Quando o trunfo se revela um fardo: reexaminando os percalços de um campo disciplinar que se pretendeu uma ponte entre o conhecimento da natureza e o da sociedade

Autores

  • Marcelo Lopes de Souza Universidade Federal do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2018.147381

Palavras-chave:

Epistemologia da Geografia, História da Geografia, Natureza e sociedade, Geografia Ambiental, Ecologia Política.

Resumo

Do “desenvolvimento sustentável” à “mudança climática global”, passando por problemas ambientais os mais diversos, os vínculos entre “natureza” e sociedade” parecem estar na ordem do dia. Diante desse quadro, poder-se-ia pensar que os geógrafos deveriam ter muito a dizer sobre os desafios que se colocam para tanta gente pelo planeta afora; afinal de contas, a Geografia traz, no cerne de sua identidade e como uma de suas tradições mais inconfundíveis, a pretensão de promover uma ponte entre o estudo da natureza e o estudo da sociedade. No entanto, curiosamente, justo na hora presente, a maioria dos geógrafos dá a impressão de ter desertado daquele tipo de debate. Poucos são os que parecem ainda acreditar valer a pena investir no diálogo de saberes simbolizado pelo ideal de uma “ciência-ponte”. Como se chegou a essa situação? Seria ela irreversível, mesmo que só parcialmente? Em caso afirmativo, em que termos? Com uma potência provavelmente ímpar, o discurso geográfico pode, a despeito de suas debilidades e de seus impasses contemporâneos, demonstrar o quanto os vocábulos “natureza” e “sociedade”, por mais incontornáveis que sejam, possuem conteúdos inescapavelmente relacionais, não precisando corroborar nenhum pensamento dualista. De várias maneiras, talvez a relevância e o prestígio da Geografia dependam, em grau crescente, de os geógrafos saberem voltar a explorar tal potencial, valorizando temas e problemas “híbridos”, ainda que decerto em novas bases epistemológicas e teóricas.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Marcelo Lopes de Souza, Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Possui graduação em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1985), especialização em Sociologia Urbana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1987), mestrado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988) e doutorado em Geografia (área complementar: Ciência Política) pela Universität Tübingen (Alemanha) (1993). É professor do Instituto de Geociências da UFRJ.

Referências

ALIMONDA, H.; TORO PEREZ, C.; MARTIN, F. (Orgs.) Ecología Política latinoamericana: pensamiento crítico, diferencia latinoamericana y rearticulación epistémica. Buenos Aires/Cidade do México: Clacso/Universidad Autónoma Metropolitana, 2017. 2 v.

BEROUTCHACHVILI, N.; BERTRAND, G. Le géosystème ou “système territorial naturel”. Revue Géographique des Pyrénées et du Sud-Ouest, v. 49, n. 2, p. 167-180, 1978.

BERTRAND, G. Paysage et géographie physique globale: esquisse méthodologique. Revue Géographique des Pyrénées et du Sud-Ouest, v. 39, n. 3, p. 249-272, 1968.

BLAIKIE, P.; BROOKFIELD, H. (Orgs.). Land Degradation and Society. Londres/Nova Iorque: Methuen, 1987.

BOOKCHIN, M. What is Social Ecology? In: Social Ecology and Communalism. Oakland/Edimburgo: AK Press, 2007 [1993, revisado em 1996 e 2001]. p. 19-52.

BOOKCHIN, M. The Ecology of Freedom: The Emergence and Dissolution of Hierarchy. Oakland/Edimburgo: AK Press, 2005 [1982].

BOOKCHIN, M. Post-Scarcity Anarchism. 3a. ed. Edimburgo/Oakland: AK Press, 2004 [1971; os ensaios originais foram escritos entre 1965 e 1970].

BOSQUET, M. [André Gorz]. Écologie et politique. Paris: Seuil, 1978.

BROC, N.; GIUSTI, C. Autour du Traité de Géographie physique d’Emmanuel de Martonne: du vocabulaire géographique aux théories en géomorphologie. Géomorphologie: Relief, Processus, Environnement, v. 13, n. 2, p. 125-144, 2007.

BRUNHES, J. La géographie humaine: essai de classi!cation positive, principes et exemples. Paris: Félix Akan, 1910.

