Meio Grogue e com as Mãos Amarradas: O Primeiro Contato com o Recém-Nascido Segundo Mulheres que Passaram por uma Cesárea Indesejada

Autores

  • Heloisa De Oliveira Salgado Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
  • Denise Yoshie Niy Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
  • Carmen Simone Grilo Diniz Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.61298

Palavras-chave:

cesárea, relações mãe-filho, gênero e saúde, violência contra a mulher, rede social

Resumo

Resumo

Objetivo: descrever e analisar a experiência e os sentimentos de mulheres que relatam ter vivido uma cesárea indesejada no primeiro contato com seus filhos recém-nascidos. Método: pesquisa baseada na internet, com convite para participação publicado em outubro de 2011 via redes sociais. As mulheres que responderam foram entrevistadas a respeito de sua experiência de cesárea, de sentimentos associados à experiência de parto e nascimento e ao período pós-parto. A pesquisa foi orientada pela perspectiva das relações sociais de gênero. Resultados: vinte mulheres foram entrevistadas. A idade delas variou entre 17 e 41 anos. Metade delas residia em São Paulo. Todas, exceto uma, tinham 12 anos ou mais de estudo e eram casadas ou moravam com o companheiro. Apenas duas permaneceram com o filho logo após o nascimento. Para as demais, o tempo de separação variou de menos de uma hora (três mulheres) a mais de quatro horas (seis mulheres). A maioria não pôde contar com um acompanhante de sua escolha no pós-parto imediato, embora no Brasil esse direito seja garantido por lei. A maioria relata ter sofrido algum tipo de violência. Muitas lamentaram estar sob efeito de medicação para sedação no primeiro contato com o recém-nascido. Três grupos foram identificados: mulheres com sentimentos de plenitude, mulheres com sentimentos ambíguos e mulheres sem emoções positivas acerca de seu filho. Conclusões: mulheres que referem suas cesáreas como indesejadas tiveram suas frustrações com as experiências do parto amplificadas pelas condições do primeiro contato com seu recém-nascido, condições estas prejudicadas pelas rotinas de assistência nos pós-parto imediato.

Referências

Hodnett ED. Pain and women’s satisfaction with the experience of childbirth: a systematic review. Am. J. Obstet. Gynecol. 2002;186:S160-72.

Domingues RMSM, Santos EM, Leal MC. Aspectos da satisfação das mulheres com a assistência ao parto: contribuição para o debate. Cad. Saúde Pública. 2004; 20:52-62.

Silva, AVR, Siqueira, AA F. O valor do suporte à parturiente: um estudo da relação interpessoal no contexto de um Centro de Parto Normal. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. 2007; 17: 126-35.

Diniz CSG. Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento. Ciênc. Saúde Coletiva. 2005;10:627-37.

Leão MRC; Riesco MLG; Schneck CA; Angelo M. Reflexões sobre o excesso de cesarianas no Brasil e a autonomia das mulheres. Ciência e Saúde Coletiva, v. 1, 2012. p182.

Salgado HO. A experiência da cesárea indesejada: perspectivas das mulheres sobre decisões e suas implicações no parto e nascimento. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 2012, 155p.

Potter JE, Berquo E, Perpetuo IH, Leal OF, Hopkins K, Souza MR, et al. Unwanted caesarean sections among public and private patients in Brazil: prospective study. BMJ. 2001;323:1155-8.

Dias MAB, Domingues RMSM, Pereira APE, Fonseca SC, Gama SGN, Theme Filha MM, Bittencourt DAS, Rocha PMM, Schilithz AOC, Leal MC. Trajetória das mulheres na definição pelo parto cesáreo: estudo de caso em duas unidades do sistema de saúde suplementar do estado do Rio de Janeiro. Ciênc. Saúde Coletiva. 2008;13:1521-34.

Brasil. Ministério da Saúde. Datasus. Informações de saúde. Brasília, DF, 2010. [acesso em 16 outubro 2011]. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=02.

Victora CG, Barreto ML, do Carmo Leal M, Monteiro CA, Schmidt MI, Paim J, Bastos FI et al. Lancet Brazil Series WorkingGroup. Health conditions and health-policy innovations in Brazil: the way forward. Lancet. 2011 Jun11; 377(9782):2042-53.

Bodner K, Wierrani F, Grünberger W, Bodner-Adler B. Influence of the mode of delivery on maternal and neonatal outcomes: a comparison between elective cesarean section and planned vaginal delivery in a low-risk obstetric population. Arch. Gynecol. Obstet. 2011;283:1193-8.

Chalmers B, Kaczorowski J, Darling E, Heaman M, Fell DB, O’Brien B, Lee L; Maternity Experiences Study Group of the Canadian Perinatal Surveillance System. Cesarean and vaginal birth in canadian women: a comparison of experiences. Birth. 2010;37:44-9.

