O indígena como lugar comum nas disputas retóricas coloniais: uma abordagem comparativa dos relatos de Staden, Thevet, Léry e Knivet

Autores

  • Girleane Santos Araújo Universidade Estadual de Santa Cruz
  • Paula Regina Siega Universidade Estadual de Santa Cruz

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v35i3p41-59

Palavras-chave:

Topoi, Discurso, Lutas de Representação, Católicos, Protestantes

Resumo

Este artigo toma como objetos os relatos de Hans Staden, André Thevet, Jean de Léry e Anthony Knivet sobre suas passagens, no século XVI, pelas terras do que viria a ser o Brasil. Analisando comparativamente tais textos, observamos como as diferentes realidades histórico-culturais em concorrência na Europa moldaram perspectivas ora convergentes ora conflitantes sobre um mesmo tema: o indígena, seus hábitos e costumes. Para a análise, mobilizamos as ideias de topoi ou tópicas do discurso, baseando-nos em Hansen (2013; 2021), assim como a noção de lutas de representação, teorizada por Chartier (1991; 2002), articulando-as a estudos sobre a história e mentalidade coloniais, entre outros. Concluímos que, nos discursos dos viajantes, o lugar comum do indígena é sede de argumentação em prol do grupo ao qual pertence o enunciador do discurso, que lança mão de opiniões pré-concebidas e aceitas pela sua comunidade como verdadeiras.

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Biografia do Autor

  • Girleane Santos Araújo, Universidade Estadual de Santa Cruz

    Possui graduação em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (2016). Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil. Atualmente está cursando o Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagens e Representações (2019), pela Universidade Estadual de Santa Cruz, investigando temas como o da Literatura de viagem, especialmente as do século XVI e XVII, com ênfase nas representações acerca da antropofagia no Brasil colonial. 

  • Paula Regina Siega, Universidade Estadual de Santa Cruz

    Doutora em Línguas, Culturas e Sociedades pela Universidade de Veneza (2011). Professora visitante na Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia) desde 2014. Pós doutora pela Universidade Federal do Espírito Santo, modalidade DCR-CNPq/FAPES (2012-14). Professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Letras - Linguagens e Representações da UESC e do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFES. Atua nas linhas de pesquisa Literatura e Interfaces (UESC) e Poéticas da Antiguidade à Contemporaneidade (UFES). Interessa-se pelos seguintes temas: literatura brasileira; representações da antropofagia na literatura e artes brasileiras; representações de categorias sociais e étnicas na literatura brasileira; literatura, história e cultura; leitura e apropriação. Orientadora de Mestrado e Doutorado. Membro do Núcleo Docente Estruturante do Colegiado de Letras e do Comitê Científico da UESC. Co-líder do grupo de Estudos Cânone: dissidências e reexistências (UESC). Membro do grupo Núcleo de Estudos em Transculturação, Identidade e Reconhecimento (Ca' Foscari; UFES).

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Publicado

2022-12-05

Como Citar

ARAÚJO, Girleane Santos; SIEGA, Paula Regina. O indígena como lugar comum nas disputas retóricas coloniais: uma abordagem comparativa dos relatos de Staden, Thevet, Léry e Knivet. Linha D’Água, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 41–59, 2022. DOI: 10.11606/issn.2236-4242.v35i3p41-59. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/linhadagua/article/view/191062.. Acesso em: 17 abr. 2024.

Dados de financiamento