Revisitando a história da genética clássica: dos caracteres unitários ao gene (1900-1926)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2178-6224v16i2p209-236Palavras-chave:
História da genética, Fatores, Caracteres, Gene, William Bateson, Thomas Hunt MorganResumo
O presente artigo se refere ao período da chamada genética clássica. Seu objetivo é discutir sobre as concepções e terminologia aplicadas ao material hereditário entre 1900 (“redescoberta” do trabalho de Mendel) e a publicação do livro The theory of the gene (1926) de Thomas Hunt Morgan (1866-1945), procurando averiguar se houve mudanças em relação a esses aspectos durante o período. O foco de nossa análise são as contribuições de dois grupos: o grupo britânico liderado por William Bateson (1861-1926) e o grupo norte-americano, liderado por Morgan. No período estudado, a terminologia foi mudando de “fator”, “caracteres”, “caracteres-unitários” e “gene”, que foi adotado a partir de 1926. Apesar de Bateson e Morgan considerarem que os agentes hereditários estivessem nas células germinativas, desconheciam sua composição. Esta pesquisa mostrou que durante o estabelecimento de uma nova área de estudo vão ocorrendo modificações em relação à terminologia empregada bem como à conotação dos termos, até que haja um consenso por parte da comunidade científica que os adote.
Referências
ALLEN, Garland E. Thomas Hunt Morgan. The man and his science. Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1978.
BATESON, William. Experiments in plant hybridisation. Journal of the Royal Horticultural Society, 23, 1901. Reproduzido em: Punnett, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 1-3.
BATESON, William. Mendel’s principles of heredity – a defense. Cambridge: Cambridge University Press, 1902a.
BATESON, William. The problems of heredity and their solution. Mendel’s principles of heredity, 1902a. Pp. 1-35. Reproduzido em: Punnett, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 4-28.
BATESON, William. The facts of heredity in the light of Mendel’s discovery. Reports to the Evolution Committee of the Royal Society, 1: 125-160, 1902b. Reproduzido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923.Pp. 29-68.
BATESON, William. Notes on the progress of Mendelian studies. Reports to the Evolution Committee of the Royal Society, 2: 119-131, 1905a. Reproduzido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 121-122.
BATESON, William. Further experiments on inheritance in sweet peas and stocks: preliminary account. Proceedings of the Royal Society, B, 78: 276-278, 1905b. Disponível em: <https://royalsocietypublishing.org/doi/abs/10.1098/rspb.1906.0013> Acesso em: junho de 2020.
BATESON, William. Letter to Adam Sedgwick (18/4/1905). Cambridge University Library. Add.8634, G5p-20.
BATESON, William. The progress of genetic research. An inaugural address to the third conference on hybridization and plant breeding. Royal Horticultural Society Report, 1906a. Reproduzido em: Punnett, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 142-151.
BATESON, William. Experimental studies in the physiology of heredity. Reports to the Evolution Committee of the Royal Society, 3: 2-11, 1906b. Reproduzido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp: 152-161.
BATESON, William. Facts limiting the theory of heredity. Science, N.S. 26, 1907. Reproduzido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 162-177.
BATESON, William. The inheritance of the peculiar pigmentation of the silky fowl. Journal of Genetics, 1, 1911a. Reproduzido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 188-205.
BATESON, William. On gametic series involving reduplication in certain terms. Journal of Genetics 1, 1911b. Reproduzido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 206-214.
BATESON, William. On the interrelation of genetic factors. Proceedings of the royal Society, B. 84, 1911c. Reproduzido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 215-220.
BATESON, William. Heredity. British Medical Journal, 1913. Reprodu-zido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 224-235.
BATESON, William. The progress of Mendelism. Nature, 104, 1919a. Reproduzido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 277-280.
BATESON, William. Linkage in the silkworm. A correction. Nature, 104, 1919b. Reproduzido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. p. 281.
BATESON, William. Double flowers and sex-linkage in Begonia. Journal of Genetics, 8, 1919c. Reproduzido em: PUNNETT, Re-ginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 289-295.
BATESON, William. Letter to Reginald R. Gates (24/4/1920). John Innes Archives. 1079. F207.
BATESON, William. Genetics of Primula sinensis. Journal of Genetics, 13, 1923a. Reproduzido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 335-371.
BATESON, William. Somatic segregation in plants. Report of the International Horticultural Congress held at Amsterdam, Sept. 17-23, 1923b. Reproduzido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 372-373.
