Que gênero de grupo são as raças? Naturalismo, construtivismo e justiça social

Autores

  • Magali Bessone Universidade Paris 1 Sorbonne
  • Diana Mendes Machado Silva Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2020.179829

Resumo

A questão do estatuto dos grupos racializados está no centro das discussões sobre os construtivismos: enquanto alguns argumentam que a existência socio-política de grupos racializados se refere a uma construção de coletivos realizada sob a influência de determinantes sociais (objetivismo), outros insistem em micro-processos subjetivos que levam a reivindicar ou negociar atribuições raciais. Nos dois casos, trata-se, primeiramente, de se opor a uma concepção essencialista de raça, segundo a qual todos os membros de um grupo racial herdam o mesmo conjunto de propriedades determinantes impossíveis de modificar, de perder ou de não transmitir. A posição essencialista, baseada em uma ontologia naturalista de raças, defende a ideia de um elevado grau de coesão social do grupo racial, fechado e homogêneo. Inversamente, as posições construtivistas devem levar em conta o estatuto de entidade coletiva do grupo racial construído, bem como sua função normativa em uma teoria da justiça social: trata-se então de abandonar tais categorizações para neutralizar seus efeitos ou de ajustá-los aos objetivos de justiça social que a consideração de tais entidades coletivas permite realizar? “Que tipo de grupo são as raças?” Essa é, pois, uma questão ontológica, cuja resposta é indispensável para resolver a questão normativa: “O que devemos fazer com os grupos racializados?”

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Magali Bessone, Universidade Paris 1 Sorbonne

    Atualmente é professora na Faculdade de Direito da Universidade Paris 1 – Sorbonne. Suas pesquisas se concentram nas teorias contemporâneas da justiça e da democracia e nas teorias críticas das raças e do racismo. É autora de Sans distinction de race? (Vrin, 2013). Coeditou com Gideon Calder et Federico Zuolo How Groups Matter? Challenges of Toleration in Plura-listic Societies, (Routledge, 2014) e com Daniel Sabbagh, Race, racisme, discriminations: une anthologie de textes fondamentaux (Hermann, 2015). Publicou artigos no European Journal of Political Theory, le Journal of Applied Philosophy, le Journal of Urban Aff airs, Éthique Publique, entre outros.

  • Diana Mendes Machado Silva, Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

    Mestre e doutora em História Social pela Universidade de São Paulo.

Referências

Alcoff, Linda Martin. “La phénoménologie de l’incorporation raciale” [extrait de Visible Identities: Race, Gender and the Self, New York, Oxford University Press, 2006], trad. fr. Marc Ruegger. In: Bessone, Magali; saBBagH, Daniel. Race, racisme, discriminations. Paris: Hermann, 2015.

Anderson, Elizabeth. The Imperative of Integration. Princeton: Princeton University Press, 2010.

Aappiah, Kwame Anthony. “Race, culture, identité: des relations mal comprises.” [extrait de Color Conscious co-écrit avec Amy Gutmann. Princeton: Princeton University Press, 1996], trad. fr. R. Bouyssou. In: Bessone, M.; saBBagH, Daniel (dir.). Race, racisme, discriminations. Paris: Hermann, 2015.

Bessone, Magali. “Passer ou entrer par effraction dans le monde blanc: subversion des normes et empowerment dans la littérature du ‘passing’”. In: BouJu, E.; parisot, Y.; pluvinet, Ch. (orgs.) Pouvoir, force et puissance de la littérature. Rennes: PUR, 2018.

Bessone, Magali. saBBagH, Daniel (dir.). Race, racisme, discriminations. Paris: Hermann, 2015.

Bessone, Magali. Sans distinction de race? Paris: Vrin, 2013.

BetHencourt, Francisco. Racisms, From the Crusades to the Twentieth Century. Princeton: Princeton University Press, 2015.

Blum, Lawrence. Racialized groups: the socio-historical consensus. The Monist, vol. 93, n. 2, 2010.

Du Bois, W. E. B., Writings. New York: Library of America, 1986.

Buffon, Georges. Histoire naturelle générale et particulière. Paris: Imprimerie Royale, 1749-1767, 15 volumes (em especial, os volumes 3 e 9).

Edwards, A. W. F. Human Genetic Diversity: Lewontin’s Fallacy. Bioessays, vol. 25, n. 8, p. 798-801, 2003.

