o século XIX. Este movimento espelha o aprofundamento da economia paulista no período, com o açúcar e o café levando a fronteira cada vez mais para dentro do Estado em busca de terras férteis, o que gerava oportunidades aos que se embrenhavam nestas paragens, como fica evidente pelo quadro que desenhamos da família Lacerda Franco, saindo das terras próximas à vila de São Paulo e migrando para localidades do Oeste Paulista.
Por fim, o século XIX viu uma dinamização nas próprias formas de acumulação de riqueza. Da lavoura de mantimentos aos engenhos açucareiros, destes aos cafezais, dos escravos às terras, dos animais às ações de empresas, mudaram tanto as formas de geração quanto de alocação dos capitais, em um movimento amplo que desnuda a transição capitalista de São Paulo. Os Lacerda Franco espelham estas dinâmicas de acumulação, pois diferentes maneiras de enriquecimento e investimento podem ser vistas na trajetória de membros da família.
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos Maços de População da vila de Atibaia e Jundiaí (1785-1842), e da vila de Limeira (1835).
Entendemos que optar pelo estudo de uma família
No início do século XIX, à vila de São Paulo chegava diariamente feijão, milho,
toucinho, aguardente, tecido de algodão, farinha de mandioca e outras mercadorias
trazidas das vilas paulistas de Atibaia e Bragança. Tais gêneros somavam 95% do valor
total comercializado por estas localidades com outras vilas (
Pela
NOMES | ATIVIDADE | PRODUTOS | MAIOR PLANTEL (ANO) | PATENTE MILITAR E OUTROS CARGOS |
---|---|---|---|---|
1 - Chrispim da Silva Franco | lavrador com tropa | milho, capados, feijão, arroz, algodão | 13 escravos (1810) | capitão de ordenanças |
2 - Ignacio Franco de Camargo | lavrador com engenho e tropa | milho, capados, feijão, aguardente, bois, éguas, toucinho, bestas | 23 escravos (1824) | soldado da cavalaria/ capitão de ordenanças |
3 - Joaquim Franco de Camargo | Negociante de animais e lavrador | milho, feijão, tropa solta | 4 escravos (1816) | sargento de milícias |
4 - Antonio de Lacerda Guimarães | Lavrador | milho, feijão, capados, arroz, algodão, capados, gado, bestas | 16 escravos (1836) | soldado auxiliar/ juiz de paz |
Fonte: Maços de População das vilas de Atibaia e Jundiaí (MP ATIBAIA e MP JUNDIAÍ, 1803-1842).
Em vilas antigas, como Atibaia e Jundiaí, que surgiram respectivamente em 1665 e 1769, a
colonização pretérita legara no século XIX, um quadro marcado pela baixa disponibilidade
de terras livres, agravado pelas técnicas agrícolas extensivas, ademais, havia falta até
mesmo de lenha para os engenhos. No caso dos Lacerda Franco, a concorrência aumentava
ainda mais, em virtude dos dez filhos do casal Ignacio e Anna Maria. A alternativa seria
embrenhar-se na fronteira, buscando mais ao interior de São Paulo as oportunidades que
escasseavam nas proximidades da capital (
Os lucros gerados pelos serviços de transporte e a cultura de mantimentos foram
atividades que proporcionaram um autofinanciamento para a formação das propriedades
açucareiras paulistas, caracterizadas pela menor estrutura e custo reduzido dos engenhos
– quando comparados, por exemplo, às moendas nordestinas – o que demandava menos cativos
para seu funcionamento (
Como demonstra a
Mogi Mirim, que se tornou vila em 1769, possuía terras férteis e propícias à cultura
canavieira, lavoura cujos primórdios locais remontavam ao final do século XVIII, e que
atraíram diversos migrantes no desejo do enriquecimento.
A descrição acima aponta que o tropeiro Joaquim encontrou no quadrilátero do açúcar a
oportunidade de galgar postos na sociedade paulista, tornando-se proprietário de terras
e escravos, ou seja, afazendando-se. Na economia mercantil-escravista açucareira,
Para viabilizar o transporte de uma produção que se interiorizava antes da chegada das
ferrovias, a serem organizadas somente a partir de 1867, os caminhos e estradas, em que
transitavam muares, equinos e bovinos, eram vitais para o fluxo econômico das
localidades, pois permitiam o escoamento da produção e a chegada das mercadorias vindas
de Santos. Alguns destes caminhos redundaram na formação de novas vilas (
Os primeiros habitantes da freguesia de Limeira eram originários de Piracicaba,
Campinas, Mogi-Mirim, Bragança, Jundiaí e Atibaia (
Ele teria chegado à Limeira em 1828. No ano de 1835, Joaquim vivia com sua esposa Maria
Lourença de Morais, agora com 12 filhos.