BATESON, William. Segregation. Journal of Genetics, 16, 1926. Reproduzido em: PUNNETT, Reginald C. (Ed.). Scientific papers of William Bateson. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1923. Pp. 405-448.
BATESON, WILLIAM; SAUNDERS, Edith R. Experiments in the physiology of heredity. Reports to the Evolution Committee of the Royal Society, 1: 1-160, 1902. Disponível em: <http://v3r.esp.org/foundations/genetics/classical/holdings/b/wb-02b.pdf> Acesso em: junho de 2020.
BATESON, WILLIAM; SAUNDERS, Edith; PUNNETT, Reginald Crundall. Experimental studies in the physiology of heredity. Reports to the Evolution Committee of the Royal Socie-ty, 2 (1): 1-131, 1906. Disponível em: <http://old.esp.org/foundations/genetics/classical/holdings/b/wb-04a.pdf> Acesso em: junho de 2020.
BENSON, Keith. T. H. Morgan’s resistance of the chromosome theory. Nature Reviews Genetics, 2 (1): 469-474, 2001. DOI: https://doi.org/10.1038/35076532
BRITO, Ana Paula Oliveira Pereira de Morais; MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira. As investigações de Edith Rebecca Saunders sobre a herança: 1902-1908. Pp. 549-566, in: AHUMADA, José; VENTURELLI, A. Nicolás; CHIBENI, Silvio Seno. Filosofía e Historia de la Ciencia en el Cono Sur. Córdoba: Universidad de Córdoba/AFHIC, 2015. Disponível em: <http://www.afhic.com/wp-content/uploads/2019/01/as-investigacoes-de-edith-rebecca-saunders.pd> Acesso em: junho de 2020.
BRUNELLI, Ariane. O desenvolvimento do conceito de linkage (1902-1915): uma contribuição histórica para o ensino de genética. São Paulo, 2014. Dissertação de Mestrado. (Mestrado em Ensino de Ciências). São Paulo: Universidade de São Paulo. DOI: https://doi.org/10.11606/D.81.2015.tde-20072015-102850
CARLSON, Elof Axel. The Drosophila group: the transition from the Mendelian unit to the individual gene. Journal of History of Bio-logy,7: 31-48, 1974. Disponível em: <https://www.jstor.org/stable/4330603> Acesso em: junho de 2020.
CASTAÑEDA, Luzia Aurélia. As ideias pré-mendelianas de herança e sua influência na teoria da evolução de Darwin. Campinas, 1992. Tese (Doutorado em Ciências biológicas na área de Genética) – Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas.
COUTAGNE, Georges. Sur l´amélioration des races européenes de vers à soie. Lyon: Imprimerie Pitret Ainë, 1891.
DARWIN, Charles Robert. On the origin of species by means of natural selection or the preservation of favoured races in the struggle of life. London: John Murray, 1859.
DELLA JUSTINA, Lourdes Aparecida; CALUZI, João José; MEGGHLIORATTI, Fernanda Aparecida. CALDEIRA, Ana Maria. A herança genotípica proposta por Wilhelm Ludwig Johannsen. Filosofia e História da Biologia, 5 (1): 55-71, 2010. Disponível em: <https://www.abfhib.org/FHB/FHB-05-1/FHB-05-1-04-Lourdes-Justina-et-al.pdf> Acesso em: junho de 2020
DURBANO, João Paulo Di Monaco. As pesquisas de Barbara McClintock sobre o crossing-over em Zea mays: 1925-1932. Filosofia e História da Biologia, 10 (1): 49-65, 2015. Disponível em: <https://www.abfhib.org/FHB/FHB-10-1/FHB-10-1-04-Joao-Durbano.pdf> Acesso em: junho de 2020
DURIGAN, Larissa Nunes. O desenvolvimento do conceito de gene (1900-1926): uma contribuição histórica para o ensino de genética. Ribeirão Preto, 2018. Monografia (Departamento de Biologia). Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo.
MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira. A teoria cromossômica da herança: proposta, fundamentação, crítica e aceitação. Campinas, 1997. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas na área de Genética). Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/317262> Acesso em: junho de 2020.
MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira. Thomas Hunt Morgan e a teoria cromossômica: de crítico a defensor. Episteme, 3 (6): 100- 126, 1998.
MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira. Bateson e o programa de pesquisa mendeliano. Episteme, 14: 27-55, 2002.
MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira. Teria William Bateson rejeitado a teoria cromossômica? in: RUSSO, Marisa & CAPONI, Sandra (eds.). Estudos de Filosofia e História das Ciências biomédicas. São Paulo: Discurso Editorial/Universidade Federal de Santa Catarina, 2006
MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira. O papel do núcleo na herança (1870-1900), um estudo de caso: a teoria dos idioblastos de O. Hertwig. Filosofia e História da Biologia, 6 (2): 269-299, 2011. Disponível em: <https://www.abfhib.org/FHB/FHB-06-2/FHB-6-2-06-Lilian-Al-Chueyr-Pereira-Martins.pdf> Acesso em: junho de 2020.
MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira. Edmund Beecher Wilson and the chromosome theory of inheritance: a case study of instru-mentalism in science. Philosophy Study, 5 (9): 433-445, 2015. DOI: https://doi.org/10.17265/2159-5313/2015.09.001
MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira; PRESTES, Maria Elice Brzezinski. Um método para detectar a aceitação ou rejeição a hipóteses ou teorias: Morgan e a teoria cromossômica. Revista de Filo-sofia Aurora, 5 (36): 107-127, 2013. DOI: https://doi.org/10.7213/revistadefilosofiaaurora.7767
MENDEL, Gregor. Versuche über Pflanzen-Hybriden. [Experiments on plant hybrids]. Verhandlungen des naturforschenden Vereines, 4: 3-47, 1866. Pp. 1-48, in: STERN, Curt & SHERWOOD, Eva. The origin of Genetics. A Mendel source book. San Francisco: W. H. Freeman & Company, 1966.
MORGAN, Thomas Hunt. The assumed purity of germ cells in Mendelian results. Science, 22: 887, 1905. Disponível em: <https://www.jstor.org/stable/1632912> Acesso em: junho de 2020.
MORGAN, Thomas Hunt. What are factors in Mendelian explanations? American Breeder’s Association Report 6: 365-368, 1909. Disponível em: <http://new.esp.org/foundations/genetics/classical/thm-09.pdf> Acesso em: junho de 2020.
MORGAN, Thomas Hunt. Chromosomes and heredity. American Naturalist, 44: 449-496, 1910a. Disponível em: <https://www.journals.uchicago.edu/doi/pdf/10.1086/279163> Acesso em: junho de 2020.
MORGAN, Thomas Hunt. Sex limited inheritance in Drosophila. Science 32: 120-122, 1910b. Disponível em: <https://www.jstor.org/stable/1635471> Acesso em: junho de 2020.
MORGAN, Thomas Hunt. The theory of the gene. New Haven: Yale University Press, 1926.
MORGAN, Thomas Hunt; Sturtevant, Alfred Henry; Muler, Herman Joseph. BRIDGES, Calvin Blackman. The mechanism of Men-delian heredity. New York: Henry Bolt, 1915.
MORGAN, Thomas Hunt. The theory of the gene. The American Naturalist, 51: 513-544, 1917. Disponível em: <https://www.journals.uchicago.edu/doi/pdf/10.1086/279629>. Acesso em: junho de 2020.
OLBY, Robert C. Origins of Mendelism. London: Constable, 1966.
POLIZELLO, Andreza. Modelos microscópicos de herança no século XIX; A teoria das estirpes de Francis Galton. São Paulo, 2009. Dissertação (Mestrado em História da Ciência). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Disponível em: <https://repositorio.pucsp.br/jspui/handle/handle/13418> Acesso em: junho de 2020.
POLIZELLO, Andreza. O desenvolvimento das ideias de herança de Francis Galton: 1865-1897. Filosofia e História da Biologia, 6 (1): 1-17, 2011. Disponível em: <https://www.abfhib.org/FHB/FHB-06-1/FHB-6-1-01-Andreza-Polizello.pdf> Acesso: junho de 2021.
RICHMOND, Marsha L. Opportunities for women in early genet-ics. Nature Reviews Genetics, 8: 897-902, 2007. DOI: https://doi.org/10.1038/nrg2200
ROBINSON, Gloria. A prelude to genetics. Theories of a material substance of heredity; Darwin to Weismann. Lawrence: Coronado Press, 1979.
WANSCHER, J. H. The history of Wilhelm Johannsens’ genetical terms and concepts from the period of 1903 to 1926. Centaurus, 19: 125-147, 1975. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1600-0498.1975.tb00317.x
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Filosofia e História da Biologia
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Os manuscritos publicados passam a ser propriedade da revista Filosofia e História da Biologia, e os autores aceitam os termos desta licença e concordam em ceder os direitos autorais para a publicação, além de concordarem com o compromisso da publicação em oferecer acesso aberto a todo o seu conteúdo. As informações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade de seus autores.