Maracatu: uma marca cultural ibero-ásio-afro-ameríndia no carnaval do nordeste

Autores

  • Celso Luiz Prudente Universidade de São Paulo
  • Neudson Johnson Martinho Universidade Federal de Mato Grosso
  • Darcilene Célia Silva Centro Universitário Senac

DOI:

https://doi.org/10.11606/extraprensa2020.174628

Palavras-chave:

Maracatu, Pedagogia comunicacional, Carnaval, Africanidade, Solidariedade comunal

Resumo

O artigo demonstra que o Carnaval brasileiro tem origem no ocidentalismo caucasiano, ibérico e europeu. Iniciou com a violência dos ataques dos entrudos, que teve como ápice o ato de atirar sapatos nas visitas, fezes e urinas nos escravos que passavam. Isso era feito nos sobrados pelas moças recatadas das famílias patriarcais. Esse comportamento violento é amenizado com a influência francesa do confete e da serpentina, que foram trazidos pela missão francesa no início do século XIX. Isso foi amenizado, mas não superado, considerando que o sentido de ataque permaneceu no ato de atirar o confete e a serpentina nos dançantes de salão. A humanização no processo carnavalesco aconteceu somente com a pedagogia comunicacional do maracatu, oposta à violência caucasiana e considerada o mais antigo folguedo rural negro. Assim os negros incorporaram no Carnaval a corporalidade lúdico-músico-gregária de solidariedade comunal dos seus rituais.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Celso Luiz Prudente, Universidade de São Paulo

    Doutor em Cultura pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), pósdoutorado em Linguística pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp e professor associado da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Antropólogo, cineasta, curador da Mostra Internacional do Cinema Negro e pesquisador do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELACC), da ECA/USP, e apresentador do programa Quilombo Academia, da Rádio USP 93,7FM.

  • Neudson Johnson Martinho, Universidade Federal de Mato Grosso

    Doutor em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e professor adjunto da Faculdade de Medicina da UFMT. É também líder do Grupo de Pesquisas Multiprofissionais em Educação e Tecnologias em Saúde (PEMEDUTS) e pesquisador nas áreas de Educação e Saúde.

  • Darcilene Célia Silva, Centro Universitário Senac

    Bibliotecária pela Fundação Escola de Sociologia e Política (FESPSP) e teóloga pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, com pós-graduação em Arquivística pela FESPSP, em Negócios Imobiliários pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e em Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário Senac

Referências

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: https://bit.ly/3oPgqeq. Acesso em: 10 ago. 2020.

ANDRADE, Mário de. Danças dramáticas do Brasil. São Paulo: Limitada, 1982.

BARBOSA, Wilson do Nascimento; SANTOS, Joel Rufino. Atrás do muro da noite: dinâmica das culturas afro-brasileiras. Brasília, DF: Biblioteca Palmares, 1994.

BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia (rito nagô). São Paulo: Editora Nacional, 1961.

BRANCO, Lucio Allemand. Uma breve viagem à claustrofóbica antiesfera de Entre quatro paredes, de Jean-Paul Sartre, à luz do inferno dantesco de Peter Sloterdijk. Darandina Revisteletrônica, Juiz de Fora, v. 2, n. 2, p. 1-11, 2009.

COSTA, Haroldo. As escolas de Lan. Rio de Janeiro: Irmãos Vitale, 1978.

COSTA, Haroldo. Salgueiro: academia de samba. Rio de Janeiro: Record, 1984.

COSTA, Haroldo. 100 anos de Carnaval no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Irmãos Vitale, 2001.

COSTA, Haroldo. Salgueiro: 50 anos de glória. Rio de Janeiro: Record, 2003.

COSTA, Soldade Martinho. Festas e tradições portuguesas. Lisboa: Clara Saraiva, 2002.

DOM MARCOS. Do Iorubá ao reino de Oyó. [S. l., s. n.], 1981. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Cesar Zafani. Disponível em: https://bit.ly/3nwFbvT. Acesso em: 25 ago. 2020.

FOUCAULT, Michel. História da Loucura. 8. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.

FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES. Maracatu de Baque Solto. Brasília, DF, 2020a. Disponível em: https://bit.ly/3gLGyUJ. Acesso em: 25 ago. 2020.

FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES. Maracatu de Baque Virado. Brasília, DF, 2020b. Disponível em: https://bit.ly/3gLGyUJ. Acesso em: 25 ago. 2020.

GERMANO, Iris. O Carnaval no Brasil: da origem europeia à festa nacional. Caravelle, Toulouse, n. 73, p. 131-145, 1999.

GILIOLI, Renato Porto. Educação musical: a construção de uma identidade nacional brasileira excludente. In: PORTO, Maria do Rosário et al. (org.). Negro, educação e multiculturalismo. São Paulo: Panorama do Saber, 2002.