Como importante produtor de açúcar e dono de escravaria,
O sucesso político era expressão da ascensão econômica e, ao mesmo tempo, ampliava as
possibilidades de manutenção e crescimento da riqueza. Nestas novas localidades
paulistas, neófitos proprietários souberam açambarcar os espaços políticos e econômicos,
a fim de reforçarem suas posições dominantes na seara local. Corrobora esta hipótese a
trajetória de Joaquim Franco de Camargo que, em 1854, já conhecido como Alferes
Franco,
No interregno entre o início e a metade do século XIX, a acumulação econômica dos Lacerda Franco, que se deu em atividades de cunho interno (aguardente, criação e comércio de animais, e cultura de mantimentos), foi transfigurada em propriedades escravistas açucareiras. Esta mutação se deu através do deslocamento da família na Província de São Paulo, deixando a área próxima à capital e adentrando ao Quadrilátero do Açúcar, na região que seria conhecida por Oeste Paulista, a principal produtora de açúcar na Província, que configurou-se como uma zona voltada à agricultura de exportação.
O pico da exportação de açúcar pelo Porto de Santos deu-se no ano de 1847. Todavia,
menos de dez anos após o auge açucareiro, foram exportadas 773.892 arrobas de café em
1854-1855, frente a apenas 184.049 arrobas de açúcar, levando a uma mudança: o
quadrilátero do açúcar se transformou no Oeste Paulista cafeeiro.
O lado paulista do Vale do Paraíba era a principal zona produtora de café da província
na metade do século XIX. Por sua vez, o Oeste Paulista representava a fronteira agrícola
provincial, reservando desafios aos que nele se embrenhavam e, também, oportunidades de
ganho econômico.
Atuando naquela que viria a ser principal região cafeicultora do Brasil, os irmãos
Lacerda Guimarães deram um novo rumo à condução dos negócios da família. Eles se valeram
de uma estratégia para consolidar a posição na elite paulista: a
Na década de 1860, com o café se expandindo no Oeste Paulista junto à demanda por capitais ao plantio e manutenção dos cafeeiros, o associativismo dos Lacerda Franco foi impulsionado pela partilha do cabedal familiar. Este capital acumulado, em grande parte, na primeira metade do século XIX, no momento em que algum familiar fenecia, era redistribuído entre os herdeiros na forma de legítimas paternas ou maternas, possibilitando a capitalização destes indivíduos.
A redistribuição da riqueza permitia aos membros mais jovens adentrar ao mundo do café
em posição privilegiada, ora munidos do cabedal familiar. Como demonstra a
Familiares | ANO | LOCAL | MONTE MOR | LEGÍTIMA | Nº de herdeiros | Terras e escravos |
---|---|---|---|---|---|---|
ANTONIO DE LACERDA GUIMARÃES (pai) | 1850 | Jundiaí (SP) | 34:138$436 | 3:131$843 | 5 | 1 propr. em Jundiaí e 19 escravos |
MARIA FRANCO (mãe) | 1861 | Jundiaí (SP) | 65:059$000 | 11:501$800 | 5 | 1 propr. em Jundiaí e 22 escravos |
JOAQUIM FRANCO DE CAMARGO (sogro) | 1861 | Limeira (SP) | 990:447$327 | 27:000$000 | 18 | 5 propr. em Limeira, 2 propr. em Rio Claro e 182 escravos |
CLARA MIQUELINA (esposa de José de Lacerda Guimarães) | 1864 | Limeira (SP) | 202:333$298 | 11:240$738 | 9 | 1 propr. em Limeira, 1 propr. em São Carlos (SP) e 55 escravos |
Fonte: Inventário de Antonio de Lacerda Guimarães (Jundiaí, 1853); Inventário
de Dona Maria Franco (Jundiaí, 1861); (
*Propr. = propriedade agrícola
Este mecanismo de financiamento se constituía como uma alternativa a escassez de bancos
na província de São Paulo, que na década de 1870 contava com apenas três casas
bancárias. Ademais, como Marcondes
A Lacerda & Irmão foi a primeira materialização do traço característico dos investimentos a serem empreendidos pelos Lacerda Franco: o associativismo. Para abastadas famílias paulistas, em um contexto de surgimento dos bancos, que viriam a formar um sistema bancário paulista não antes da década de 1880, formar sociedades e empresas passava muito mais por uma questão de rearranjo da riqueza e associação de capitais familiares do que pela busca do crédito institucional.
A consolidação do Oeste Paulista como principal zona produtora de café passou pela
conjunção de diversos fatores: a disponibili dade de terras férteis no interior de São
Paulo, com boa topografia e elevada produtividade inicial, o que possibilitava a
expansão da fronteira do café de forma incessante; a implementação das ferrovias
Tamanha evolução do plantio cafeeiro em São Paulo demandou a superação de vários
obstáculos que, à medida que eram sobrepujados, tornavam-se oportunidades para
indivíduos empreendedores. Financiamento da lavoura, abastecimento das fazendas e de
seus trabalhadores, escoamento da produção no mercado interno e externo, serviços
públicos nos centros urbanos que cresciam junto à expansão do café – principalmente a
cidade de São Paulo – foram atividades que nasceram atreladas aos bons resultados da
lavoura cafeeira, converteram-se em opções de investimento e, posteriormente, haveriam
de se consolidar como importantes ramos da economia paulista. A partir da década de
1870, as ferrovias, bancos, casas comissárias, comércio de importação e exportação,
empresas de serviços públicos e indústrias formaram o
A economia cafeeira engendrou um circuito de produção e comercialização do café no
século XIX cujos agentes eram os seguintes: fazendeiro, comissário e exportador.
