PROJETOS DE ARQUITETURA: A APRENDIZAGEM COTIDIANA EM ESCRITÓRIOS E A RELAÇÃO COM A GESTÃO
DOI:
https://doi.org/10.11606/gtp.v9i1.89992Palavras-chave:
Projetos de arquitetura. Aprendizagem. Gestão de projetos.Resumo
Este artigo aborda o cotidiano da produção de projetos arquitetônicos. Tem por objetivo desvelar como as pessoas aprendem a fazer/elaborar projetos de arquitetura na prática. Para isso, relaciona duas abordagens antropológicas à aprendizagem de fazer projetos: a “aprendizagem situada”, de Jean Lave; e a “constituição da habilidade”, de Tim Ingold. O foco do estudo da aprendizagem proposto centra-se nas práticas que levam o iniciante a compreender o processo a partir das relações com outros aprendizes e com profissionais mais experientes. A pesquisa foi realizada em dois escritórios de arquitetura, compreendendo a análise dos sistemas de gestão de projetos, para esclarecer o funcionamento dos escritórios, a observação cotidiana da produção de projetos, para perceber as práticas do dia a dia e a participação das pessoas no projeto, além de entrevistas, com a finalidade de buscar informações não percebidas na observação e de mostrar como as questões relativas à produção de projetos eram vistas pelas pessoas envolvidas no processo. Como resultados, percebe-se que no cotidiano de trabalho dos escritórios de arquitetura há múltiplas situações que promovem a aprendizagem e que os arquitetos aprendem a partir de práticas específicas a esses ambientes, como a manipulação de modelos (arquivos-referência), a validação/avaliação do projeto (“canetadas”) e a participação nas reuniões de crítica ao projeto. Entre essas práticas, a repetição, a observação e a relação entre pares fundamentam todo o processo de aprendizagem. Destaca-se que o acesso e a participação regulam as práticas cotidianas da aprendizagem do processo de fazer projetos arquitetônicos e que aquilo que se vê no dia a dia reflete a integração e a interação entre as pessoas: são processos de aprendizagem, e não de ensino. Essas práticas ratificam a ideia de que aprender a projetar é uma atividade complexa, de que a aprendizagem é um processo de mudança das práticas e das pessoas, de que aprender é uma atividade mais relacional do que individual e de que as habilidades dos arquitetos são constituídas nesses ambientes, não tendo, portanto, nada de inato. Os processos e os procedimentos da gestão de projetos, além de regularem e de padronizarem o controle do processo de desenvolvimento de projetos, colaboram para que as pessoas aprendam nesses ambientes.
Downloads
Referências
ALMEIDA, Jaime Gonçalves de. A Formação do Arquiteto e a Universidade. Revista brasileira Est. pedagogia. Brasília, v.78, n. 188/189/190, p. 57-85, jan/dez, 1997.
ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
AMARAL, Ana Luiza S. N. do. O sentido subjetivo da aprendizagem para alunos universitários criativos. Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, 2006.
AMARAL, Cláudio Silveira. Descartes e a caixa preta no ensino aprendizagem da arquitetura. Revista Arquitextos, 090.07, ano 08, novembro de 2007.
ANDRADE, Maria Monica de A. Raposo; ANDRADE, Paulo Raposo. Ensino e aprendizagem do projeto arquitetônico. In: V Projetar. Belo Horizonte, 2011.
BERGO, Renata Silva. Quando o santo chama: o terreiro de umbanda como contexto de aprendizagem na prática. Tese de doutorado. Faculdade de Educação da UFMG. Belo Horizonte, 2011.
BRANDÃO, Otávio Curtiss Silviano. Sobre fazer projeto e aprender a fazer projeto. Tese de doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2008.
BUENO, Kátia Maria Penido. Construção de habilidades: trama de ações e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
CARSALADE, Flavio de Lemos. Ensino de Projeto de Arquitetura: Uma Visão Construtivista. Dissertação de mestrado. Escola de Arquitetura da UFMG, 1997.
_________. Referências metodológicas para um processo de ensino de projeto. In: Projetar: desafios e conquistas da pesquisa e do ensino de projeto. Sônia Marques e Fernando Lara (organizadores). Rio de Janeiro: EVC, 2003. p. 145-158.
EMMITT, Stephen. Design management in architecture, engineering and construction: origins and trends. Gestão & Tecnologia de Projetos. Vol. 5, n. 3, p. 27-37, novembro de 2010.
FARIA, Eliene Lopes. A aprendizagem da e na prática social: um estudo etnográfico sobre as práticas de aprendizagem do futebol em um bairro de Belo Horizonte. Tese de doutorado. Faculdade de Educação da UFMG, 2008.
FERREIRA, Clarice S. C.; SALGADO, Mônica S. Impacto da ISO 9001:2000 nos aspectos gerenciais dos escritórios de arquitetura: estudos de caso em empresas certificadas. Gestão & Tecnologia de Projetos, vol. 2, n. 1, p. 79-102, maio de 2007.