BRYANT, R. L. (Org.). The International Handbook of Political Ecology. Cheltenham, UK/Northampton, MA: Edward Elgar, 2015.

CASTORIADIS, C. Science moderne et interrogation philosophique. In: Les carrefours du labyrinthe. Paris: Seuil, 1978. p. 191-285.

CASTREE, N. Nature. Abingdon: Routledge, 2005.

CASTREE, N. Nature.; DEMERITT, D.; LIVERMAN, D.; RHOADS, B. (Orgs.). A Companion to Environmental Geography. Malden, MA: Wiley-Blackwell, 2009.

DE MARTONNE, E. Traité de géographie physique. 2a. ed., rev., aum. Paris: Armand Colin, 1913[1909]. (Consultei igualmente a tradução espanhola, baseada na sétima edição francesa: Tratado de Geografía Física, em três volumes, publicada em Barcelona, pela Editorial Juventud, em 1973.)

ENZENSBERGER, H. M. Zur Kritik der politischen Ökologie. In: Palaver: Politische Überlegungen (1967-1973). Frankfurt (Meno): Suhrkamp, 1974[1973]. p. 169-232.

FINKE, L. Landschaftsökologie. Braunschweig: Höller und Zwick, 1986.

KOSIK, K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985[1963].

LA BLACHE, P. V. La France de l’Est. Paris: La Découverte, 1994[1917].

LA BLACHE, P. V. Las divisiones fundamentales del territorio francés. In: Mendoza, J. G. et al. (Orgs.). El pensamiento geográ!co: estudio interpretativo y antología de textos (de Humboldt a las tendencias radicales). Madrid: Alianza, 1982 [1888-1889].

LA BLACHE, P. V. Principes de géographie humaine. Paris: Armand Colin, 1922[1905-1918].

LA BLACHE, P. V. Des caractères distinctifs de la géographie. Annales de Géographie, v. 22, n. 124, p. 189-299, 1913.

LATOUR, B. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994[1991].

MAINAR, C. V.; SOURP, R. La dif!cile prise en charge de l’interface nature-société dans la géographie scolaire française: l’échec de l’introduction du concept de géosystème. L’Information Géographique, v. 70, n. 3, p. 16-32, 2006.

MORIN, E. La méthode. Paris: Seuil, 2008[1977-2006]. 2 v.

PATTISON, W. D. The four traditions of geography. Journal of Geography, v. 89, n. 5, p. 202-206, 1990[1964].

PEET, R.; WATTS, M. (Orgs.). Liberation Ecologies: Environment, Development, Social Movements. 2a. ed. Londres/Nova Iorque: Routledge, 2004[1996].

PORTO-GONÇALVES, C. W. Os (des)caminhos do meio ambiente. 15a. ed. São Paulo: Contexto, 2014[1989].

PORTO-GONÇALVES, C. W. O desa!o ambiental. 4a. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2013[2004].

PORTO-GONÇALVES, C. W. Paixão da Terra: ensaios críticos de ecologia e Geogra!a. Rio de Janeiro: Rocco/Socii, 1984.

RECLUS, E. L’Homme et la Terre. Paris: Librairie Universelle, 1905-1908. 6 v. Disponível em: http://gallica.bnf.fr. Acesso em: 4 jul. 2018.

RECLUS, E. La grande famille. Le Magazine International, p. 8-12, 1898. Disponível em: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k660250.r=reclus.langPT. Acesso em: 4 jul. 2018.

RECLUS, E. La Terre et les Hommes. Nouvelle Géographie Universelle. Paris: Hachette, 1876-1894. 19 v. Disponível em: http://gallica.bnf.fr.18 Acesso em: 4 jul. 2018.

RECLUS, E. La Terre : Description des phénomènes de la vie du globe. Paris: Hachette, 1868-1869. 2 v. Disponível em: http://gallica.bnf.fr. Acesso em: 4 jul. 2018.

RECLUS, E. L’Homme et la Nature: de l’action humaine sur la géographie physique. Revue des Deux Mondes v. 54, p. 762-771, 1864.

RITTER, C. Allgemeine Erdkunde: Vorlesungen an der Universität zu Berlin gehalten. Berlim: Georg Reimer, 1862.