A relação entre as casas comissárias e os produtores era regulada pelo
Dentre as principais casas comissárias paulistas na década de 1880 constava a firma
J. F. de Lacerda & Cia., empresa situada na cidade de Santos (Rua do Santo
Antonio, número 50) e com uma representação na capital do Império,
Ademais, a J. F. de Lacerda & Cia. era, além de casa comissária, firma
exportadora, com uma filial na cidade portuária francesa de Le Havre, montada em 1884
com um capital social de 1 milhão de francos em uma localização que se justificava
pelo fato de a França ser o principal destino do café saído de Santos,
CASA EXPORTADORA | SACAS CAFÉ |
---|---|
1 - J. F. de Lacerda & Cia. (Brasil) | 225.468 |
2 - Zerrener Bülow & C. (Alemanha) | 204.395 |
3 - Holworthy &Ellis (Inglaterra) | 119.983 |
4 - Hard Hand & C. (Estados Unidos) | 118.526 |
5 - John Bradshaw & C. (Estados Unidos) | 114.027 |
6 - John Ford & C. (Estados Unidos) | 100.787 |
7 - Felix Sawen (França) | 91.900 |
8 - Arbuckle Brothers (Estados Unidos) | 77.473 |
9 - A. Trommel & C. (Alemanha) | 76.853 |
10 - Berla Cotrim & C. (Alemanha) | 75.268 |
11 - Augusto Leuba & C. (França) | 73.191 |
12 - Theodor Wille & C. (Alemanha) | 71.710 |
13 - Outros (16 casas exportadoras) | 307.595 |
TOTAL | 1.657.176 |
Fonte: Relatório ACS (1886, Anexo 13).
Pela tabela acima, evidencia-se o predomínio estrangeiro no controle das exportações
de café através de Santos.
Ademais, a
Operando na compra (Oeste Paulista) e venda (Santos) do café no Brasil e, através de filial estrangeira, fazendo parte do circuito de exportação da rubiácea, a J. F. de Lacerda & Cia. habilitou-se a estar na ponta final da cadeia de comercialização do café, onde se localizavam as maiores cotações do produto e, por conseguinte, os maiores lucros. Aliás, agregar a função exportadora aos negócios era tarefa hercúlea, pois demandava uma ampla escala e controle dos negócios, necessários para articular as operações comerciais de longa distância. Além disso, fazia-se imperativo ter acesso a fontes de financiamento para adquirir grande volume de café no Brasil, a fim de ser exportado e armazenado com vistas a vendas futuras, quando as cotações do produto fossem ascendentes.
Através da conta corrente de José de Lacerda Guimarães, cafeicultor e um dos sócios
da J. F. de Lacerda & Cia., notamos o movimento sincrônico entre a formação de
sete novos bancos na Província de São Paulo durante a década de 1880, totalizando dez
bancos comerciais, e a expansão das atividades da casa comissária e exportadora dos
Lacerda Franco, que intermediava o crédito ao fazendeiro, levantando capitais junto
às casas bancárias e emprestando a juros mais elevados aos produtores rurais
correntistas da comissária (
Ao galgar postos na comercialização do café, com a liderança da J. F. de Lacerda
& Cia., os Lacerda Franco consolidaram sua posição como membros do grande capital
cafeeiro, não mais se prendendo à lavoura como base exclusiva para formação de seus
lucros.
A grande acumulação no centro do complexo econômico cafeeiro permitiu ao capital
empregado na atividade-eixo desdobrar-se em capital industrial, a fim de dar vazão
aos lucros do café e diversificar as fontes de investimento a partir da década de
1880 (
Em 1887, a Lacerda, Camargo & Cia. era uma das firmas industriais que atuava no
setor de bens de capital paulista – situava-se na cidade de São Paulo, na freguesia
de Santa Ifigênia –, sendo composta
Havia uma complementaridade entre a fabricação e a importação de máquinas, pois as
matérias-primas vinham em grande parte do exterior, bem como os bens de capital
(maquinário mais complexo) que eram instalados nas fundições paulistas (
Em 31 de dezembro de 1892, a Companhia Mecânica e Importadora de São Paulo, pertencente ao italiano Alexandre Siciliano, e que se tornaria a principal firma industrial de São Paulo no começo do século XX, adquiriu a Lacerda, Camargo & Cia. pelo valor de 1.100 contos de réis. A oferta que induziu os membros da família Lacerda Franco à venda foi tentadora, afinal, os ativos da firma negociada somavam Rs.: 491:567$240 e eram compostos de: terrenos na cidade de São Paulo que se espalhavam entre o bairro de Santa Ifigênia e o Brás, fábrica, fundição, armazém, casas, máquinas, armação das oficinas, utensílios do armazém, utensílios e móveis das oficinas, modelos de madeira para fundição e caixas de ferro (LIQUIDAÇÃO LACERDA, CAMARGO & CIA, São Paulo, 1892).
