A evolução das Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC) e o desenvolvimento da World Wide Web (www), bem como a sua aplicação nos mais diversos domínios da experiência humana, têm conduzido à crescente transformação das atividades tradicionais, passando estas a realizar-se em ambiente virtual. Com efeito, estes dispositivos colocaram à disposição das sociedades tecnologicamente mais avançadas novas oportunidades de comunicação, melhorando a rapidez e a eficácia do processamento e da transmissão de informação e reduzindo, ao mesmo tempo, as distâncias espaciais.
A própria internet tem conhecido uma rápida evolução: se a primeira geração da Web se focou na publicação de conteúdos, já a Web 2.0 desenvolveu serviços que permitiram aos seus utilizadores partilhar conteúdos e usar as suas funcionalidades como plataformas, transformando os próprios processos de comunicação online (RETTBERG, 2008).
Segundo Barlow (2008), os dispositivos de comunicação mediada por computador como os sites, os blogues e, mais recentemente, como o Twitter e as redes sociais possibilitaram a expressão de ideias por parte de cidadãos comuns que, assim, viram ampliado o seu campo de ação sem terem de passar pelos filtros dos editores. É neste novo ecossitema comunicacional que emerge um poder gigantesco que escapa à autoridade das elites dos media, uma vez que gente talentosa e criativa, a quem nunca tinha sido dada voz, passa a ter lugar na cultura de massas, promovendo as suas ideias e até os seus sonhos (CROSS, 2011).
Se a forma como as pessoas comunicam-se determina a forma como pensam, vivem e se comportam, tal como propôs Mcluhan (1964), deveremos colocar a hipótese de estarmos perante uma monumental transformação cultural (CROSS, 2011).
Esta transformação tem vindo a ser analisada por numerosos pensadores da contemporaneidade, cujo contributo Webster analisa em Theories of the Information Society (1999). O autor parte das divergências existentes entre as mais influentes correntes de pensamento no que toca ao processo histórico de transformação social originado pela explosão da informação, notando que este é observado de forma diversa pelos intelectuais contemporâneos. Assim, alguns autores proclamam uma rutura com os modelos de organização social anteriores e a emergência de uma nova sociedade caracterizada pela comunicação global, enquanto outros interpretam a informatização das relações estabelecidas como um processo de evolução dentro do mesmo modelo de sociedade.
O principal contributo da análise de Webster para a compreensão desta nova realidade reside, contudo, na proposta de distinção de cinco dimensões analíticas definidoras dos vários posicionamentos sobre as transformações a que assistimos na contemporaneidade: a definição tecnológica, a definição económica, a definição ocupacional, a definição espacial e a definição cultural.
Detenhamo-nos nesta última que é normalmente a mais referida mas, ao mesmo tempo, a de mais difícil apreensão. A definição cultural parte da constatação de que em nenhum outro tempo da História circulou uma tão grande quantidade de informação como nos dias de hoje, devendo-se este fenómeno à diversificação e à proliferação dos media digitais, nomeadamente a internet, que tornaram acessível, à grande maioria dos cidadãos, todo o tipo de informação.
É neste novo ecossistema comunicacional caracterizado pelo advento de uma cultura de virtualidade resultante dos fluxos de imagens, de sons e de mensagens produzidos pelos novos media que encontramos a base da formação de novos padrões de representação e de comunicação na nossa sociedade (CASTELLS, 2003).
Todavia, esta transformação cultural não ficou imune à desconfiança vulgarmente associada à evolução da tecnologia, nem tão pouco à controvérsia na análise das suas implicações na alteração dos hábitos e das vivências dos cidadãos.
Esta questão coloca-se de forma ainda mais enfática quando nos referimos ao processo de socialização de crianças e de jovens. É McMillin (2009) quem afirma que os jovens estão centralmente implicados nos sistemas interdependentes e interconetados, característicos da globalização, nos quais os media têm um papel ideológico significativo. A autora prossegue a sua reflexão afirmando que a adolescência é um tempo de construção de estruturas e de expressão de identidades, processos nos quais os sistemas mediáticos interferem de forma decisiva.
