Este obscuro objeto da citação literária: para uma fenomenologia da intertextualidade no cinema de João César Monteiro
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2013.69537Palavras-chave:
João César Monteiro, intertextualidade heteromedial, disjunção áudio/visual, adaptação cinematográfica, cinema anti-ilusionistaResumo
Embora a poesia, ou melhor, a literatura tout court seja omnipresente na obra de João César Monteiro, a sua praxis cinematográfica torna visível a impossibilidade de a filmar. A recusa da ilustração dos textos literários e a constatação da falta de qualquer correspondência possível entre a palavra e a imagem não é mais do que a demonstração da incapacidade do cinema de filmar a poesia e da inutilidade de persegui-la, porquanto “o que é filmável é sempre outra coisa que pode ou não ter uma qualidade poética” (Monteiro, 1974, p. 115). Tudo isto se manifesta desde Sophia de Mello Breyner Andresen (1969) até à adaptação de Branca de Neve (2000) de Robert Walser, filme este que realiza a profecia monteiriana, segundo a qual “o cinema é o verbo [...] e o verbo feito cinema verá atestar, à la limite, na superfície negra de um écran, a morte do cinema e o seu renascimento” (Monteiro, 1969, in Nicolau (org.), 2005a, p. 105). A obra de Monteiro representa uma das explorações mais agudas do campo da “reescrita” por imagens e palavras de textos literários. De facto, o objetivo deste ensaio reside na análise semiótica de algumas das principais estratégias através das quais a literatura se manifesta no cinema monteiriano, para que possamos traçar uma breve e sumária fenomenologia das relações intertextuais que se instauram entre as palavras da literatura e as imagens do cinema, destacando em particular modo as relações “anti-ilusionistas” provocadas pela progressiva discrepância da banda visual com a sonora: desde as interrupções caracterizadas por imagens insólitas e imprevistas, pelas quais à opacidade das imagens se contrapõe a transparência do som, até chegar à cegueira do écran preto.
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