Novos bancos surgiram em São Paulo no início da República em virtude da legislação
bancária de janeiro de 1890. Estas reformas ampliaram o mercado creditício e
facilitaram a formação de sociedades anônimas, ao estabelecer a responsabilidade
limitada para os acionistas das empresas e a permissão aos bancos de emissão, o que
antes era facultado somente ao Banco do Brasil (
Em 31 de janeiro de 1890, Antonio de Lacerda Franco, novamente valendo-se dos
capitais e da rede de relacionamento formada junto à J. F. de Lacerda & Cia., em
que era sócio e gerente, uniu-se ao coronel João Baptista de Mello Oliveira (presente
na Companhia Paulista de Estradas de Ferro, Companhia Carris de Ferro de São Paulo e
no Banco do Comércio e Indústria de São Paulo), cujos sobrinhos tinham ligação com os
Lacerda Franco, não olvidando que seu irmão Justiniano recebera mais de 50 contos de
réis de um empréstimo junto ao The New London and Brazilian Bank intermediado pela
casa comissária.
Com seções comercial, hipotecária, industrial e construtora, o banco União de São
Paulo tinha sua sede na capital do Estado à Rua 15 de Novembro, número 37. Possuía
também uma caixa filial em Curitiba; agências nas cidades paulistas de Santos,
Campinas e Rio Claro; e correspondentes no Rio de Janeiro (que coincidentemente era a
casa comissária e exportadora J. F. de Lacerda & Cia.), no Sul (Banco Emissor do
Sul e suas filiais), no interior de São Paulo (Sorocaba, Itatiba, São João da Boa
Vista, Lorena, Espírito Santo do Pinhal e Jaboticabal). Emitia saques e cartas de
crédito sobre suas agências e correspondências (
O banco União era uma sociedade por ações presidida por Antonio de Lacerda Franco
(senador estadual em 1892, e que chegou ao senado federal no período entre 1924 e
1930; membro da comissão executiva do PRP entre 1901-1906 e 1914-1927) e outros
membros do grande capital cafeeiro que, além de robustos economicamente, tinham
grande influência política no Partido Republicano Paulista (PRP), evidenciada pelos
nomes que foram eleitos para a primeira diretoria do banco em 4 de maio de 1890: João
Baptista de Mello Oliveira (um dos fundadores do PRP e senador estadual entre
1892-1903, vice-governador de São Paulo entre 1904-1908); Joaquim Lopes Chaves
(senador estadual em 1894 e 1901 e cunhado de Américo Brasiliense); Antonio Paes de
Barros (senador estadual em 1903, filho do Barão de Piracicaba e sobrinho do
brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar); Bento Quirino dos Santos (vereador por São Paulo
e presidente da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro); João Tobias de Aguiar e
Castro (senador estadual em 1892, filho da Marquesa de Santos e do brigadeiro Rafael
Tobias de Aguiar); e Vitoriano Gonçalves Camilo. Este peso político-econômico
possibilitou ao União de São Paulo aparecer como o detentor do maior ativo, com
112.000 contos de réis, entre os bancos paulistas em 1892 (
BANCO | FUNDAÇÃO | CIDADE | ATIVO (contos de réis) |
---|---|---|---|
Banco União de São Paulo | 1890 | São Paulo | 112.000 |
Banco de Crédito Real/Banco Comercial | 1882/1886 | São Paulo | 65.000 |
Banco dos Lavradores | 1890 | Campinas | 39.000 |
Banco do Comércio e Indústria de São Paulo | 1890 | São Paulo | 34.000 |
Banco de São Paulo | 1890 | São Paulo | 29.000 |
Banco do Brasil/Banco Construtor e Agrícola | 1856/1890 | São Paulo | 21.000 |
Banco Mercantil de Santos | 1872 | Santos | 21.000 |
Banco de Santos | 1890 | Santos | 12.000 |
Banco União de São Carlos | 1892 | São Carlos | 11.400 |
Banco Melhoramentos de São Paulo | 1890 | São Paulo | 9.000 |
Fonte:
Acompanhando a trajetória de acumulação da família Lacerda Franco durante todo o século XIX, notamos que o associativismo, a base econômica no Oeste Paulista e a rede de relacionamentos formada a partir daquela região, foram elementos-chave para que houvesse uma dinamicidade no processo de evolver econômico familiar que se deu em três fases.
As origens remontam ao início dos oitocentos, nas terras próximas da cidade de São Paulo, com atividades voltadas ao mercado interno (cultura de mantimentos, criação e comércio de animais, aguardente) e se estendem até a década de 1820, marcada pelo deslocamento de Joaquim Franco de Camargo às terras do Oeste Paulista. Por volta de 1850, Joaquim havia se tornado grande proprietário de escravos e lavouras, primeiro a açucareira e, por volta de 1850, elas haviam se convertido em cafezais. Seu êxito na fronteira atraiu membros da família (os irmão Bento e José de Lacerda Guimarães) que, no afã de se tornarem igualmente proprietários de terras, repetiram sua trajetória, só que agora respaldados pelo cabedal familiar.
