Por que prender? A dinâmica das Audiências de Custódia em Belo Horizonte
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2019.165680Palavras-chave:
Audiência de Custódia, Justiça cerimonial, Prisão preventivaResumo
Este trabalho pretende compreender o processo decisório instalado nas Audiências de Custódia, que buscam, a partir da apresentação dos presos em flagrante à autoridade judicial, garantir a decretação da prisão preventiva apenas aos casos extremos. Com base no acompanhamento de 380 Audiências de Custódia em Belo Horizonte no ano de 2018, procuramos analisar “como” essas decisões são produzidas e a partir “do que” a prisão é determinada. Nossos achados indicam que, a despeito da participação da pessoa presa, o processo decisório é cerimonial e norteado pelos documentos policiais, que facilitam a categorização dos sujeitos e dos crimes entre aqueles que devem ser liberados e aqueles que devem permanecer presos durante a investigação e o processo penal. Desse modo, concluímos que as Audiências de Custódia não têm representado um lócus de debate e de participação da pessoa presa na decisão judicial. Elas reiteram a categorização feita pelos policiais dos indivíduos entre “bandidos” e “não bandidos” e dos crimes entre “normais” e “anormais”, o que tem efeitos sobre a própria ideia de Estado Democrático de Direito.
Downloads
Referências
Azevedo, Rodrigo Ghiringhelli; Sinhoretto, Jacqueline. O sistema de justiça criminal na perspectiva da antropologia e da sociologia. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais - BIB, São Paulo, v. 2, n. 84, p. 188-215, 2018.
Azevedo, Rodrigo Ghiringhelli; et al. Justiça Pesquisa - Direitos e Garantias Fundamentais: Audiência de Custódia, Prisão Provisória e Medidas Cautelares: Obstáculos Institucionais e Ideológicos à Efetivação da Liberdade como Regra. Brasília, DF: Conselho Nacional de Justiça, 2017.
Blumberg, Abraham S. The Practice of Law as Confidence Game-Organizational Cooptation of a Profession. Law & Soc’y Rev., v. 1, p. 15-40, 1966.
Brasil. Código de Processo Penal (CPP). Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de Outubro de 1941.
Cano, Ignacio. Nas trincheiras do método: o ensino da metodologia das ciências sociais no Brasil. Sociologias, v. 14, n. 31, p. 94-119, 2012.
Duce, Mauricio; Fuentes, Claudio; Riego, Cristián. “La reforma procesal penal en América Latina y su impacto en el uso de la prisión preventiva”. In: Duce, Mauricio; Riego, Cristián (Ed.). Prisión Preventiva y Reforma Procesal Penal en América Latina. Evaluación y Perspectivas. CEJA-JSCA, 2009, p. 13-73.
Hagan, John. The social and legal construction of criminal justice: A study of the pre-sentencing process. Social Problems, v. 22, n. 5, p. 620-637, 1979.
Infopen mulheres, Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. Santos, Thandara (Org.). Ministério da Justiça e Segurança Pública, Departamento Penitenciário Nacional - DEPEN, Brasília: 2a ed., 79 p, 2018.
Infopen, Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, atualizado junho de 2016. Santos, Thandara (Org.). Ministério da Justiça e Segurança Pública, Departamento Penitenciário Nacional - DEPEN, Brasília, 65 p, 2017.
Instituto de Defesado Direito aDefesa. Audiência de Custódia: panorama nacional. Silva, Vivian Peres da; Bandeira, Ana Luisa da (Eds.). São Paulo: IDDD, 2017.
Kant De Lima, Roberto. Direitos Civis e Direitos Humanos. Uma tradição judiciaria pré-republicana?. São Paulo em Perspectiva, v. 18, n. 1, p. 49-59, 2004.
Kant De Lima, Roberto. Cultura Jurídica e Práticas Policiais: A Tradição Inquisitorial. In Ensaios de Antropologia e de Direito. Lumen Juris Editora. Rio de Janeiro, 2008.