ROBBINS, P. Political Ecology: A Critical Introduction. 2a. ed. Malden, MA: Wiley-Blackwell, 2012[2004].

ROSA, L. P. Tecnociências e humanidades: novos paradigmas, velhas questões. São Paulo: Paz e Terra, 2005-2006. 2 v.

SNOW, C. P. The Two Cultures and the Scienti c Revolution. Nova Iorque: Cambridge University Press, 1961[1959].

SOUZA, M. L. de Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.

SOUZA, M. L. Consiliência ou bipolarização epistemológica? Sobre o persistente fosso entre as ciências da natureza e as da sociedade − e o papel dos geógrafos. In: SPOSITO, E. S.; SILVA, C. A.; SANT’ANNA NETO, J. L.; MELAZZO, E. S. (Orgs.). A diversidade da Geogra a brasileira: escalas e dimensões da análise e da ação. Rio de Janeiro: Consequência, 2016. v. 1. p. 13-56.

TRICART, J. Écogéographie des espaces ruraux. Paris: Nathan, 1994.

TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE-Supren, 1977.

TRICART, J. La Terre, planète vivante. Paris: Presses Universitaires de France, 1972.

TRICART, J; KILIAN, J. L’éco-géographie et l’aménagement du milieu naturel. Paris: François Maspéro, 1979. (Collection Hérodote.)

TROLL, C. Luftbildplan und ökologische Bodenforschung: Ihr zweckmässiger Einsatz für die wissenschaftliche Erforschung und praktische Erschliessung wenig bekannter Länder. In: Luftbildforschung und landeskundliche Forschung. Wiesbaden:

Franz Steiner, 1966a [1939].

TROLL, C. Methoden der Luftbildforschung. In: Luftbildforschung und landeskundliche Forschung. Wiesbaden: Franz Steiner, 1966b [1942].

TROLL, C. Die wissenschaftliche Luftbildforschung als Wegbereiterin kolonialer Erschliessung. In: Luftbildforschung und landeskundliche Forschung. Wiesbaden: Franz Steiner, 1966c [1942].

TROLL, C. Fortschritte der wissenschaftlichen Luftbildforschung. In: Luftbildforschung und landeskundliche Forschung. Wiesbaden: Franz Steiner, 1966d [1943].

TROLL, C. Die geographische Landschaft und ihre Erforschung. In: Ökologische Land-schaftsforschung und vergleichende Hochgebirgsforschung . . Wiesbaden: Franz Steiner, 1966e [1950].

TROLL, C. Landschaftsökologie als geographisch-synoptoische Naturbetrachtung. In: Ökologische Landschaftsforschung und vergleichende Hochgebirgsforschung. Wiesbaden: Franz Steiner, 1966f [1963].

TROLL, C. Über Landschafts-Sukzession. In:Ökologische Landschaftsforschung Wiesbaden: Franz Steiner, 1966g [1963].

VALVERDE, O. Grande Carajás: planejamento da destruição. Rio de Janeiro/São Paulo/Brasília: Forense Universitária/Edusp/Ed. UnB, 1989.

VON HUMBOLDT, A. Kosmos: Entwurf einer physischen Weltbeschreibung. Frankfurt (Meno): Eichborn, 2004[1845-1958, 1862]. (Edição organizada por Ottmar Ette e Oliver Lubrich.)

VON HUMBOLDT, A. Versuch über den politischen Zustand des Königreichs Neu-Spanien" Tübingen: J. G. Cotta, 1813.

WOLF, E. Ownership and political ecology. Anthropological Quarterly, v. 45, n. 3, p. 201-205, 1972.

Downloads

Publicado

2018-08-28

Edição

Seção

Ensaio

Como Citar

SOUZA, Marcelo Lopes de. Quando o trunfo se revela um fardo: reexaminando os percalços de um campo disciplinar que se pretendeu uma ponte entre o conhecimento da natureza e o da sociedade. GEOUSP Espaço e Tempo (Online), São Paulo, Brasil, v. 22, n. 2, p. 274–308, 2018. DOI: 10.11606/issn.2179-0892.geousp.2018.147381. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/147381.. Acesso em: 24 abr. 2024.