Epstein, Saul. Inclusion:The Politics of Difference in Medical Research. Chicago: The University of Chicago Press, 2007.

Fassin, Didier; fassin, Eric (orgs.). De la question sociale à la question raciale. Paris: La Découverte, 2005.

Gracia, Jorge J. E. Surviving Race, Ethnicity and Nationality: a Challenge for the Twenty-First Century. Lanham: Rowman & Littlefield, 2005.

Guillaumin, Colette. ‘Je sais bien mais quand même’ ou les avatars de la notion de ‘race’. Le Genre Humain 1. Paris: Fayard, 1983.

Hacking, Ian. Why race still matters? Daedalus, vol. 134, n. 1, p.102-116, 2005.

Hacking, Ian. Entre science et réalité, la construction sociale de quoi?, trad. B. Jurdant. Paris: La Découverte, 2001.

Haslanger, Sally. “Une analyse socio-constructiviste de la race”. trad. fr. Marc Ruegger. In: Bessone, Magali; saBBagH, Daniel (dir.). Race, racisme, discriminations. Paris: Hermann, 2015.

Hudson, Nicholas. From “Nation” to “Race”: the origin of racial classification in eighteenth-century thought. Eighteenth Century Studies, vol. 29, n. 3, p. 247-264, 1996

.Jeffers, Chike. The cultural theory of race: Yet another look at Du Bois’s “The Conservation of Races”. Ethics, vol. 123, n. 3, p. 403-426, 2013.

Jefferson, Thomas. Notes on the State of Virginia [1re éd. 1785], F. Shuffelton éd. New York: Penguin Books, 1999.

Kahn, Frederick. How a drug becomes “ethnic”: law, commerce, and the production of racial categories in medicine. Yale Journal of Health Policy, Law, and Ethics, vol. 4, 2004.

Kant, Emmanuel. Opuscules sur l’histoire, trad. fr. Raynaud, Philippe. Paris: Garnier-Flammarion, 1990.

Lewontin, Richard C. The apportionmentof human diversity. In: doBZHansky, Theodosius; HecHt, Max K.; steere, William C. (dir.). Evolutionary Biology, New York: Appleton-Century Croft, 1972, vol. 6, p. 391-398.

Loury, Glenn. The Anatomy of Racial Inequality. Cambridge: Harvard University Press, 2002.

Mill, John Stuart. System of Logic. New York: Harper and Brothers Publishers, 1882.

RosenBerg, Noah A. (et al). Clines, clusters, and the effects of study design on the inference of human population structure. PLOS Genetics, vol. 1, n. 6, p. 660-671, 2005.

rosenBerg, Noah A. (et al). Genetic Structure of Human Populations. Science, vol. 298, dezembro, p. 2381-2385, 2002.

Safi, Mirna. Les inégalités ethno-raciales. Paris: La Découverte, 2013.

Sartre, Jean-Paul. Critique de la raison dialectique. Paris: Gallimard, 1960.

Schaub, Jean-Frédéric. Pour une histoire politique de la race. Paris: Seuil, 2015.

Sesardic, Neven. Race: A social destruction of a biological concept. Biology and Philosophy, vol. 25, n. 2, p. 143-162, 2010.

SHelBy, Tommie. We Who Are Dark: The Philosophical Foundations of Black Solidarity.Cambridge: Harvard University Press, 2005.

Sundstrom, Ronald. Racial nominalism. Journal of Social Philosophy, vol. 33, n. 2, p. 193-210, 2002.

Sundstrom, Ronald. Race as a human kind. Philosophy and Social Criticism, vol. 28, n. 1, p. 91-115, 2002.

Tishkoff, Sarah A.; kidd, Kenneth K. Implications of biogeography of human populations for “race” and medicine. Nature Genetics, suppl. 36, p. 521-527, 2004.

Young, Iris Marion. Inclusion and Democracy. Oxford: Oxford University Press, 2000.

Young, Iris Marion. Gender as Seriality: Thinking about Women as a Social Collective. Signs, vol. 19, n. 3, p. 713-738, 1993.

Zack, Naomi. Race and Mixed Race. Philadelphie: Temple University Press, 1993.Recebido: 03/04/2020 | Aprovado: 09/08/2020

Downloads

Publicado

2020-12-21

Como Citar

Bessone, M. (2020). Que gênero de grupo são as raças? Naturalismo, construtivismo e justiça social (D. M. M. . Silva , Trad.). Plural, 27(2), 331-354. https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2020.179829