A Bernard o que é de Bernard: resgatando o significado de “vida livre”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2178-6224v17i2p181-194

Palavras-chave:

Formas de Vida, História da Fisiologia, Homeostase, Meio Interno, Vitalismo

Resumo

Uma avaliação crítica recente da “homeostase”, elaborada por Walter Cannon (1871-1945), identifica contradições intrínsecas à associação condicional, feita por Claude Bernard (1813-1878), entre “constância do meio interno” e “vida livre”. Por um lado, a avaliação reitera a importância do “meio interno” - líquido onde vivem as células dos tecidos, estendendo-a à evolução dos compartimentos líquidos corporais. Entretanto, ela também mostra que a associação condicional não tem suporte empírico nem lógico. Portanto, é inválido assumir que “constância do meio interno” seja condição para “vida livre”. À parte de sua contradição intrínseca, outros trabalhos têm criticado o condicional presumindo que Bernard seguido por Cannon estava se referindo a uma rigidez regulatória das variáveis biológicas (da vida) em geral.  O objetivo do presente trabalho é mostrar que essa crítica é também inválida, pois a nosso ver Bernard não faz esse tipo de generalização ao se referir a “vida livre”. Concluímos que evitar ambiguidades torna-se necessário para uma efetiva apreciação da contribuição teórica de Bernard para a fisiologia.

Biografia do Autor

  • Laurival Antonio De Luca Junior, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Faculdade de Odontologia. Departamento de Fisiologia e Patologia

    Professor Titular de Fisiologia do Departamento de Fisiologia e Patologia da Faculdade de Odontologia de Araraquara, Universidade Estadual Paulista

Referências

ARMINJON, Mathieu. Birth of the allostatic model: from Can-non’s biocracy to critical physiology. Journal of the History of Biology, 49: 397-423, 2016. DOI: 10.1007/s10739-015-9420-9.

BERNARD, Claude. [1865]. An introduction to the study of experimental medicine Trad. H. C. Greene (MacMillan & Co. Ltd., 1927). New York, NY: Dover Publications, 1957.

BERNARD, Claude. Leçons sur les phénomènes de la vie communs aux animaux et aux végétaux. Tome I. Paris: J. B. Baillière et fils, 1878 (a).

BERNARD, Claude. [1878 (b)]. Lectures on the phenomena of life common to animals and plants. Vol. 1. Trad. H. E. Hoff; R. Guillemin; L. Guillemin. Springfield, Il: Charles C. Thomas Publisher Ltd., 1974.

CANNON, Walter Bradford. Organization for physiological homeostasis. Physiological Reviews, 09: 399-431, 1929. DOI: 10.1152/physrev.1929.9.3.399

COOPER, Steven J. From Claude Bernard to Walter Cannon. Emergence of the concept of homeostasis. Appetite, 51: 419-427, 2008. DOI: 10.1016/j.appet.2008.06.005

DE LUCA JÚNIOR, Laurival Antonio. A critique on the theory of homeostasis. Physiology and Behavior, 247: 113712, 2022 (a). DOI: 10.1016/j.physbeh.2022.113712.

DE LUCA JÚNIOR, Laurival Antonio. Defusing ambiguities in the theory of homeostasis: novel concepts demand demarcation of “regulation” and “internal environment”. Physiology and Behavior, 249: 113752, 2022 (b). DOI: 10.1016/j.physbeh.2022.113752.

DUTRA, Luiz Henrique de Araújo. A epistemologia de Claude Bernard. Campinas: Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência, Universidade Estadual de Campinas, 2001. (Coleção CLE, 33)

GUPPY, Michael; WITHERS, Phillip. Metabolic depression in animals: physiological perspectives and biochemical generaliza-tions. Biological Reviews of the Cambridge Philosophical Society, 74: 1-40, 1999. DOI: 10.1017/s0006323198005258

HEITHAUS, Michael R.; DILL, Lawrence M. Does tiger shark predation risk influence foraging habitat use by bottlenose dol-phins at multiple spatial scales? Oikos, 114: 257-264, 2006. DOI: 10.1111/j.2006.0030-1299.14443.x