Não há dúvida que na sociedade contemporânea, os mais novos nascem e crescem num quadro de referências marcado por um ecossistema comunicacional e informativo caracterizado pelo acesso a um elevado número de dispositivos mediáticos (PINTO, 1999). Ao mesmo tempo, as novas tecnologias permitem, no presente, a produção incessante de todo o tipo de informação que se configura numa cascata de acontecimentos que são registrados, mas imediatamente esquecidos, “varridos de cena” por outros ainda mais espetaculares (LIPOVETSKY, 1983). Deste modo, “o painel gigantesco que temos à nossa frente tem a escala do planeta, é global, brilhante, aparentemente transparente, mas apresenta-se com uma opacidade desmobilizadora” (AZEVEDO, 1994, p. 187).
Daí que muitos especialistas em educação manifestem a sua preocupação quanto ao consumo acrítico dos novos media digitais, associando-o a males da contemporaneidade tais como o individualismo e o descomprometimento quanto à participação no desenvolvimento da sociedade. Atendendo à ideia de Tedesco (1999) de que os media, de um modo geral, não foram concebidos com objetivos de formação moral e cultural dos cidadãos, afigura-se pertinente refletir sobre a influência dos media digitais, nomeadamente da internet, no desenvolvimento dos mais novos.
A Declaração da UNESCO sobre a Educação para os Media, datada de 1982, mas perfeitamente atual, afirma que
Deste modo, a literacia mediática, resultado de uma efetiva educação para os media, é definida pelo Center for Media Literacy, dos Estados Unidos da América, como
Assim, parece importante compreender de que modo crianças e jovens se posicionam e se relacionam com uma cultura em permanente mudança e fortemente influenciada pelos novos sistemas mediáticos, nomeadamente pela internet. A compreensão desta realidade, porém, não deverá obedecer apenas à lógica de um discurso dominante que reduz os consumidores dos novos media ao papel de vítimas perante os dispositivos de comunicação digital. Esta leitura resultaria, muito provavelmente, num contributo parcial e redutor para o debate sobre a relação entre a educação e os novos media.
Assim, para além de procurar compreender o que os novos media fazem às pessoas, vale a pena, sobretudo, procurar compreender o que as pessoas fazem com os novos media (PINTO, 1999). Numa abordagem ainda mais englobante poder-se-á ir mais longe neste questionamento e perguntar: o que as pessoas podem aprender na sua relação com os novos media?
A semântica da globalização, a produção de um imaginário em torno da sua chegada e o discurso que acompanha a evolução da tecnologia ganham, segundo Mattelart (2003), uma posição cada vez mais decisiva e singular na nossa sociedade. Na perspetiva otimista deste autor, o novo ecossistema comunicacional representa o paradigma prometido de uma mudança que tornará o mundo num lugar “mais solidário, transparente, livre e igualitário” (p. 3).
Também Cádima (1999) se refere a esta nova realidade mediática relacionando-a com o processo de globalização em curso, uma vez que a mesma se caracteriza, essencialmente, pela interação à escala global de redes de banda larga e pelas suas consequências ao nível da educação de natureza transcultural.
Se relacionarmos esta nova realidade comunicacional com o poderoso fator identitário que uma língua em comum pode constituir, estaremos em condições de refletir sobre o contributo da internet para a aproximação entre cidadãos falantes de um mesmo idioma. E se pensarmos numa língua falada por muitos milhões de cidadãos, dispersos por todos os cantos do mundo, pertencentes às mais diversas etnias e culturas, esta reflexão afigura-se ainda mais pertinente. Trata-se do caso da língua portuguesa.
Neste contexto, a interpenetração de culturas resultante dos processos de comunicação entre cidadãos que falam, pensam e sentem em português “ficou facilitada não só pelo fator identitário que a língua em comum (…) constitui, como também pelo fator tecnológico que determina um novo paradigma comunicacional” (MACEDO, 2009, p.195) que caracteriza o mundo nos nossos dias.
