Chão suprimido: do trapiche ao porto vertical de Santos
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.posfauusp.2024.215061Palavras-chave:
Infraestrutura, Porto, Trapiches, Cais, Chão, Projeto como pesquisaResumo
Este artigo explora a interação entre o regime hidrológico e a população na região insular de Santos (SP, Brasil), por meio de projeto de infraestrutura e suas fontes primárias. Investigamos como a convivência com as águas, numa tentativa de domesticá-las, apoia o planejamento do solo no Porto de Santos, destacando os movimentos centrípetos e centrífugos dentro do contexto do Antropoceno. Analisamos o patrimônio histórico e cultural e os elementos naturais e antrópicos das regiões costeiras tropicais, aplicando uma abordagem teórico-metodológica que esclarece essas dinâmicas. Propusemos três cenários prospectivos baseados nos movimentos identificados: O primeiro cenário, centrípeto, foca nas técnicas históricas para a domesticação das águas e a integração dessas práticas ao planejamento urbano atual. O segundo, centrífugo, reflete um distanciamento estratégico, visando transformar o chão portuário em áreas como parques naturais e espaços de “urbanismo comum”. O terceiro cenário, marcado pelo desaparecimento do chão logístico projetado, apresenta o “cais anfíbio binário”, uma infraestrutura que opera em harmonia com o mar, inspirado em estudos históricos sobre o aumento do nível do mar e projeções climáticas. O conceito de “supressão” abrange tanto elementos físicos, como trapiches e muros do cais, quanto aspectos naturais dos estuários e sociais, culturais e políticos agora obsoletos. Este artigo apresenta o argumento de que a construção de grandes infraestruturas deve considerar sua integração com o ambiente, utilizando uma arquitetura que dialoga com diversos campos do conhecimento para prevenir desastres e melhorar a vida urbana. Por meio deste ensaio, propomos o “Porto Vertical”: um projeto que questiona paradigmas ao minimizar o uso do solo e maximizar o uso do espaço aéreo, indagando um equilíbrio ecológico e revitalizando os “chãos suprimidos” na região portuária de Santos. Este projeto, em fase de investigação, busca desafiar as normas existentes e engajar a comunidade em um diálogo sobre futuros portuários urbanos sustentáveis.
Downloads
Referências
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Uma nova ligação entre o litoral e o planalto no setor paulista do eixo Rio-São Paulo: (re)visão de um projeto. São Paulo, 1989. (Documento original do Condephaat relativo ao EIA/RIMA da Estrada do Sol).
ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e destino. São Paulo: Ática, 2000.
ARTIGAS, Vilanova. O Desenho: linguagem da arquitetura e da técnica. São Paulo: Nossa, 1984.
BORGES, Leandro; OLIVEIRA, Denisson; LEITE NETO, Pedro Bezerra. Estudo Comparativo da Implantação e Operação de Usinas Maremotrizes. Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, v. 2, n. 1, p. 336-342, 2022.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 14 ago. 2023.
BRASIL. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jul. 2001. Seção 1, p. 1.
BRASIL. Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN). Brasília, DF: MGISP, 2023. Disponível em: https://sian.an.gov.br/. Acesso em: 16 maio 2023.
BRASIL. Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima. Plano Clima: Estratégias gerais e planos setoriais para mitigação e adaptação. Brasília, DF: Governo Federal Brasil, 2024a. Disponível em: https://www.gov.br/mma/pt-br/composicao/smc/plano-clima/apresentacao-plano-clima-atualizada-mai24-lgc-1.pdf. Acesso em: 11 set. 2024.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente e Mudança no Clima. Lula anuncia criação de Autoridade Climática. Gov.BR, Brasília, DF, 10 set. 2024b. Disponível em: https://www.gov.br/mma/pt-br/lula-anuncia-criacao-de-autoridade-climatica. Acesso em: 11 set. 2024.
BUCCI, Ângelo. São Paulo: quatro imagens para quatro operações. Tese (Doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas) – Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2005.
CASTILHO, Ana Luisa Howard. Itatinga: a hidrelétrica e seu legado. São Paulo: Neotropica, 2010.
COSTA, Eduardo Augusto. Projetar no antropoceno exige um novo modo de pensar nossa existência na Terra. Jornal da USP, 14 jun. 2024. Disponível em: https://jornal.usp.br/?p=769486. Acesso em: 17 jun. 2024.
ECO, Umberto. Obra aberta. 8. ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.
GREGOTTI, Vittorio. Território da Arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 1975.
JANSSEN, Stephanie K. H.; MOL, Arthur P. J.; TATENHOVE, Jan P. M. van; OTTER, Henriëtte S.. The role of knowledge in greening flood protection. Lessons from the Dutch case study future Afsluitdijk. Ocean & Coastal Management, v. 95, p. 219-232, 2014.
INSTITUTO MOREIRA SALLES. Mestres do Séc. XIX. Álbum Cia. Docas de Santos. Vista geral do estaleiro de blocos (fotografia, c. 1901). Disponível em: https://acervos.ims.com.br/CIP/preview/thumbnail/portals-general-access/17470. Acesso em: 16 maio 2023.
KOOLHAAS, Rem. Nova York delirante. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
LATOUR, Bruno. Políticas da natureza: como associar a ciência à democracia. São Paulo: Unesp, 2018.
