A doméstica como síntese do racismo brasileiro: discurso, formas de vida e cultura

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2021.181055

Palavras-chave:

Racismo, Formas de vida, Cultura, Discurso, Doméstica

Resumo

Este trabalho se divide em duas partes. Uma primeira discussão, de base teórica, cujo objetivo é apresentar os contornos e desafios de uma semiótica contemporânea, que se debruça sobre as novas demandas da sociedade, descrevendo como se constrói o sentido das práticas e das formas de vida. Nesse caso, queremos demonstrar que a semiótica discursiva não recusa a história, não recusa a dimensão social e cultural do discurso, porque toma o sentido como seu objeto, na tensão entre o social e o individual, na temporalidade do mundo e do próprio discurso. Uma segunda parte que apresenta uma reflexão sobre o estatuto semiótico do lexema “doméstica”, buscando dar conta das espessas e resistentes camadas de sentido que sustentam os seus usos na sociedade brasileira, ligados a universos de valores, práticas sociais e formas de vida profundamente marcados pelo racismo e pelo preconceito de classe.

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Biografia do Autor

  • Matheus Nogueira Schwartzmann, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"

    Docente da Faculdade de Ciências e Letras (FCL-Assis) e do Programa de Pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa (FCLAr), da Universidade Estadual Paulista (UNESP), São Paulo, Brasil.

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Publicado

2021-08-13

Edição

Seção

Cultura, engajamento e política

Como Citar

A doméstica como síntese do racismo brasileiro: discurso, formas de vida e cultura. (2021). Estudos Semióticos, 17(2), 219-241. https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2021.181055