Este novo ecossistema comunicacional parece reforçar a ideia de que o espaço da lusofonia - ou seja, o espaço no qual se fala o português - pode ser entendido como um mosaico mágico (BRITO; HANNA, 2010) que cruza as diferentes culturas lusófonas num tempo marcado pela globalização. É nesta contemporaneidade na qual o binómio espaço / tempo se reconfigura, criando novas oportunidades de comunicação e de mobilidade aos cidadãos, que a interpenetração de culturas no espaço da lusofonia parece combinar o moderno e o tradicional na produção das mais diversas mestiçagens. Brito e Hanna (2010, p.78) observam “a preferência pelo hibridismo, pela mistura, pelo cruzamento de fronteiras culturais e identitárias”, resultantes de um diálogo transnacional entre cidadãos lusófonos, na era global. O cenário que envolve este mosaico mágico nos nossos dias afigura-se, deste modo, favorável à prossecução da conceção de espaço cultural da lusofonia apresentada por Martins (2006; 81): “a comunidade e a confraternidade de sentido e de partilha comuns só podem realizar-se pela assunção dessa pluralidade e dessa diferença e pelo conhecimento aprofundado de uns e de outros”.
De facto, entre o final do século XX e o tempo presente, apareceram na internet milhares de sites, de blogues e de fóruns escritos em língua portuguesa, nos quais pessoas e instituições do espaço lusófono partilham informação, experiências, ideias e memórias.
A este propósito, Macedo, Martins e Macedo (2010) colocam em evidência os números apresentados pela Internet World Stats. Em junho de 2010, este dispositivo de comunicação era utilizado por 1 966 514 816 de pessoas em todo o mundo. Os utilizadores lusófonos eram, aproximadamente, 82 548 200, representando a quinta comunidade linguística com maior presença na internet, à frente dos utilizadores falantes de alemão, de árabe, de francês ou de russo, como é possível verificar no Gráfico4.
No entendimento de Lévy (2003), a propagação da internet à escala planetária criou, no nosso tempo, condições favoráveis à liberdade criativa. Este é um fenómeno que se deve às múltiplas vantagens que a Internet apresenta enquanto sistema de comunicação: baixo custo, interação em tempo real e, sobretudo, liberdade de expressão. A internet é, por isso, considerada por este autor como um lugar de emancipação, uma nova agora para a deliberação política, um terreno propício para o desenvolvimento de uma inteligência coletiva capaz de englobar a diversidade, um território configurador do espaço público necessário à intervenção de uma sociedade civil com consciência global.
Admitindo esta visão otimista sobre o potencial da internet, poderemos perspetivar um novo capítulo na história do espaço cultural da lusofonia capaz de englobar a diversidade de práticas culturais presentes nos diferentes lugares onde se fala o português. Do espaço real altamente fragmentado, passamos ao espaço virtual tecnologicamente unificado capaz de juntar os mais diversos estilhaços do mosaico mágico que é a lusofonia.
Retomando a questão acerca da influencia da internet no desenvolvimento de crianças e jovens, bem como a questão acerca do que estes poderão aprender na sua relação com este media digital, propõe-se uma breve análise sobre o que o epicentro do novo ecossistema comunicacional tem para oferecer aos mais novos no espaço cultural da lusofonia.
Em Os Sete saberes para a educação do futuro, Edgar Morin (1999) reforça a importância de uma educação que impeça as cegueiras do conhecimento, que desenvolva princípios para um conhecimento pertinente, que crie sensibilidade para a compreensão da condição humana, que alerte para a identidade terrena, que permita enfrentar as incertezas, que conduza à compreensão mútua em todos os sentidos e, finalmente, que ensine a ética do género humano, com vista à construção de um futuro no qual a humanidade se constitua numa comunidade planetária.
A literatura infantojuvenil tem, desde há muito, um papel indiscutivelmente relevante na educação de crianças e jovens, permitindo-lhes construir representações do Homem e do mundo que constituem estruturas duráveis da sua identidade. As histórias ficcionais contadas aos mais novos, mais do que entretenimento ou distração, criam um imaginário fundamental ao desenvolvimento da racionalidade ético-moral e estético-expressiva. Esta função da literatura infantojuvenil parece ainda mais pertinente num tempo tomado de assalto pela racionalidade cognitivo-instrumental que deita por terra as figurações próprias da subjetividade. Por esta razão, mais do que nunca, é necessário animar o imaginário dos mais novos até porque, como nos recorda Martins (2002, p.79), este "levanta voo onde o real está em falta ou abre brechas".
