Estatuto morfológico das sequências -alhão e -arrão

Autores

  • Graça Rio-Torto Universidade de Coimbra

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v23i2p167-184

Palavras-chave:

Sufixos avaliativos, Infixos, Reanálise, Morfologia derivacional, Formação de palavras do português

Resumo

O presente estudo procura caracterizar o estatuto morfológico de -alh- e de -arr- nas sequências -alhão e -arrão, as mais prototípicas de construções similares que envolvem, por exemplo, -alhaço, -alhote, -alhaz, -arraz. Os afixos -alh- e -arr-, pouco representados na língua portuguesa hodierna, têm sido considerados infixos, sufixos ou segmentos de sufixos compósitos -alhão e -arrão. Os dados do português europeu ‘popular’ de grande parte do século XX contribuem para clarificar o percurso destes sufixos na língua portuguesa (variedades europeia e brasileira). A hipótese que se coloca é a de que se trata de formativos que, de sufixos pouco produtivos, terão sido reanalisados como constituintes de sufixos compósitos, nos quais os formativos mantiveram, cristalizando-os, os valores matriciais herdados. O quadro teórico que espalda esta reflexão é multidimensional, envolvendo nomes de referência dos estudos morfológicos e lexicais como Aronoff e Fudeman (2005), Basílio (1999, 2004), Bechara (2004), Booij (2007, 2010), Cunha e Cintra (1984), Nunes (1989), Rio-Torto (1993, 2020), Vasconcelos (1914). Dados de diferentes sincronias e de diferentes universos sociodialectais podem contribuir para clarificar as representações conceptuais que poderão estar na base de mudanças de estatuto de certos afixos, por via de processos de reanálise que os afetam.

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Biografia do Autor

  • Graça Rio-Torto, Universidade de Coimbra

    Docente da Universidade de Coimbra.

     

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Publicado

2021-12-30

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Artigos

Como Citar

Estatuto morfológico das sequências -alhão e -arrão. (2021). Filologia E Linguística Portuguesa, 23(2), 167-184. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v23i2p167-184 (Original work published 2022)