A partir deste ponto, o associativismo manifestou-se de forma clara nas escolhas econômicas dos Lacerda Franco. Com o fito de aumentar ainda mais sua riqueza e a amplitude de seus negócios, a lógica do associativismo familiar levou à constituição de sociedades que contavam prioritariamente com parentes, estratégia que possibilitou vencer a escassez de crédito e de um sistema bancário na economia paulista. Inicialmente, houve a formação de sociedades agrícolas. Depois, os Lacerda Franco alcançaram o topo da exportação do café em Santos, com a casa J. F. de Lacerda & Cia. Essa estratégia do associativismo foi replicada na Lacerda, Camargo & Cia., firma industrial que representou a possibilidade de continuar a diversificação dos ganhos e obtenção de grandes retornos em curto espaço de tempo. Os capitais, rede de relacionamento e expertise gerada à frente do principal investimento familiar, a casa comissária e exportadora J. F. de Lacerda & Cia., tiveram, da mesma forma, relevância na formação do Banco União de São Paulo, a única sociedade acionária analisada e que foi o maior banco paulista de investimentos industriais.
BENS | Réis (Rs.) | % em relação à riqueza bruta |
---|---|---|
Imóveis na Cidade de São Paulo | 485.525.160 | 8,3 |
Fazenda Montevidéo (Araras-SP) | 332.160.800 | 5,7 |
Benfeitorias Fazenda Montevidéo | 478.148.000 | 8,1 |
Cafezais Fazenda Montevidéo | 983.290.200 | 16,7 |
Animais Fazenda Montevidéo | 24.935.000 | 0,4 |
Outros Imóveis em Araras-SP | 46.389.000 | 0,8 |
Terras em Ibitinga-SP | 285.000 | 0 |
Jóias | 5.085.000 | 0,1 |
Ações de Bancos e Companhias | 2.430.505.500 | 41,4 |
Dívidas Ativas | 953.582.906 | 16,2 |
Dinheiro | 136.711.346 | 2,3 |
RIQUEZA BRUTA | 5.876.617.912 | 100 |
MEAÇÃO | 2.899.228.532 | 50 |
LEGÍTIMA | 223.017.579 | 3,8 |
Fonte: INVENTÁRIO BARÃO DE ARARY (1897).
Obs.: os valores referentes ao mobiliário existente nas propriedades do Barão de Arary, tanto na cidade de São Paulo quanto no município paulista de Araras, estão inclusos na soma dos valores dos imóveis nestas localidades.
Por fim, concluímos que a dinamicidade da riqueza em São Paulo caminhou ao par com a
transição rumo ao capitalismo e suas formas de acumulação. Ao final do século XIX,
findado o regime escravista, com a intensa valorização fundiária – no interior para
formar cafezais e na capital para construir a morada dos endinheirados – e com a difusão
das sociedades por ações (bancos, ferrovias e indústrias) na economia paulista, a
riqueza de José de Lacerda Guimarães, o Barão de Arary, concentrava-se em papéis de
empresas,
Um trabalho que se debruça sobre a acumulação de capital em São Paulo na primeira
metade do século XIX é: ARAÚJO, M. L. V.
O artigo vai retratar o processo de acumulação de alguns membros da família Lacerda
Franco, sendo escolhidos os que saíram de Atibaia e Jundiaí, dirigiram-se à vila de
Limeira e formaram fazendas nesta localidade e em Araras, onde se situa a Fazenda
Montevidéo, que foi propriedade de José de Lacerda Guimarães (o Barão de Arary),
local em que foi arrolada grande parte da documentação da família Lacerda Franco e de
seus investimentos no século XIX. O trabalho não tem a pretensão de abordar a
trajetória econômica de toda a família, tendo nossa escolha pelos indivíduos
demonstrados na genealogia resumida se pautado nas ligações estreitas entre estes
familiares e a existência de documentos que comprovam suas ações econômicas. Sobre a
genealogia ampliada da família Lacerda Franco ver SILVA, G. P.
Havia uma simbiose entre lavoura açucareira e a cultura de mantimentos que pode ser
demonstrada pelos seguintes números: o milho era a cultura mais produzida na
província de São Paulo em 1836, e do Oeste Paulista, principal região açucareira,
eram oriundos 45,8% do cereal (
Na vila de Atibaia, mais exatamente no ano de 1803, deu-se a constituição da família Lacerda Franco. Esta nova família surgiu da união de duas anteriores: os Franco de Camargo com os Lacerda Guimarães. A união se deu pelo matrimônio de Ignacio Franco de Camargo com Anna Maria da Conceição. Ele era filho de Chrispim da Silva Franco, um dos capitães de ordenanças atibaiense e grande proprietário rural escravista. Por sua vez, ela era viúva de Francisco Corrêa de Lacerda. Dentre os 10 filhos do novo casal – 7 da parte de Ignacio e 3 de Anna Maria – nossa atenção vai recair sobre o enteado Antonio de Lacerda Guimarães (filho de Anna com seu esposo Francisco Corrêa) e Maria Franco (filha de Ignácio com sua primeira esposa Gertrudes Pires), pois em 1813, na mesma vila, eles se casaram, matrimônio que serviu para cimentar a formação da nova família. O outro filho que haverá de ter sua trajetória destacada será Joaquim Franco de Camargo, figura responsável por iniciar a migração dos Lacerda Franco pelo Oeste Paulista (filho de Ignacio com Gertrudes Pires). Outros familiares serão analisados, mas as relações de parentesco serão colocadas de acordo com a participação nos empreendimentos da família (MP ATIBAIA, 1803-1818).
