Arte e ciência no século XVII: Charles Le Brun e o temperamento melancólico.
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2447-2158.i10p28-46Palavras-chave:
Charles Le Brun, Estética, Teoria humoral, Melancolia, Anatomia, Fisiognomonia, Medicina hipocrático-galênicaResumo
Na tradição hipocrático-galênica, a condição de saúde estava relacionada ao equilíbrio de humores corpóreos que, em diferentes combinações, resultavam em temperamentos. Esses temperamentos determinavam o caráter do homem, seus aspectos psicológicos, aparência física e afetos. Dos principais temperamentos (sanguíneo, colérico, melancólico e fleumático), o melancólico foi considerado o mais nocivo e de alterações psíquicas mais diversificadas, sendo objeto de estudo de tratados médicos, anatômicos e representações artísticas, literárias e filosóficas em diferentes períodos históricos, desde a Antiguidade Clássica. No âmbito artístico, inspirou uma iconografia exclusiva das emoções e da constituição física e fisiognomônica dos indivíduos, fortalecendo a relação intrínseca entre a alma e o corpo, principalmente na expressão do rosto. O objetivo deste artigo é estudar como o temperamento melancólico se relacionava com a produção iconográfica do artista Charles Le Brun (1619-1690). Este estudo levou à conclusão de que Le Brun transpôs para o campo da iconografia os conhecimentos da medicina hipocrático-galênica, da fisiognomonia e anatomia relacionando os traços faciais e personalidade. Separando corpo e alma relacionou os humores ao estudo das paixões em substituição ao estudo do caráter. Além disso, ele se preocupou com aspectos teóricos da pintura.
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