Lemgruber, Julita; Fernandes, Marcia. Tráfico de drogas na cidade do Rio de Janeiro: Prisão provisória e direito de defesa. Boletim Segurança e Cidadania, v. 17, p. 1-50, 2015.
Lobo, Michel. Nem Todo Morto é Vítima: Práticas e Negociações Jurídico-Policiais na Administração e Investigação de Homicídios Dolosos. Tese (Doutorado em Sociologia). Rio de Janeiro, Instituto de Estudos Sociais e Políticos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2018.
Meyer, John W.; Rowan, Brian. Institutionalized Organizations: formal structure as myth and ceremony. American Journal of Sociology, v. 83, n. 2, p. 440-63, 1977.
Misse, Michel. Crime, Sujeito e Sujeição Criminal. Aspectos de uma contribuição analítica sobre a categoria bandido. Lua Nova (Impresso), v. 79, p. 15-38, 2010.
Monteiro, Felipe Mattos; Cardoso, Gabriela Ribeiro. A seletividade do sistema prisional brasileiro e o perfil da população carcerária: um debate oportuno. Civitas-Revista de Ciências Sociais, v. 13, n. 1, p. 93-117, 2013.
Paixão, Antônio Luiz. A organização policial numa área metropolitana. Revista de Ciências Sociais, v. 25, n.1, p. 63-85, 1982.
Ramos, Silvia; Munusmeci, Leonarda. Elemento suspeito: abordagem policial e discriminação na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2005.
Ribeiro, Ludmila. Audiências de Custódia em Belo Horizonte: um panorama. Relatório de pesquisa, Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública CRISP/UFMG, 2017.
Ribeiro, Ludmila; et al. Nas malhas da justiça: uma análise dos dados oficiais de indiciados por drogas em Belo Horizonte (2008-2015). Revista Opinião Pública, v. 23, n. 2, p. 397, 2017.
Sapori, Luís Flávio. A administração da justiça criminal numa área metropolitana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 10, n. 29, p.143-157, 1995.
Stryker, Robin; et al. Methodological issues in court research: Pretrial release decisions for federal defendants. Sociological Methods & Research, v. 11, n. 4, p. 469-500, 1983.
Sudnow, David. Normal crimes: Sociological features of the penal code in a public defender office. Social problems, v. 12, n. 3, p. 255-276, 1965.
Thompson, Augusto Frederico Gaffrée. Quem são os criminosos?. Rio de Janeiro: Achiamé, 1983.
Vargas, Joana Domingues; Rodrigues, Juliana Neves Lopes. Controle e cerimônia: o inquérito policial em um sistema de justiça criminal frouxamente ajustado. Sociedade e Estado, v. 26, n. 1, p. 77-96, 2011.
Vargas, Joana Domingues. “Fluxo do sistema de justiça criminal”. In: Lima, Renato; Ratton, José; Azevedo, Rodrigo (Orgs.). Crime, Polícia e Justiça no Brasil. São Paulo: Contexto, 2014, p. 412-423.
Publicado
Edição
Seção
Licença
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Ao submeter seu trabalho à Plural, o autor concorda que: o envio de originais à revista implica autorização para publicação e divulgação, ficando acordado que não serão pagos direitos autorais de nenhuma espécie. Uma vez publicados os textos, a Plural se reserva todos os direitos autorais, inclusive os de tradução, permitindo sua posterior reprodução como transcrição e com devida citação de fonte. O conteúdo do periódico será disponibilizado com licença livre, Creative Commons - Atribuição NãoComercial- CompartilhaIgual –, o que quer dizer que os artigos podem ser adaptados, copiados e distribuídos, desde que o autor seja citado, que não se faça uso comercial da obra em questão e que sejam distribuídos sob a mesma licença (ver: http://www.creativecommons.org.br/).