GRASSENI, Cristina. Skilled visions: between apprenticeship and standards. Bergamo: Editado por Cristina Grasseni, 2007.
GÓES, Marisa Barcelos. A Educação no projeto e o projeto na educação: um estudo sobre o ensino e a aprendizagem de projeto na arquitetura. Tese de doutorado. Faculdade de Educação da UFMG, 2010.
_________. Processos de projeto: repercussões para o ensino e a aprendizagem. In: V Projetar. Belo Horizonte, 2011.
INGOLD, Tim. The Perception of the Environment: Essays on Livelihood, Dwelling and Skill. London and New York: Routledge, 2000.
______. Beyond art and technology: the anthropology of skill. In: M. B. Schiffer (ed), Anthropological perspectives on technology. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2001, pp 17-31.
______. Da Transmissão de representações à educação da atenção. Revista Educação, Porto Alegre, v. 33, n. 1, p. 6-25, jan./abr., 2010.
KATO, Volia Regina Costa. Reflexões sobre o fazer arquitetônico. Tese de doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2012.
LAVE, Jean; WENGER; Etienne. Situated learning: legitimate peripheral participation. New York: Cambridge University Press, 1991.
LAVE, Jean. The politics of learning in everyday life. In: ICOS Seminars, 1999.
LAVE, Jean; PACKER, Martin. Towards a social ontology of learning. In: NIELSEN, K; BRINKMANN, S; ELMHOLDT, C; TANGGAARD, L. A qualitative Stance: essays in honor of steinar Kvale. Oxford: Aarhus Universitetsforlag, p. 17-46, 2008.
LAWSON, Bryan. Como arquitetos e designers pensam. Tradução de Maria Beatriz Medina. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco. J. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. Tradução de Humberto Mariotti e Lia Diskin. 5. ed. São Paulo: Palas Athena, 2005.
NETO, João de Paula Lima. O ensino de arquitetura como agente transformador da prática profissional. Dissertação de mestrado. Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, 2007.
MELHADO, Silvio B; OLIVEIRA, Luciana A.; LIU, Ana W. A gestão do processo de projeto em arquitetura. In: O processo de projeto em arquitetura: da teoria à tecnologia. KAWALTOWSKI, Doris C. K.; PETRECHE, João R. D.; FABRÍCIO, Márcio M. (orgs). São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
PANET, Amélia. O ensinar e o aprender a fazer: abordagem metodológica do ensino de projeto. In: V Projetar. Belo Horizonte, 2011.
RESENDE, Leandra Fernandes. Entre pontas, coques e pliês: aprendizagem da dança clássica no contexto do centro de formação artística do palácio das artes. Dissertação de mestrado. Escola de Educação Física da UFMG, 2011.
RODRIGUEZ, Virginia Laise da Silva. É ensinando que se aprende: as práticas atuais de ensino de projeto no curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Dissertação de mestrado, 2008.
SALVATORI, Elena. Arquitetura no Brasil: ensino e profissão. In: Arquiteturarevista - Vol. 4, n° 2: 52-77, julho/dezembro de 2008.
SARMENTO, Manuel Jacinto. O estudo de caso etnográfico em educação. In: ZAGO, N.; CARVALHO, M. P.; VILELA, R.A. (Org.). Itinerários de pesquisa: perspectivas qualitativas em sociologia da educação. Rio de Janeiro. DP&A, 2003. p. 137-182.
SAUTCHUK, Carlos Emanuel. O arpão e o anzol: técnica e pessoa no estuário do Amazonas (Vila Sucuriju, Amapá). Tese de doutorado. Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Brasília, 2007.
SCHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Tradução Roberto Cataldo Costa – Porto Alegre: Artes Medicas Sul, 2000.
TEIXEIRA, Kátia Azevedo. Ensino de Projeto: Integração de conteúdos. Tese de doutorado. Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2004.
VALENTE, Nancy. Estratégias para uma aprendizagem no ensino de arquitetura. Dissertação de mestrado. Centro de Teologia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2004.
VELHO, Otávio. De Bateson a Ingold: passos na constituição de um paradigma ecológico. Mana 7(2): p. 133-140, 2001.
_________. Trabalhos de campo, antinomias e estradas de ferro. Interseções, Vol. 8, n. 1, julho, p. 09-26, 2006.
VIDIGAL, Emerson José. Um estudo sobre o ensino de projeto de arquitetura em Curitiba. Dissertação de mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2004.
VIDIGAL, Emerson José. Ensino de projeto arquitetônico: um estudo sobre a práticas didáticas no curso de arquitetura e urbanismo da Universidade federal do Paraná. Tese de doutorado. Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2010.
VINCENT, Guy; LAHIRE, Bernard; THIN, Daniel. Sobre a história e teoria da forma escolar. Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 33, p. 7-48, jun. 2001.
WOLCOTT, Harry F. The Anthropology of Learning. Anthropology & Education Quarterly. Special issue, v. 13, n. 2, p. 83-108, 1982.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).