Automutilações na adolescência: reflexões sobre o corpo e o tempo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v26i1p129-144

Palavras-chave:

Automutilação, Adolescência, Corpo, Arcaico

Resumo

O objetivo deste artigo é analisar o fenômeno das automutilações na adolescência a partir da articulação do registro do corpo à dimensão arcaica do tempo. As automutilações se caracterizam pelo ato de ferir o próprio corpo voluntariamente, sem intenção consciente de morte. É através do corpo que se manifesta um sofrimento que ultrapassa os limites psíquicos do sujeito, encontrando uma via de expressão radical daquilo que o faz sofrer. O caráter radical desta resposta aponta para a complexidade dos primórdios da constituição psíquica. Neste cenário, propõe-se compreender as automutilações na adolescência como uma via atual através da qual algumas vivências da ordem do arcaico se apresentariam. Elas conjugariam, em um curto-circuito do tempo, passado e presente, abrindo caminhos para a ressignificação de vivências irrepresentáveis.

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Biografia do Autor

  • Natália de Oliveira de Paula Cidade, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    Psicóloga clínica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e bolsista CAPES. Doutorado com período sanduíche na Université Paris-Descartes (Paris V) sob co-orientação do professor Alberto Konicheckis com bolsa CAPES/PDSE. Durante o período sanduíche, realizou estágio clínico na Maison de Solenn (Maison des adolescents - MDA), unidade de saúde vinculada ao hospital universitário Cochin e a Université Paris-Descartes (Paris V), voltada exclusivamente para o atendimento de adolescentes, sob orientação da professora Marie Rose Moro. Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio (2016), bolsista CNPq. Possui especialização pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro - IPUB/UFRJ (2014). Graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (2011). Membro do Laboratório de Pesquisa Constituição Psíquica e Clínica Psicanalítica (LabPsi) desde 2016. Atua na área de Psicologia Clínica e Psicanálise com adultos e adolescentes.

  • Silvia Maria Abu-Jamra Zornig, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

    Pós-Doutora em Saúde da Criança e da Mulher pelo Instituto Fernandes Figueira/FIOCRUZ, bolsista CNPq. Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Mestre em Saúde Mental pela Columbia University, New York. Professora Associada do Programa de Pós-Graduação e Graduação em Psicologia Clínica da PUC-Rio. Coordenadora do Curso de Especialização em Psicologia Clínica com crianças da PUC-Rio. Membro do GT da ANPEPP, Parentalidade e Desenvolvimento Infantil em diferentes contextos. Co-coordenadora do acordo internacional estabelecido entre o Laboratório de Psicopatologia, Psicanálise e Perinatalidade, da Universidade Paris-Descartes e a PUC-Rio. Coordenadora nacional da pesquisa internacional sobre O Brincar, Arte e Criação, estabelecida com o Centro de Pesquisa em Psicopatologia e Psicologia Clínica da Universidade Lumière Lyon 2. Professora visitante do Instituto de Psicologia da Universidade Paris-Descartes (2013, 2014, 2015, 2016) e da Universidade Lumière Lyon 2 (2016, 2017). Coordenadora do Laboratório sobre Clínica Psicanalítica e Constituição Psíquica (LABPSI). Ex presidente ( 2008-2010) e membro fundador da Associação Brasileira de Estudos sobre o Bebê (ABEBE). Membro da World Association for Infant Mental Health (WAIMH). Membro da Associação Brasileira Universitária de Psicopatologia Fundamental. Membro-psicanalista da Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle. Membro do Comitê Editorial das revistas internacionais Cliniques e Champ Psychossomatique. Atua nas áreas de Psicologia, Psicanálise e Clínica da Infância e da Adolescência, desenvolvendo pesquisas sobre os processos de simbolização primários, clínica dos primórdios e o processo de construção da paternidade e da maternidade.

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Publicado

2021-04-29

Como Citar

Automutilações na adolescência: reflexões sobre o corpo e o tempo. (2021). Estilos Da Clinica, 26(1), 129-144. https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v26i1p129-144