Um “carnaval de verdade”: Imagens de uma noite no desfile das escolas de samba na Intendente Magalhães
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-3341.pontourbe.2024.226827Resumo
No carnaval carioca, destacam-se as escolas de samba que desfilam na Avenida Marquês de Sapucaí, o sambódromo da Praça Onze, centro da cidade do Rio de Janeiro. No entanto, existe na cidade outra passarela do samba menos conhecida, menos glamourosa, cujos desfiles não são televisionados nem atraem turistas, mas que é o palco de sambistas, artistas e foliões que desfilam em escolas e blocos na Estrada Intendente Magalhães, via que corta vários bairros do subúrbio carioca, entre eles Madureira.
Foi na Intendente Magalhães que, no carnaval de 2020, uma das autoras deste ensaio fotográfico realizou parte do trabalho de campo da sua pesquisa de doutoramento (Baiocchi, 2021), tendo também desfilado como integrante da Vizinha Faladeira. Escola fundada em 1932 no bairro da Saúde, a Vizinha Faladeira participa dos desfiles cariocas desde 1933 (Turano; Ferreira, 2013). A observação e o registro das imagens do desfile começaram a ser feitos na noite de 25 de fevereiro e terminaram na manhã do dia seguinte. São essas imagens que nos permitem descrever esse “carnaval de verdade”, nas palavras de um dos interlocutores da pesquisa, um contraponto ao “carnaval pra turista” que acontece na Marquês de Sapucaí.
Diferente do carnaval do Sambódromo, cujos ingressos para as arquibancadas e fantasias das escolas de samba são pagos, no carnaval da Intendente Magalhães, o espetáculo é gratuito. Famílias frequentam arquibancadas e espaços públicos circulando livremente sem qualquer tipo de pagamento. Também não se paga pelas fantasias, que são gratuitas para quem quiser desfilar nas escolas de samba. Caminhões repletos de fantasias estacionam nas ruas transversais à Intendente Magalhães onde os foliões se dirigem para escolher suas fantasias e aprender as letras dos sambas que tocam sem interrupção nas concentrações das escolas.
A infraestrutura da Intendente Magalhães é bastante precária, mas conta com arquibancadas de estrutura metálica que são montadas e desmontadas a cada ano. Ao lado das arquibancadas encontram-se brinquedos infantis, que ficam ocupados inclusive durante a madrugada, e diversas barracas onde se pode comprar comida e bebida, mas há poucos banheiros disponíveis.
Naquela noite os horários dos desfiles não foram cumpridos com rigor. Enquanto esperavam por horas o início do desfile da Vizinha Faladeira, alguns foliões usavam as fantasias como apoio para dormir no chão e outros desistiram de esperar e partiram, apesar dos apelos de integrantes da escola que pediam para que todos ficassem e lembravam a importância de a escola ter integrantes suficientes para cantar seu enredo e ocupar a passarela. Após o amanhecer, a escola finalmente iniciou seu desfile. A escola é pequena, o desfile passou rápido. Passistas, músicos da bateria, mestre-sala e porta-bandeira são membros da comunidade. No portal que marca o fim da passarela, o presidente da escola aguardava e agradecia cada integrante por sua participação. Era o término do desfile. Nesse momento as fantasias precisavam ser devolvidas pelos foliões a representantes das escolas que as guardavam em um caminhão da escola para que pudessem ser reaproveitadas no carnaval do próximo ano.
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Referências
BAIOCCHI, Alessandra. Branding of creative cities. 212 f. Tese (Doutorado) Departamento de Administração, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
TURANO, Gabriel da Costa; FERREIRA, Luiz Felipe. Incômoda vizinhança: a Vizinha Faladeira e a formação das escolas de samba no Rio de Janeiro dos anos 30. Textos Escolhidos de Cultura e Arte Populares (Online), v. 10, p. 65-92, 2013. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/tecap/article/view/10217/7999 . Acesso em 02 Maio 2023.
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