Em 1836, o açúcar estava no topo das exportações efetuadas pelo porto de Santos e
96,8% desta produção vinha das fazendas do Oeste Paulista (
Os plantéis de cativos dos engenhos paulistas contavam em média com 22 escravos em
1809, número que se elevou a 30 para o ano de 1829. No entanto, distavam muito, por
exemplo, dos plantéis encontrados nas fazendas dos beneditinos em Pernambuco, entre
1783 e 1793, que variavam de 105 a 138 cativos, ou até mesmo da situação vista na
Bahia em 1816-1817, onde os engenhos de cana utilizavam uma média de 66 cativos
(
(
O desenvolvimento da cultura açucareira na vila de Mogi Mirim se daria, sobretudo, a
partir de 1836, sendo que, em 1854, de Mogi Mirim sairia mais de um quarto de todo o
açúcar paulista (
(
Até 1799, no Oeste Paulista se contabilizavam 5 vilas. Mas, com o forte
desenvolvimento da cultura açucareira na região, na primeira metade do século XIX
surgiram outras 9 (
No ano de 1826, foi construída a capela de Nossa Senhora das Dores de Tatuibi,
considerado o marco inicial do povoamento de Limeira; em 1830, foi constituída a
freguesia de Tatuibi – com forte pressão no governo provincial exercida pelo senador
Vergueiro – pertencente a vila de Constituição (Piracicaba); e, em 1842, foi
constituída a vila da Limeira, a partir do desmembramento de terras pertencentes à
vila de Constituição (
A ascensão nos quadros militares do Reino estava ligada à experiência militar obtida
em campanhas bélicas ou cargos menores, mas também à abastança de bens do indivíduo
e, no caso da metrópole, à hereditariedade (
Os Maços de População da vila de Limeira, documentos que poderiam retratar de forma pormenorizada a evolução econômica de Joaquim Franco de Camargo naquela localidade, encontram-se incompletos no Arquivo Público do Estado de São Paulo e, pelo fato da localidade ser mais recente, em menor número quando comparados aos de Atibaia e Jundiaí, além destes últimos se encontrarem mais legíveis. Esta condicionalidade nos impede de abordar todo o evolver de Joaquim como proprietário rural, entre 1830-1861, na vila de Limeira. Todavia, pensamos que nossa análise de seu enriquecimento não é invalidada, pois, tentamos cobrir estas lacunas com outras fontes documentais, por exemplo, com o Registro de Terras de 1854-1855 das vilas de Limeira e Rio Claro.
O valor de dois contos de réis era suficiente, por exemplo, para comprar 10 escravos
em Minas Gerais por volta de 1830 (
A média de escravos na Província de São Paulo no ano de 1829 era de 31 escravos por
engenho, enquanto que a média do Oeste Paulista, que concentrava aproximadamente 80%
dos engenhos, era de 32 cativos por unidade. Dessa forma, entendemos que os 37
escravos de Joaquim Franco de Camargo, no ano de 1835, colocavam-no entre os grandes
proprietários paulistas (
Segundo
As terras que compunham a Fazenda das Araras eram originárias da sesmaria de Alexandre de Góes Maciel e dele compradas por Joaquim Franco de Camargo, operação registrada no cartório da vila de Rio Claro (REGISTRO TERRAS RIO CLARO, 1855).
O Sítio Confim é resultado da compra de terras que Joaquim Franco de Camargo fez do casal José de Siqueira Lima e Ambrozina Celestina de Camargo (REGISTRO TERRAS RIO CLARO, 1855).
A Fazenda do Morro Azul resultou da compra das terras que formavam a sesmaria de Ignacio de Barcellos Leite, cuja escritura foi lavrada no cartório da vila de Mogi Mirim (REGISTRO TERRAS LIMEIRA, 1855).
A Fazenda Montevidéo resultou da compra de terras que antes pertenciam a Rafael da Silva Franco, transação registrada no cartório de Mogi Mirim (REGISTRO TERRAS LIMEIRA, 1855).
