O Refino estiriano na Fábrica de Ferro de Ipanema: gestos engendrando cristais em 1885

Autores

  • Fernando Jose Gomes Landgraf Universidade de São Paulo. Escola Politécnica
  • Paulo Eduardo Martins Araujo Universidade Estadual de Campinas

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2447-2158.i13p1-44

Palavras-chave:

Fábrica de ferro de Ipanema, Refino, arqueometalurgia, assinatura química

Resumo

A fabricação de barras de ferro maleável na Fábrica de Ferro de Ipanema é examinada com base na descrição do processo de refino do ferro-gusa feita pelo engenheiro Dupré, em 1884, e pela análise da microestrutura de alguns exemplares obtidos no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2014. Barras desse tipo foram utilizadas nas estradas de ferro do século 19. São contextualizados e explicados, a luz dos conhecimentos atuais, os gestos dos operadores do refino. As heterogeneidades microestruturais nelas observadas são similares às citadas na literatura sobre peças contemporâneas. Foi possível correlacionar a composição química do minério de ferro de Ipanema com a composição das inclusões de escória presentes naqueles objetos, parâmetro viável para estabelecer a “assinatura química” das barras lá fabricadas.

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Biografia do Autor

  • Fernando Jose Gomes Landgraf, Universidade de São Paulo. Escola Politécnica

    Possui graduação em Engenharia Metalúrgica pelo Centro Universitário da FEI (1976), mestrado (1987), doutorado (1992) e Livre Docência (2007) em Engenharia Metalúrgica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; é professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Trabalhou por 29 anos como pesquisador, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, até 2005. Assumiu a Diretoria de Inovação do instituto (julho 2009 a agosto 2012), e foi Diretor Presidente do IPT entre 2012 e 2018. Focalizou o Planejamento Estratégico da instituição no aumento da receita associada com inovação. Como pesquisador e professor, atua na área de Engenharia de Materiais e Metalúrgica, com ênfase na relação entre a microestrutura e o comportamento magnético dos materiais de engenharia e no processamento de partículas, por metalurgia do pó e por manufatura aditiva (impressão 3D) . Desde 2010 investiga também a história da metalurgia no Brasil, com ênfase na análise microestrutural arqueológica.

  • Paulo Eduardo Martins Araujo, Universidade Estadual de Campinas

    Possui graduação em História com complementação em antropologia e sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (1981), mestrado em Ciências Sociais Aplicadas à Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1988), pós-doutorando no programa Ensino e História de Ciências da Terra do Instituto de Geociências da Universidade de Campinas. Colaborador em pesquisa arqueometalúrgica no Laboratório de Caracterização Microestrutural "Hubertus Colpaert" do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais (PMT), da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Professor de história de 1º e 2º graus na rede de ensino publico e particular do estado de São Paulo, nos anos 1977 a 1983. Conhecimento e experiência em paleografia e transcrição e edição de documentos manuscritos.

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Publicado

2022-08-30

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

O Refino estiriano na Fábrica de Ferro de Ipanema: gestos engendrando cristais em 1885. (2022). Khronos, 13, 1-44. https://doi.org/10.11606/issn.2447-2158.i13p1-44

Dados de financiamento