O conceito de imaginário deriva da palavra imago que em latim significa imagem, representação, retrato, sonho ou sombra (SANCHEZ, 1999). É Savater (1999) quem nos recorda que o Homem é o único ser sobre a Terra que sabe, de antemão, que o seu inexorável destino é morrer. A grande questão que o autor coloca, prende-se com o paradoxo que resulta da ligação entre este facto e a manifestação de uma joie de vivre característica da espécie humana. Esta alegria não pode ser explicada pela observação nem pela razão, já que uma abordagem realista da existência humana não se pode traduzir em mais do que num sentimento de insatisfação e na condenação do mundo tal como ele nos é dado. Savater conclui que só a imaginação criadora permite ao Homem afirmar a sua alegria de viver, constituindo-se o imaginário como força motriz capaz de produzir dimensões tão importantes para a existência humana como a ética ou a arte.
Reis (1999) confirma que o imaginário está na base das duas matrizes fundamentais do conceito de cultura. Enquanto conjunto de crenças, mitos, símbolos, representações e rituais, o imaginário consubstancia a matriz vivencial que nos é apresentada pela história cultural. O imaginário como forma de recriação estética da realidade e como forma de representação do mundo suporta a matriz estético-criativa estudada pela história da arte.
Também Castoriadis (1999) confere primazia ontológica ao imaginário sobre o real e sobre a razão. Este possui a capacidade de fazer "ser" um objeto, refletindo-se este no real. Deste modo, poder-se-á entender o imaginário como uma exigência do Homem para consigo próprio, como uma busca de sentido que lhe permita imaginar uma relação mais justa entre o mundo e os seus sonhos.
A relação entre ficção, imaginário e desenvolvimento da racionalidade ético-moral e estético-expressiva parece ficar, assim, inequivocamente demonstrada. Daí que, como observa Mendes (2001), o lugar do ficcional assuma, no nosso tempo, uma centralidade cada vez maior na reflexão em ciências humanas, em filosofia e até mesmo nas ciências da comunicação
Sabendo que as novas gerações nasceram e cresceram no interior do novo ecossistema comunicacional, acedendo à internet sem qualquer dificuldade, interessa saber se este media digital disponibiliza ficções da literatura infantojuvenil a crianças e jovens falantes de língua portuguesa, bem como de que forma o faz.
É importante termos em conta que no espaço da lusofonia, uma parte significativa da população ainda se encontra infoexcluída, ou seja, ainda não encontra condições de acesso à internet, nomeadamente nos países africanos de língua oficial portuguesa e em Timor-Leste (MACEDO; CABECINHAS; MACEDO, 2011). Todavia, os dados atrás apresentados indicam que, por um lado, muitos milhões de cidadãos lusófonos vivem em contacto com o novo ecossistema comunicacional. Por outro lado, sabemos que em muitos dos territórios mais pobres da lusofonia, crianças e jovens têm acesso à internet através das lan houses ou dos centros de internet gratuitos. A este propósito afirma Olinda Beja, escritora e poetisa santomense, em entrevista: “os jovens têm sempre, desde manhã até à noite, a internet a funcionar em São Tomé” (MACEDO; MARQUES, 2010, p. 292).
Uma pesquisa exaustiva realizada no motor de busca Google, no qual foram digitadas as palavras “literatura infantojuvenil”, permitiu perceber que a maior parte dos dispositivos de comunicação online em língua portuguesa relacionados com este tema divulgam eventos, autores, livros ou estudos académicos. A título de exemplo, descrever-se-ão alguns dos blogues e sites analisados.
O blogue português Alcameh, acessível em http://alcameh.blogspot.com, dedicado à literatura infantojuvenil, tem como último post, colocado em junho de 2011, um texto que divulgava um evento de apresentação de quatro obras que constituem o suporte a dois programas de ensino explícito da compreensão da leitura a crianças e pré-adolescentes. O post anterior, datado de abril de 2011, anunciava um evento cultural no qual poderia ser visitada uma exposição com os trabalhos de Danuta Wojciechosca, ilustradora polaca radicada em Portugal com grande popularidade nos meios da literatura infantojuvenil. Este blogue apresenta ainda um considerável rol de elos que conduz os cibernautas até outros dispositivos de comunicação online relacionados com a temática da literatura para crianças e jovens.
