Valor ecocêntrico da geodiversidade em geossítios do Projeto Geoparque Costões e Lagunas, RJ
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9095.v23-204644Palavras-chave:
Antropocentrismo, Ecocentrismo, Geopatrimônio, Valoração quantitativaResumo
É inegável na sociedade a prevalência da visão antropocêntrica sobre a relação do ser humano com a natureza e seus elementos, sejam eles abióticos ou bióticos, como justificativa para uma postura de domínio do primeiro sobre o ambiente. Em uma análise dos estudos da geodiversidade, sobretudo na abordagem da valoração, qualitativa e/ou quantitativa, é possível também perceber a presença do antropocentrismo. Apesar de serem parte da natureza, não é ecologicamente viável colocar as comunidades humanas como o centro dos ecossistemas. Dessa compreensão e a partir das ideias da ética da terra, de Aldo Leopold, surge o ecocentrismo, que busca colocar a natureza no centro. Assim, este trabalho buscou aplicar o ecocentrismo na avaliação quantitativa da geodiversidade em geossítios do Projeto Geoparque Costões e Lagunas (RJ), em uma análise na qual não predominem as questões antropocêntricas na relação com a diversidade abiótica. Foi proposto um método próprio de avaliação de sítios, com análise de quatro grupos de valores: equilíbrio, ecológico, registro e antrópico. Ressalta-se que os benefícios providos pela diversidade abiótica impactam todo o ecossistema, não somente o bem-estar humano, considerando, no entanto, que este também é parte do meio ambiente e tem papel fundamental na modificação das condições ambientais. Os resultados mostram sítios em que o uso pelo ser humano aparenta ser predominante, mas também indicam lugares nos quais os benefícios fornecidos pela própria geodiversidade, na manutenção do equilíbrio ambiental e no estabelecimento, proteção e reprodução da vida, são os fatores relevantes. Por fim, observou-se que o olhar ecocêntrico é possível e viável na análise da geodiversidade, sendo, portanto, sugerida a sua aplicação.
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