LATOUR, Bruno. Onde aterrar? – Como se orientar politicamente no Antropoceno. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020
LISBOA, Alfredo. Portos do Brasil: Ministério da Viação e Obras Públicas. Inspetoria Federal de Portos, Rios e Canais. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1940.
MACEDO FILHO, José Maria de. Santos, zona de fronteira: mutações do Largo Marquês de Monte Alegre. Dissertação (Mestrado em Projeto de Arquitetura) – Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2008.
MARTINO, Arnaldo. Pesquisa enquanto projeto. Texto inédito como base para discussão do Grupo de Pesquisa de Projeto de Edificações do Departamento de Projeto da FAUUSP, 1992.
MCHARG, Ian L. Design with Nature. Tianjin: Tianjin University Press, 2006.
MENDES DA ROCHA, Paulo Archias. Até que ponto a arquitetura ainda pode ser considerada...[Entrevista a Sylvio Barros Sawaya]. In: PEREIRA, Miguel Alves (Org.). Cadernos de Arquitetura FAUUSP 2. São Paulo: FAUUSP, 2001, p. 57-61.
MONTANER, Josep Maria; MUXÍ, Zaida. Política e arquitetura: Por um urbanismo do comum e ecofeminista. São Paulo: Olhares, 2021. MORAES, Angélica. Paulo Mendes da Rocha: “Um dos paradigmas da arquitetura é evitar o desastre”. Revista Cult, 9 jun. 2017. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/paulo-mendes-da-rocha-arquitetura. Acesso em: 15 jun. 2024.
ONU. Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso Futuro Comum [Relatório Brundtland]. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1987.
PASK, Gordon. The architectural relevance of cybernetics. Architectural Design, n. 9, 1969, p. 494-496.
POMPÉIA, Marcos; SERVA, Jayme. O Porto de Santos e a História do Brasil. São Paulo: Neotropica, 2010.
PORTO DE SANTOS completa 127 anos. Porto de Santos, 25 jan. 2019. Disponível em: https://www.portodesantos.com.br/2019/01/25/porto-de-santos-completa-127-anos/. Acesso em: 16 maio 2023.
REIS, Mirna Silva; FERNANDO, Paulo Henrique Lixandrao. A crise no desabastecimento de produtos provindos por meio dos portos nas organizações durante a pandemia em países industrializados. REGRASP – Revista para Graduandos/IFSP, v. 7, n. 1, p. 108-127, 2022.
SALES, Pedro Manuel Rivaben. Santos: a relação entre o porto e sua (re)valorização no território macrometropolitano de São Paulo. Tese (Doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas) – Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 1999. SANTOS BRASIL. O Porto de Santos e a História do Brasil: manual do professor. São Paulo: Neotropica, 2010. Disponível em: https://www.santosbrasil.com.br/media/44153/manual%20do%20professor.pdf. Acesso em: 8 jun. 2024.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 2013.
SOUZA, Celia Regina de Gouveia. Suscetibilidade morfométrica de bacias de drenagem ao desenvolvimento de inundações em áreas costeiras. Revista Brasileira de Geomorfologia, v.6, n. 1, p. 45-61, 2005.
SPIER, Michele Rigon; GARCÍA, Luis Alberto Gallo; YAMAMOTO, Carlos Itsuo; YMASHITA, Fábio. Composto biodegradável de matrizes poliméricas, BR1020200050150. 12 mar. 2020. Disponível em: https://spin.ufpr.br/portfolio/propriedade-intelectual/patentes/br1020200050150/. Acesso em: 13 ago. 2023.
TORRANO, Dhiego. Arquitetura da Infraestrutura e Equidade: SP-55 e obras de artes especiais. Uma interpretação através da linguagem metanarrativa diagramática perceptiva e prospectiva no recorte urbano da Região Metropolitana da Baixada Santista. Dissertação (Mestrado em Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo) – Universidade de São Paulo, Instituto de Arquitetura e Urbanismo, São Carlos, 2023.
UFPR usa microalgas para transformar lixo em energia. CicloVivo. [S. l.], 12 jul. 2021. Disponível em: https://ciclovivo.com.br/inovacao/tecnologia/ufpr-microalgas-lixo-energia/. Acesso em: 15 set. 2024.
VARGAS, José Viriato Coelho et al. Sistema de processamento de resíduos sólidos para geração de energia elétrica e captura de emissões por microalgas, BR1020180161350. 7 ago. 2018. Disponível em: https://spin.ufpr.br/portfolio/propriedade-intelectual/ patentes/br1020180161350/. Acesso em: 13 ago. 2023.
VEIGA, José Eli da. A desgovernança mundial da sustentabilidade. São Paulo: Ed. 34, 2013.
VEIGA, José Eli da. O Antropoceno e a ciência do sistema Terra. São Paulo: Ed. 34, 2019.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Luciene Ribeiro dos Santos de Freitas, Dhiego Torrano, Rosana Helena Miranda

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NoDerivatives 4.0 International License.
O detentor dos direitos autorais é o autor do artigo. A revista exige apenas o ineditismo na publicação do artigo. O autor tem do direito de divulgar seu artigo conforme sua conveniência devendo citar a revista.
DIADORIM - Diretório de Políticas Editoriais