Já o site Uma Aventura, disponível em http://www.uma-aventura.pt, apresenta as escritoras portuguesas Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, bem como a sua vasta obra dedicada a adolescentes, da qual se destaca a famosa coleção que dá nome a este dispositivo de comunicação online. O site tem, na sua página principal, a apresentação das autoras, links para cada uma das coleções que escreveram (uma navegação pelos mesmos conduz-nos à exposição de cada um dos livros sem que estes se apresentem na sua versão digital), um outro link para fichas de leitura destinadas à utilização por professores e, finalmente, uma secção de notícias na qual se anunciam o filme Uma Aventura adaptado a partir da obra das autoras, o último volume da mesma coleção e a ligação para o site do ilustrador Arlindo Fagundes, que tem feito equipa com estas escritoras desde há longos anos.
A análise destes dois dispositivos chama a nossa atenção para a importância da ilustração na literatura infantojuvenil. Em ambos os casos, ilustradores e seu trabalho são colocados em destaque, fazendo-nos recordar que a ilustração é parte integrante e indissociável deste tipo de literatura, contribuindo para o enriquecimento do imaginário dos mais novos.
O blogue brasileiro Biblioteca Virtual Literatura Infanto-Juvenil, ao qual poder-se-á aceder em http://bibliotecavirtual.ltij.zip.net/, anuncia no seu último post, de abril de 2011, o dia nacional do livro infantil. Comemorado a 18 de abril, este dia foi instituído por lei, em 2002, de modo a comemorar a data de nascimento de Monteiro Lobato (1882-1948), autor de obras incontornáveis da literatura infantojuvenil brasileira, muitas delas inspiradoras da série televisiva Sítio do pica-pau amarelo, vista por milhões de crianças e jovens no espaço cultural da lusofonia. Este blogue, pese embora o seu nome, não constitui uma biblioteca online. Tem sim, numa barra de navegação colocada à direita da tela, ligação direta a duas bibliotecas virtuais e a dois sites que permitem baixar obras de literatura infantojuvenil em formato pdf.
Um outro exemplo é o do site http://www.casadaleitura.org, da Fundação Calouste Gulbenkian (Portugal), dedicado à divulgação de autores e de obras da área literária em análise. Para além de notícias, a página principal apresenta uma barra de navegação com vários links para projetos, temas, vida e obra de autores, entre outros assuntos. Destaca-se o link denominado Livros de casas lusófonas que divulga várias obras publicadas no Brasil.
Por fim, poder-se-á dar o exemplo do Netescrit@ - O que eu quero é que eles gostem de ler e escrever, acessível a partir do site http://www.nonio.uminho.pt, que apresenta a vida e a obra de escritores infantojuvenis do espaço cultural da lusofonia: portugueses, brasileiros e africanos.
Os blogues e sites até aqui descritos representam apenas alguns exemplos de tudo o quanto foi encontrado nesta pesquisa. Com efeito, abundam na internet dispositivos de comunicação em língua portuguesa, nomeadamente criados em Portugal e no Brasil, com objetivos de informar os internautas sobre assuntos relacionados com literatura infantojuvenil.
Todavia, foram também encontrados, embora em menor número, dispositivos de comunicação digital que constituem verdadeiras bibliotecas online deste tipo de literatura. É o caso de O Pequeno Leitor, acessível em http://www.opequenoleitor.com.br/, site brasileiro que na sua página principal, profusamente ilustrada, anuncia as novas histórias disponíveis. Dos lados esquerdo e direito da tela, acede-se a barras de navegação para os mesmos links, mas apresentados de forma diferente. O primeiro link, denominado histórias, conduz-nos para três diferentes secções: histórias falantes, com nove títulos disponíveis; histórias de pequenos leitores, com várias dezenas de histórias escritas pelos utilizadores do site; por fim, histórias quietinhas, com duas narrativas dedicadas aos mais novos.