Perez-Rios N, Ramos-Valencia G, Ortiz AP. Cesarean delivery as a barrier for breastfeeding initiation: the Puerto Rican experience. J Hum. Lac. 2008;24:293-302.

Vieira TO, Vieira GO, Giugliani ERJ, Mendes CMC, Martins CC, Silva LR. Determinants of breastfeeding initiation within the first hour of life in a Brazilian population: cross-sectional study. BMC Public Health. 2010;10:760.

Zanardo V, Svegliado G, Cavallin F, Giustardi A, Cosmi E, Litta P, Trevisanuto D. Elective cesarean delivery: does it have a negative effect on breastfeeding? Birth. 2010; 37:275-279.

D’Oliveira AFP, Diniz, SG, Scraiber LB. Violence against women in health-care institutions: an emerging problem. Lancet 2002;359:1681-5.

Rapoport, A, Piccinini, CA. Apoio social e experiência da maternidade. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. 2006; 16: 85-96.

Borsa JC. Considerações acerca da relação Mãe-Bebê da Gestação ao Puerpério. Rev. Contemporânea Psicanálise e Transdisciplinaridade. 2007;2:310-21.

Enkin M, Keirse MJNC, Neilson J, Crowther C, Duley L, Hodnett E, Hofmeyer, J. Guia para atenção efetiva na gravidez e parto. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

Maternity Care Working Party. Making Normal Birth a Reality. Consensus Statement from the Maternity Care Working Party: Our Shared Views about the Need to Recognise, Facilitate and Audit Normal Birth. London: NCT/RCM/RCOG; 2007.

Barbieri, Teresita de. “Sobre la categoria de geìnero - una introduccioìn teìoricometodologica” In: AZEREDO, Sandra & STOLCKE, Verena. Direitos Reprodutivos. SaÞo Paulo: FundaçaÞo Carlos Chagas/DPE, 1991, p. 25-46.

Diniz CSG. Gênero, saúde materna e o paradoxo perinatal. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. 2009; 19:313-26.

Diniz SG; D’Oliveira AFPL; Lansky S. Equity and women’s health services for contraception, abortion and childbirth in Brazil. Reproductive Health Matters. 2012;20: 94-101.

Gutman L. A maternidade e o encontro com a própria sombra: o resgate do relacionamento entre mães e filhos. São Paulo (SP): Editora BestSeller; 2010. p.41.

Holman Jones, S. (2005). Autoethnography: Making the personal political. In N. K. Denzin & Y. S. Lincoln. (Eds.) Handbook of Qualitative Research, (2nd ed., pp. 763–791). Thousand Oaks, CA: Sage Publications.

Minayo, C. Pesquisa Social – Teoria, Método e Criatividade. Vozes. Rio de Janeiro, 1995.

Lino HC. O bem-estar no parto sob o ponto de vista das pacientes e profissionais na assistência obstétrica. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Saúde Publica, Universidade de São Paulo, 2010, 171p.

Madge C., O’Connor H. Parenting gone wired: empowerment of new mothers on the internet? [acesso em 5 agosto 2012]. Disponível em: https://lra.le.ac.uk/bitstream/2381/1403/1/CM%20social%20and%20cultural%20revised%20submission%20Apri%202005.pdf

Beck CT. Benefits of Participating in Internet Interviews: Women Helping Women. Qual. Health Res. 2005;15:411-22.

Odent M. A cientificação do amor. Florianópolis (SC): Saint Germain; 2002.

Toma TS, Rea MF. Benefícios da amamentação para a saúde da mulher e da criança: um ensaio sobre as evidências. Cad. Saúde Pública. 2008;24:S235-46.

Bettiol H, Rona RJ, Chinn S, Goldani M, Barbieri MA. Factors associated with preterm births in southeast Brazil: a comparison of two birth cohorts born 15 years apart. Paediatr Perinat Epidemiol. Londres, 14(1):30-8, 2000.

Silva VLS, Santos IS, Medronha NS, Matijasevich A. Mortalidade infantil na cidade de Pelotas, estado do Rio Grande do Sul, Brasil, no período 2005-2008: uso da investigação de óbitos na análise das causas evitáveis. Epidemiol. Serv. Saúde. 2012;21:265-274.

Lei Federal no. 11.108, de 7 de abril de 2005. Dispõe sobre o Subsistema e acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. [legislação na internet]. Brasília; 2005. [acesso em 10 de dezembro de 2012]. Disponível em: http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/2005/11108.htm

Atrash HK, Carpentier R. The evolving role of public health in the delivery of health care. J. Hum. Growth Dev. 2012; 22(3): 396-399.

Publicado

2013-08-23

Edição

Seção

Artigos Originais