Na classificação estabelecida por Milliet, as grandes propriedades cafeeiras em São
Paulo teriam até 500 alqueires e as que excedessem esta área ele as classificava como
latifúndios (
Na década de 1830, o Brasil alcançara o posto de maior produtor mundial de café
superando Cuba e Haiti (
Em 1886, a produção do Vale do Paraíba recuou para menos de 20% do café produzido em
São Paulo, ao passo que das fazendas do Oeste Paulista saiu quase 75% do café da
província (
A endogamia exercia papel-chave na seleção dos cônjuges na sociedade colonial
paulista, uma vez que era fundamental garantir que os herdeiros só se unissem a
outrem do mesmo nível social, pois como afirma
Em que pese não haver uma regulamentação, o dote era geralmente composto por:
escravos, terras, mobílias, moeda corrente, ou seja, os pertences de valor das
famílias de elite. Os grandes senhores, sem maiores preocupações em dividir
igualmente os valores cedidos no dote aos seus filhos, destacavam-se, em alguns
casos, pela cessão de propriedades inteiras no dote. Por outro lado, além da riqueza
do proprietário permanecer em família, este genro poderia administrar a nova
propriedade, pois o grande fazendeiro permanecia na propriedade original (
A formação de sociedades agrícolas buscava ampliar o acesso ao crédito, melhorar a
produtividade das lavouras com ganhos de escala e ter maior volume de café em mãos
para obter posição de vantagem no momento da venda do produto (
(
Anteriormente, o transporte do café era feito no lombo de mulas e por escravos – o
que ocupava cerca de um terço da escravaria das fazendas – e, por exemplo, os fretes
do café saído de Rio Claro a Santos representavam aproximadamente metade de seu preço
de exportação (
De modo geral, o fazendeiro enviava seu café ao comissário que cobrava uma comissão
de 3% para vender o café aos exportadores. Os exportadores compravam o café já
ensacado e pagavam os comissários em 30 dias (
No Oeste Paulista, a maior inserção do comissário no mundo do fazendeiro (produção)
se deu a partir de 1850, quando, necessitando de aportes de capital para constituir
novos cafezais em terras virgens, os produtores se valeram dos recursos fornecidos
pelos comissários como complemento aos capitais próprios (
Na capital do Império, a J. F. de Lacerda & Cia. situava-se na rua da Alfândega,
nº 15 (ANUÁRIO LAEMMERT, 1889, p. 767). Segundo
O capital de 600 contos arrolado pelos Lacerda Franco para criar sua casa comissária
é condizente com a quantia que foi integralizada para formar sua congênere, a Prado
Chaves & Cia. em 1887, que se tornaria a principal casa comissária e exportadora
do Brasil na primeira década do século XX e que teria sido constituída com um capital
de 500 contos de réis (
Do café exportado por Santos no segundo semestre de 1886, para a França seguiram 328.779 arrobas, vindo logo atrás a Alemanha com 314.163 arrobas e em terceiro os Estados Unidos com 231.913 arrobas (RELATÓRIO ACS, 1886, p. 56).
De fato, as casas estrangeiras tinham um domínio na exportação do café que se manteve
nas décadas de 1890 e 1900. Contemplando o período 1895-1907, vemos que há uma
concentração neste ramo, pois 70% do café foi exportado pelas dez maiores firmas,
sendo que só uma delas era brasileira, a Prado Chaves & Cia., figurando na sétima
posição com menos de 4% do total de café exportado no período em questão. Esta firma,
fundada em 1887, reunia membros da rica e influente família Prado (Antonio, Martinho
e Martinico), Antonio Elias Pacheco e Chaves e Elias Fausto Pacheco Jordão. Aliás,
entre 1895-1899, de 34 firmas exportadoras de café em Santos, a Prado Chaves &
Cia. ficou na trigésima posição, com pouco mais de 30 mil sacas exportadas (
Na vila paulista de São Carlos, os irmãos Antonio, José e Candido Franco de Lacerda – filhos de José de Lacerda Guimarães – formaram, em 1874, a Lacerda & Irmãos, uma sociedade agrícola com capital de 200 contos de réis e destinada ao plantio e venda de café nas terras da Fazenda Paraizo (LACERDA & IRMÃOS, 1881).
Em 5 de agosto de 1888, a J. F. de Lacerda & Cia. acionou judicialmente a sociedade agrícola Bento Pupo & Cia., que tinha como sede um sítio localizado na cidade paulista de Campinas. A sociedade campineira era gerenciada por Bento Pupo Nogueira e contava também com Angela Izabel Nogueira. Em 30 de junho de 1887, quando da apuração da conta corrente que a sociedade campineira mantinha na J. F. de Lacerda & Cia. em Santos, verificou-se um saldo a favor da casa comissária no valor de Rs. 5:022$550. Este valor foi acrescido em Rs. 602$700, em virtude dos juros de 12% cobrados pela casa comissária referentes ao período de um ano que correra entre 30 de junho de 1887 e 30 de junho de 1888, totalizando então Rs. 5:625$250 (CMU, 1888).
A vila paulista de Araras, formada em 1871 do desmembramento de terras da vila de Limeira, tornou-se o centro político-econômico dos Lacerda Franco, sobretudo pelo fundamental papel exercido pelos irmãos Bento e José de Lacerda Guimarães ao doarem parte de suas terras para a formação da localidade. Uma vez constituída a vila, esta preponderância se manteve e foi estendida à posição dominante que a família Lacerda Franco teve na condução da política local, com vários de seus membros dominando uma Câmara Municipal que contava em seus primeiros anos com figuras do peso de Martinho Prado Junior. Tamanho peso político-econômico no município foi ratificado em 7 de maio de 1887, quando José de Lacerda Guimarães recebeu o título de Barão de Arary, mesma data em que seu irmão Bento de Lacerda Guimarães recebeu o título de Barão de Araras.
