Drummond, leitor de Cecília

Resumo

Este artigo analisa um conjunto de textos críticos de Carlos Drummond de Andrade sobre Cecília Meireles publicados em diferentes periódicos. Interessa, fundamentalmente, perceber como o elogio à poeta – sempre alçada à posição de destaque entre seus contemporâneos – se vincula a uma construção etérea de sua imagem, a qual estaria dividida entre o mundo ordinário e o plano universal, o que implicaria uma presença mundana que é, ao mesmo tempo, ausente. Intenciona-se investigar como a associação de Cecília ao plano etéreo – ela é a “deusa”, a “estrela” – ora designa sua pessoa, ora sua própria poesia, cujo valor, para Drummond, reside no poder de sugestão e de transfiguração das formas do mundo cotidiano por meio de uma ótica poética, que mistura o que é nítido e o que é evanescente. Ao referir-se à poeta, esse jogo ilusório, fundamento da poesia, parece ser espelhado por Drummond na descrição de Cecília, uma figura quase mágica que reflete o que se valoriza em sua atividade poética. Vê-se, assim, a descrição de uma persona, apresentada fundamentalmente como poeta a partir dos princípios que regem sua própria produção e que se vinculam a preocupações de Drummond sobre a poesia na metade do século.