JANCZUR, Christine; ZAVAGLIA, Adriana; HADDAD, Hamilton; PRESTES, Maria Elice Brzezinski. Claude Bernard e a cons-tância do “meio interno”. Filosofia e História da Biologia, 8: 381-393, 2013. ISSN 1983-053X Disponível em: <https://www.abfhib.org/FHB/FHB-08-3/FHB-8-3-01-Christine-Janczur_Adriana-Zavaglia_Hamilton-Haddad_Maria-Elice-Brzezinski-Prestes.pdf>

JANCZUR, Christine; PRESTES, Maria Elice Brzezinski. Reflexões de Claude Bernard sobre o lugar da fisiologia experimental no debate vitalismo versus materialismo. Boletim de História e Filosofia da Biologia, 11: 4-10, 2017. Disponível em: <http://www.abfhib.org/Boletim/Boletim-HFB-11-n3-Set-2017.pdf>

KOEPPEN, Bruce M; STANTON, Bruce A. (eds.). Berne e Levy Fisiologia. 7ª Edição, Trad. S. I. de Oliveira. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2018. ISBN 9788535289138.

LENOIR, Timothy. The strategy of life. Dordrecht: D. Reidel Publish-ing Company, 1982. (Studies in the History of Modern Science, 13)

MARTINS, Lilian A.-C. Pereira. Lamarck e o vitalismo francês. Perspicillum, 9: 25-68, 1995.

MENDELSOHN, Everett. Physical models and physiological con-cepts: explanation in nineteenth-century biology. The British Jour-nal for the History of Science, 2: 201-219, 1965. DOI: 10.1017/S000708740000220X

MOORE-EDE, Martin Christopher. Physiology of the circadian timing system: predictive versus reactive homeostasis. American Journal of Physiology, 250: R737-R752, 1986. DOI: 10.1152/ajpregu.1986.250.5.R737

NORMANDIN, Sebastian. Claude Bernard and an introduction to the study of experimental medicine: “physical vitalism”, dialectic, and epistemology. Journal of the History of Medicine and Allied Sciences, 62: 495-528, 2007. DOI: 10.1093/jhmas/jrm015

PROSSER, Clifford Ladd. Perspectives of adaptation: theoretical aspects. Pp. 11-25, in: DILL, D. B.; ADOLPH, E. F.; WILBER, C. G. (eds.). Handbook of Physiology. Section 4: Adaptation to the Envi-ronment. Washington DC: American Physiological Society, 1964.

ROLL-HANSEN, Nils. Critical teleology: Immanuel Kant and Claude Bernard on the limitations of experimental biology. Jour-nal of the History of Biology, 9: 59-91, 1976. DOI: 10.1007/BF00129173.

SCHMIDT-NIELSEN, Knut. Fisiologia animal - adaptação e meio ambiente. Trad. T. Oppido; C. Finger. São Paulo, SP: Livraria Santos Editora, 1996.

STERLING, Peter. Allostasis: a model of predictive regulation. Physiology and Behavior, 106: 5-15, 2012. DOI: 10.1016/j.physbeh.2011.06.004

SULLIVAN, Mark D. Reconsidering the wisdom of the body: an epistemological critique of Claude Bernard’s concept of the in-ternal environment. The Journal of Medicine and Philosophy: A Forum for Bioethics and Philosophy of Medicine, 15: 493-514, 1990. DOI: 10.1093/jmp/15.5.493

TOUGERON, Kevin. Homeostasis theory: What can we learn from dormancy and symbiotic associations? Physiology and Behavior, 249: 113749, 2022. DOI: 10.1016/j.physbeh.2022.113749.

WAISSE, Silvia; AMARAL, Maria Thereza Cera Galvão do; ALFONSO-GOLDFARB, Ana Maria. Roots of French vitalism: Bordeu and Barthez, between Paris and Montpellier. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 18: 625-640, 2011. DOI: 10.1590/s0104-59702011000300002

WOLFE, Charles T. Vitalism and the resistance to experimentation on life in the eighteenth century. Journal of the History of Biology, 46: 255-282, 2013. DOI: 10.1007/s10739-012-9349-1

Downloads

Publicado

2022-12-30

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

A Bernard o que é de Bernard: resgatando o significado de “vida livre”. Filosofia e História da Biologia , [S. l.], v. 17, n. 2, p. 181–194, 2022. DOI: 10.11606/issn.2178-6224v17i2p181-194. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/fhb/article/view/fhb-v17-n2-03.. Acesso em: 28 mar. 2024.