(
Os pais de Justiniano e João Baptista de Mello Oliveira foram: o coronel José
Estanislau de Oliveira, nascido em São Paulo em 1803, e falecido em Rio Claro em
1884, com 81 anos, e Elisa de Melo Franco, nascida em Goenttingen, Alemanha, em 1806,
e falecida em Rio Claro em 1891, com 85 anos. Seus pais foram os primeiros Barões de
Araraquara e segundos Viscondes de Rio Claro (
(
(BALANÇO PATRIMONIAL J. F. DE LACERDA & CIA., 1879-1881).
(NOTAS BANCÁRIAS JLG, 1885-1886). O facilitado acesso ao crédito institucional por parte de José de Lacerda Guimarães pode ser explicado, pelo menos em parte, pelo fato de ele ser um comerciante registrado na Junta Comercial do Rio de Janeiro desde 21 de outubro de 1881 (JLG CARTA COMERCIANTE, Rio de Janeiro, 1881).
Um exemplo da atuação de uma casa exportadora estrangeira no Brasil é o da alemã
Theodor Wille & Cia., cujo capital vinha da matriz em Hamburgo e das fortes
ligações financeiras com o Brazilianische Bank für Deutschland, também daquela
cidade. Além disso, Theodor Wille era acionista do Banco Anglo-Alemão e do London
& Hanseatic Bank. Na década de 1880, a casa exportadora Theodor Wille & Cia.
tinha representações na Áustria, Itália, cobrindo pouco tempo depois os países
mediterrânicos e o Egito (
Segundo
A conjuntura do mercado cafeeiro na década de 1880 foi extremamente favorável, pois
este foi o único decênio, entre 1856 e 1900, em que a demanda mundial superou a
oferta (
Segundo uma demonstração elaborada por
A origem da Lacerda, Camargo & Cia. ocorreu três anos antes, em 5 de fevereiro de
1884, quando Joaquim Franco de Camargo Junior se associou ao caldeireiro suíço João
Arbenz para formar a Arbenz & Cia., uma fundição que também era importadora de
máquinas e que exemplifica as raízes do empresariado paulista: a expertise industrial
do estrangeiro e o capital nacional vindo dos negócios cafeeiros (
Entre 1882-1887, das mercadorias importadas de forma direta através do Porto de
Santos, a principal rubrica foi
(
Os Decretos nº 164 e 165, de 17 de janeiro de 1890, estimularam as sociedades
anônimas com a possibilidade de negociar suas ações apenas com a integralização de
10% do capital subscrito pelos incorporadores. Esta medida foi revista em outubro do
mesmo ano, já sob efeito da onda especulativa que começava a assolar a praça
financeira do Rio de Janeiro, elevando a quota mínima de capital subscrito para 40%.
Entretanto, a especulação financeira não foi detida, e o ano de 1892 marcou o auge do
Encilhamento (
Os negócios de Antonio de Lacerda Franco a frente da J. F. de Lacerda & Cia. foram de suma importância à construção de uma rede de captação e concessão de crédito de que se valeu para formar o capital de sua casa bancária, uma vez que conhecia quem necessitava de empréstimos e, ao mesmo tempo, os detentores de riqueza dispostos a adentrar em um recém-criado banco que rapidamente se tornou o maior dentre as instituições bancárias criadas em São Paulo no início da República. Aliás, José de Lacerda Guimarães, tio e sócio de Antonio na casa comissária e exportadora, em carta de 1895, acusava-o de desviar dinheiro da J. F. de Lacerda & Cia. para a formação do Banco União de São Paulo (CARTA JLG, 1895).
Grande parte das informações adiante sobre o Banco União de São Paulo vêm de duas
fontes: (
A atuação do banco União de São Paulo como casa bancária emissora não se prolongou.
Outros dois bancos universais foram criados em São Paulo: o Banco de Santos e o Banco
de Crédito Real, entretanto, o União de São Paulo foi o maior dentre eles. Sua
diferença de atuação em relação aos bancos comerciais estava em divergir do foco das
atividades empreendidas pelas casas bancárias comerciais rotineiramente: o mercado de
crédito de curto prazo (
O banco União de São Paulo abandonou a intermediação financeira em 1906 e se fixou em seu portfólio industrial, cujo principal investimento foi um complexo têxtil localizado ao lado de Sorocaba, que contava com usina hidrelétrica própria, ferrovia, vila de operários, fornos de cal e outras benfeitorias que constituíam a Fábrica Têxtil Votorantim, a segunda maior fábrica de São Paulo em 1917, ano em que, com a falência do banco União, foi adquirido em leilão por Francisco Scarpa e Antonio Pereira Ignacio, o fundador do atual Grupo Votorantim.
As empresas nas quais José de Lacerda Guimarães tinha participação acionária eram: Banco do Comércio e Indústria de São Paulo, Banco União de São Paulo, Banco de Santos, Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais, Companhia Estrada de Ferro do Muzambinho, Companhia Carris de Ferro de São Paulo a Santo Amaro, Companhia Mecânica e Importadora de São Paulo, Companhia Fabril Paulistana, Companhia Lacerda e Companhia Paraná Industrial.