Estamira e os frágeis limiares heterotópicos de resistência à psiquiatria enquanto estratégia de governo biopolítico das diferenças

Autores

  • Silvio de Azevedo Soares Universidade Estadual Paulista - UNESP (Câmpus de Marília)

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2020.151021

Palavras-chave:

Cinema documental, Estamira, Psiquiatria, Governo, Diferenças

Resumo

O objetivo deste trabalho é averiguar as probabilidades de resistência à psiquiatria – enquanto um dispositivo biopolítico de governo das diferenças – presente nas falas e na existência da personagem Estamira, reproduzidas no documentário homônimo. Em termos metodológicos, utilizando as reflexões de Foucault e Butler, tomo Estamira como um documentário de inspiração genealógica, que permite a manifestação do discurso sujeitado e a apreensão das condições precárias da personagem – que sujeita-se e resite aos governos religioso, familiar (como instância de normalização disciplinar e psiquiátrica do sujeito) e médico-psiquiátrico de sua existência. Ao estabelecer-se em um lixão (enquanto um espaço heterotópico), essa mulher classificada como louca e diagnosticada como esquizofrênica apresenta, de maneira paradoxal, uma resistência mais lúcida e crítica contra as investidas do poder psiquiátrico.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Silvio de Azevedo Soares, Universidade Estadual Paulista - UNESP (Câmpus de Marília)

    Silvio de Azevedo Soares (silvioaz@hotmail.com) é pesquisador do Observatório de Segurança Pública (OSP) da Universidade Estadual Paulista (UNESP, Câmpus de Marília). É doutorando direto pelo programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UNESP (Câmpus de Marília), especialista em Gestão da Clínica nas Redes de Atenção à Saúde pelo Instituto Sírio-Libânes de Ensino e  Pesquisa -- Ministério da Saúde (2010) e graduado (bacharel e licenciado) em Ciências Sociais pela UNESP (Câmpus de Marília).

Referências

AMARANTE, Paulo. Loucos pela vida. A Trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1998.

BAZIN, André. Ontologia da imagem fotográfica. In: XAVIER, Ismail (org.). A experiência do cinema: antologia. Rio de Janeiro: Embrafilme, Edições Graal, 1983, p. 121-128.

BUTLER, Judith. Quadros de guerra: Quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

CASTRO, Edgardo. Vocabulário de Foucault: um percurso pelos seus temas, conceitos e autores. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

ESTAMIRA. Direção: Marcos Prado. Rio de Janeiro. Zazen Produções Audiovisuais, 2006. Documentário, Cor e PB, (115 min). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch? v=jSZv8jO9SAU&t=314s>. Acesso em: 01 jul. 2018.

FONTE, Eliane. Da institucionalização da loucura à reforma psiquiátrica: as sete vidas da agenda pública em saúde mental no brasil. Estudos de Sociologia, Recife, UFPE v. 1, n. 18, mar. 2013. Disponível em:<https://periodicos.ufpe.br/revistas/revsocio /article/view/235235/28258>. Acesso em: 25 jul. 2018.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade: A Vontade de Saber (Vol. 1). Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.

FOUCAULT, Michel. O que é a Crítica. [Qu'est-ce que la critique? Critique et Aufklärung]. Bulletin de la Société Française de Philosophie, v. 82, n. 2, p. 35-63, abr./jun. 1990. Tradução de Gabriela Lafetá Borges e revisão de Wanderson Flor do Nascimento. Disponível em: <http://www.unb.br/fe/tef/filoesco/foucault/critique.html>. Acesso em: 15 jul. 2018.

FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, Hubert L. e RABINOW, Paul. Michel Foucault: uma Trajetória Filosófica. Para Além do Estruturalismo e da Hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. p. 231-239.

FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes, 1999.

FOUCAULT, Michel. A vida dos homens infames. In: ______. Ditos & escritos: estratégia, poder-saber. v.4. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006a. p.203-222.

FOUCAULT, Michel. A 'governamentalidade'. In: FOUCAULT, Michel. Ditos & escritos: estratégia, poder-saber. v.4. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2006b. p. 281-305.

FOUCAULT, Michel. Omnes et singulatim: uma crítica da razão política. In: FOUCAULT Michel. Ditos & escritos: estratégia, poder-saber. v. 4. Rio de Janeiro: Forense Universitária; 2006c. p. 355-385.

FOUCAULT, Michel. O Poder Psiquiátrico: curso no Collège de France (1973-1974). São Paulo: Martins Fontes, 2006d.

FOUCAULT, Michel. Prefácio (Folie et déraison). In: ___________. Ditos & Escritos I: Problematização do sujeito: Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006e. p. 152-161.

FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população: curso no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FOUCAULT, Michel. Os Anormais: curso no Collège de France (1974-1975). São Paulo: Martins Fontes, 2010a.FOUCAULT, Michel. Crise da medicina ou crise de antimedicina. Revista Verve. São Paulo, Nu-Sol/PUC-SP, n° 18, p. 167-194, 2010b.

FOUCAULT, Michel. O corpo utópico; As heterotopias. São Paulo: n-1 edições, 2013a.

FOUCAULT, Michel. O governo de si e dos outros: curso no Collège de France (1982-1983). São Paulo: Martins Fontes, 2013b.

FOUCAULT, Michel. O nascimento da medicina social. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2016a. p. 143-170.

FOUCAULT, Michel. A política da saúde no século XVIII. In: __________. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2016b. p. 296-317.

FOUCAULT, Michel. Sobre a história da sexualidade. In: __________. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2016c. p. 363-406.

FOUCAULT, Michel. A coragem da verdade: curso no Collège de France (1983-1984). São Paulo: Martins Fontes, 2017.

MACHADO, Roberto. Introdução: Por uma genealogia do poder. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2016. p. 7-34.

MANSANERA, Adriano. Parrhesía e loucura no exemplo de Estamira. 2015, 240 p. Tese (doutorado em Filosofia). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC.

MARTÍN, Maria. A 30 quilômetros de Ipanema, a vida passa com menos de três reais por dia. El País Brasil, São Paulo, 14 dez. 2017. Disponível em: <https://brasil.elpais.com /brasil/2017/12/11/politica/1512998294_705549.html>. Acesso em: 28 jul. 2018.

NICHOLS, Bill. Introdução do documentário. Campinas: Papirus, 2008.

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

PELBART, Peter Pál. Biopolítica. Sala Preta, Brasil, v. 7, p. 57-66, nov. 2007. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57320>. Acesso em: 10 jul. 2018.

PELBART, Peter Pál. Introdução. In: FERNANDES, Ricardo (Org.). Estamira – fragmentos de um mundo em abismo. São Paulo: n-1 edições, 2013. p. 4-7.

PELBART, Peter Pál. Estamos em guerra. São Paulo: n-1 edições, 2017. (Série Pandemia).

PRADO, Marcos. Jardim Gramacho. Rio de janeiro: Argumento, 2004.

VAZ, Juliana. Estamira Gomes de Souza (1941-2011). Folha de São Paulo, São Paulo, 30 jul. 2011. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff3007201115.htm>. Acesso em: 02 ago. 2018.

Downloads

Publicado

2020-06-26

Como Citar

Soares, S. de A. (2020). Estamira e os frágeis limiares heterotópicos de resistência à psiquiatria enquanto estratégia de governo biopolítico das diferenças. Plural, 27(1), 256-281. https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2020.151021