Em histórias falantes, o jovem cibernauta pode ler, ver e ouvir nove histórias da autoria de Stela Loducca e ilustradas por Renato Moriconi ou Luciano Tasso. Essas histórias, apresentadas em formato multimédia, assemelham-se a um desenho animado televisivo pois apresentam as ilustrações em movimento acompanhadas por música e voz de narrador sincronizada com palavras escritas. Algumas dessas palavras, consideradas menos usuais, apresentam pequenos links que remetem para os seus significados, substituindo o papel do tradicional dicionário.
Na secção histórias de pequenos leitores são apresentadas histórias escritas pelos utilizadores do site, a partir de vários conjuntos de ilustrações pré-concebidos por Renato Moriconi. Assim, para o mesmo conjunto de ilustrações, encontram-se histórias bem diversas escritas por diferentes meninos. De referir que nesta secção as histórias são apresentadas em suporte multimédia mais simples, apenas com ilustrações que se vão sucedendo, sem qualquer tipo de movimento, acompanhadas pelos escritos dos utilizadores. Trata-se de uma secção que apela à imaginação dos jovens cibernautas, permitindo-lhes a participação no processo de criação de narrativas, embora apresente a desvantagem de muitos dos escritos conterem erros ortográficos e frases mal construídas.
Na secção histórias quietinhas, as duas narrativas disponíveis apresentam-se de modo semelhante ao das histórias da primeira secção, embora sem qualquer tipo de som. Suprimem-se, deste modo, a música e a voz do narrador.
De referir que cada uma das histórias apresentadas nas três secções permite aos utilizadores aceder a duas funcionalidades específicas: mandar a história a um amigo e colocar a história na estante (eufemismo utilizado para comprar livro).
O Pequeno Leitor contém mais três links de conteúdos complementares às histórias e quatro links de natureza funcional (Seus amigos e amigos e Quero me cadastrar, por exemplo), bem como ligação direta a um blogue com o mesmo nome. Neste blogue, encontram-se vários posts muito recentes (outubro e novembro de 2011) que apresentam obras diversas de literatura infantojuvenil de diferentes autores.
Outras bibliotecas virtuais, semelhantes a O pequeno Leitor, podem ser encontradas no espaço que a internet reserva à língua portuguesa. É o caso do site português Era uma vez, ao qual é possível aceder em http://nonio.eses.pt/contos/. A página principal deste dispositivo apresenta-se em cor azul com uma ilustração central na qual se observa uma menina lendo um livro. Circundado a menina, vemos outras quatro ilustrações que remetem para quatro diferentes links: Contos de C. Perrault, No mundo das fábulas, Contos de Hans Christian Andersen e Contos de Grimm. O acesso a esta página é acompanhado pela audição de uma música infantil.
Toma-se, por exemplo, No mundo das fábulas, link bilingue português/inglês, que apresenta na página principal uma ilustração com diversos animais, do lado esquerdo da tela, e uma funcionalidade para escolha do idioma, do lado direito. Após a escolha do idioma, neste caso o português, é possível aceder a uma nova página na qual é apresentada uma lista de autores deste género da literatura infantojuvenil. Clicando no autor pretendido, acede-se a uma outra página com a lista de fábulas, escritas pelo mesmo, disponíveis para leitura. O formato em que as fábulas se apresentam é similar ao descrito em histórias falantes de O Pequeno Leitor, com recurso a suporte multimédia que combina ilustração, música, narração e escrita. Os restantes links de Era uma vez funcionam de modo idêntico a No mundo das fábulas, não merecendo descrição pormenorizada.
Em http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt, site oficial da iniciativa governamental portuguesa Ler +, o link para a biblioteca digital disponibiliza uma variedade de livros para crianças e jovens de várias faixas etárias. Estes livros digitais englobam temas e autores diversificados, desde contos tradicionais a histórias modernas, desde os escritores clássicos até aos novos talentos da escrita. As publicações classificadas para crianças entre os três e os seis anos são as mais abundantes, com dezoito títulos disponíveis. Os meninos entre os sete e os dez anos podem ler, neste site, os nove livros digitais que se encontram online. Os adolescentes entre os onze e os treze anos podem aí encontrar três publicações e, por fim, os jovens entre os catorze e dezasseis anos apenas dispõe de um título.