GÓES, Fred. Imagem do Carnaval brasileiro: do entrudo aos nossos dias. In: PEREIRA, Paulo Roberto. Brasiliana da Biblioteca Nacional: guia das fontes sobre o Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. p. 573-588.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Parecer do conselho consultivo sobre pedido de registro do Maracatu Nação. Brasília, DF, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3qVAEoK. Acesso em: 30 ago. 2020.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005. Disponível em: https://bit.ly/3a8I4ij. Acesso em: 31 ago. 2020.

MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003. Disponível em: https://bit.ly/37i1RtM. Acesso em: 20 mar. 2020.

PRUDENTE, Celso Luiz. Arquibancada alegre de reserva: escola de samba: uma contribuição ao estudo de alguns aspectos socioculturais para compreensão do dilema do negro brasileiro. São Paulo: Panorama do Saber, 2002a.

PRUDENTE, Celso Luiz. Mãos negras: antropologia da arte negra. 3. ed. São Paulo: Panorama do Saber, 2002b. v. 1.

PRUDENTE, Celso Luiz. Arte negra: alguns pontos reflexivos para a compreensão das artes plásticas, música, cinema e teatro. Rio de Janeiro: Ceap, 2007.

PRUDENTE, Celso Luiz. Tambores negros: antropologia da estética da arte negra dos tambores sagrados dos meninos do Morumbi: pedagogia afro. São Paulo: Editora Fiuza, 2011.

PRUDENTE, Celso Luiz. A dimensão pedagógica da alegoria carnavalesca no cinema negro enquanto arte de afirmação ontológica da africanidade: pontos para um diálogo com Merleau-Ponty. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v. 23, n. 50, p. 403-424, 2014.

PRUDENTE, Celso Luiz. Étnico léxico: para compreensão do autor. In: PRUDENTE, Celso Luiz; SILVA, Darcilene Célia (org.). A dimensão pedagógica do cinema negro: aspectos de uma arte para a afirmação ontológica do negro brasileiro: o olhar de Celso Prudente. 2. ed. São Paulo: Anita Garibaldi, 2019a. p. 171-177.

PRUDENTE, Celso Luiz. Futebol e samba na estrutura estética brasileira: a esfericidade da cosmovisão africana versus a linearidade acumulativa do pensamento ocidental. In: PRUDENTE, Celso Luiz; SILVA, Darcilene Célia (org.). A dimensão pedagógica do cinema negro: aspectos de uma arte para a afirmação ontológica do negro brasileiro: o olhar de Celso Prudente. 2. ed. São Paulo: Anita Garibaldi, 2019b. p. 87-111.

PRUDENTE, Wilson Roberto. A verdadeira história do direito constitucional no Brasil: desconstruindo o direito do opressor, construindo um direito do oprimido. Rio de Janeiro: Impetus, 2009. v. 1.

REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1970.

REZENDE, Rafael Otávio Dias. O negro nas narrativas das escolas de samba cariocas: um estudo de Kizomba (1988), Orfeu (1998), Candaces (2007) e Angola (2012). 2017. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2017. Disponível em: https://bit.ly/2Weu3Yf. Acesso em: 25 ago. 2020.

RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. Alma africana no Brasil: os iorubás. São Paulo: Oduduwa, 1996.

RODRIGUES, André Victor. Maracatu cearense: o ritmo e o brilho do patrimônio imaterial do nosso Carnaval. Fortaleza, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3nldx4P. Acesso em: 1 ago. 2020.

SANTOS, Juana Elbein dos. Os nagô e a morte. São Paulo: Vozes, 2012.

SANTOS, Marzo Vargas dos; MOLINA NETO, Vicente. Aprendendo a ser negro: a perspectiva dos estudantes. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 41, n. 143, p. 516-537, 2011. Disponível em: https://bit.ly/387oS1I Acesso em 25 ago. 2020.

SARTRE, Jean-Paul. Entre quatro paredes. São Paulo: Abril, 1977.

SILVA, Daniel Neves. Bill Aberdeen. Brasil Escola, [S. l.], 2019. Disponível em: https://bit.ly/2Wi0JQC. Acesso em: 1. set. 2020.

SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017.

SOUZA, Marcelo Renan Oliveira de. Maracatus de Fortaleza: entre tradições, identidades e a formação de um patrimônio cultural. 2015. Dissertação (Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural) – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, 2015.

TINHORÃO, José Ramos. O negro em Portugal. São Paulo: Caminho, 1988.

TUPY, Dulce. Carnavais de guerra: o nacionalismo do samba. São Paulo: ASB Arte Gráfica, 1985.

VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo. Salvador: Corrupio, 2002.

Downloads

Publicado

2020-12-12

Como Citar

Prudente, C. L., Martinho, N. J., & Silva, D. C. (2020). Maracatu: uma marca cultural ibero-ásio-afro-ameríndia no carnaval do nordeste. Revista Extraprensa, 14(1), 313-327. https://doi.org/10.11606/extraprensa2020.174628