A banda desenhada (termo usado em Portugal), ou as histórias de quadrinhos (termo usado no Brasil), também podem ser acedidas a partir de bibliotecas digitais. Este género da literatura infantojuvenil representa, segundo Pessoa (2010, p. 13) “um meio de comunicação em que palavras e imagens se unem na constituição de uma linha narrativa”. Em http://www.monica.com.br/comics/seriadas.htm, link do portal oficial da Turma da Mônica, encontram-se dezenas de tiras e histórias completas que podem ser lidas em formato semelhante ao do livro digital. O utilizador, após selecionar a história que quer ler, acede à primeira página da mesma e a partir daí apenas tem que clicar no botão do capítulo seguinte para continuar a sua leitura.
Deste modo, crianças e jovens de várias idades que falam, pensam e sentem em português podem ver, ouvir, ler ou folhear na internet variadas ficções de todos os géneros da literatura infantojuvenil. As histórias a que é possível aceder são as mesmas que se encontram em livros impressos, embora apresentadas em suportes diferentes. Daqui se depreende que, no caso concreto deste tipo de literatura, aquilo que as crianças e os jovens de hoje aprendem na sua relação com os novos media é semelhante ao que as crianças e jovens de gerações anteriores aprenderam na sua relação com os media tradicionais.
É Azevedo (1994) quem apresenta a ideia de que saber ser cidadão é possuir competências ao nível do pensamento crítico e ao nível do estabelecimento de inter-relações entre binómios como emoção/razão, fruição/crítica, fragmento/sistema, opinião pública/opinião própria ou consenso/conflito. Fundamentais para o enriquecimento do imaginário dos mais novos, as histórias infantojuvenis, ao transmitirem valores, crenças e hábitos, contribuem neste sentido para a sua socialização enquanto seres humanos e enquanto cidadãos. Daí que estas tenham sido utilizadas na educação de crianças e de jovens no passado, o sejam igualmente no presente e, muito provavelmente, o continuem a ser no futuro.
O novo ecossistema comunicacional trouxe consigo novas oportunidades de acesso à informação cujas consequências são observadas de formas diversas pelos pensadores da contemporaneidade. Cádima (1999, p.11) apresenta-se otimista, afirmando que
Cético quanto aos dispositivos que nos são acessíveis no nosso tempo, Saraiva (2003, p.68) reparava que
Independentemente destes posicionamentos opostos quanto à utilização dos media digitais, a pesquisa aqui apresentada demonstrou que a literatura infantojuvenil em língua portuguesa acessível na internet é rica, diversa e complementada por muita informação quanto a autores e suas obras, ilustradores, eventos, projetos e novos lançamentos no mercado editorial. Por esta razão, poder-se-ão apresentar duas conclusões fundamentais.
A primeira conclusão diz respeito ao facto de o novo ecossistema comunicacional conter uma enorme quantidade de informação em língua portuguesa sobre literatura infantojuvenil, promovendo-a no espaço cultural da lusofonia. Numa só tela, crianças e jovens falantes de português, habitando diversos lugares do planeta, podem aceder a blogues e sites cujas informações se apresentam como potencialmente promotoras da sua curiosidade e do seu interesse pela literatura destinada à sua faixa etária.
A segunda conclusão refere-se ao facto de o acesso a histórias infantojuvenis em língua portuguesa ser facilitado pelo novo ecossistema comunicacional. Por um lado, as crianças e os jovens com gosto pela leitura continuam a ler livros impressos, tal como no passado. E a essa experiência, somam a leitura de ficções na tela de um computador. Por outro lado, meninos que ainda não desenvolveram esse gosto têm agora a oportunidade de contactar com a literatura infantojuvenil através de um novo media que, pelas suas características, os atrai para a sua utilização. Assim, a ideia de que os livros são coisas aborrecidas ou a ausência de acesso a livros impressos podem ser combatidas através da utilização da internet. Por isso, é tão importante uma educação para os novos media, capaz de desenvolver bons hábitos de utilização dos dispositivos do novo ecossistema comunicacional por parte de crianças e jovens.
A formação de cidadãos que falam, pensam e sentem em português decide-se mais pelo desenvolvimento de opiniões, de afetos e de emoções, o que lhes, é em parte, proporcionado pela leitura de histórias, do que pelos meios utilizados para a concretização de tal objetivo.