Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões espaciais básicas e em arquitetura

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.psrevprogramapsgradarquiturbanfauusp.2021.176627

Palavras-chave:

giro decolonial, espaço, arquitetura, colonialidade, decolonialidade

Resumo

Parto de um artigo de Nelson Maldonado-Torres, no qual ele apresenta dez teses com vistas a uma analítica da colonialidade e da decolonialidade, mas ressalvo sua pouca atenção concedida à análise espacial, como faz boa parte da literatura decolonial. Assim, proponho um esboço de uma outra analítica, com base no giro decolonial, mas voltada ao espaço e, em especial, à arquitetura. Em um primeiro movimento, apresento questões fundamentais do giro decolonial, delas destacando algumas dimensões espaciais básicas poucas vezes esmiuçadas. Em seguida, delineio quatro novas “teses” alicerçadas no giro decolonial voltadas à arquitetura.

 

 

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

AFP. Maduro muda nome de rodovia de Caracas com críticas a conquistadores “genocidas”. Uol, Notícias, 12 out. 2020.

ALBUQUERQUE, A. L. Moradores de favelas isoladas no Rio lutam por lembrança e ajuda. Folha de S. Paulo, Cotidiano, 5 jun. 2020.

ANDRADE, O. Manifesto antropófago. In: A utopia antropofágica. São Paulo: Globo, [1928] 1990, p. 47-52.

ARANTES, P. F. O grau zero da arquitetura na era financeira. Novos estudos CEBRAP, n. 80, p. 175-195, 2008.

BALTAZAR, A. P. Não existe arquitetura decolonial porque não existe ensino de arquitetura decolonial porque não existe arquitetura decolonial. Redobra, v. 6, n. 15, p. 121-136, 2020.

BARROCAL, A. 73% dos negros perderam renda no Brasil durante a pandemia. Carta Capital, 17 jun. 2020.

BERQUE, A. Geogramas, por uma ontologia dos fatos geográficos. Geograficidade, v. 2, n.1, (1999) 2012, p. 4-12.

BLAUT, J. M. The colonizer’s model of the world. New York/London: The Guilford Press, 1993.

BOUFLEUR R. N. Fundamentos da gambiarra: a improvisação utilitária contemporânea e seu contexto socioeconômico. 2013. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013.

CASTRO-GOMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (org.). El giro decolonial. Bogotá: Siglo del Hombre, 2007.

CÉSAIRE, A. Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Veneta, (1955), 2020.

COMAROFF, J.; COMAROFF, J.L. Teorías desde el sur. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, (2012) 2013.

CONNEL, R. Southern theory. Cambridge/Malden: Polity Press, 2007.

COSTA, A. L. R. Ekabó! Trabalho escravo, condições de moradia e reordenamento urbano em Salvador no século XIX. 1989. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal da Bahia. Salvador, 1989.

CUNHA, G. R. Assistência técnica habitacional com técnicas construtivas não convencionais: proposta de adequação sociotécnica para o enfrentamento da colonialidade tecnocientífica. Epistemologias do sul, v. 3, n. 1, p. 142-153, 2019.

CROSBY, A. A mensuração da realidade. São Paulo: Editora UNESP, (1997) 1999.

DUSSEL, E. Europa, modernidad y eurocentrismo In: LANDER, E. (org.). La colonialidad del saber. Buenos Aires: Clacso, 2000, p. 41-54.

DUSSEL, E. ¿Son posibles muchas modernidades? Un diálogo sur-sur. In: LÓPEZ N., V. R. (org.). De lo poscolonial a la descolonización. México: Unam, 2018, p. 138-153.

ESCOBAR, A. Autonomía y diseño. Popayán: Editorial Universidad del Cauca, 2016.

ESCOBAR, A.; VERÍSSIMO, C. Projeto/ar como a cura da vida. Redobra, v. 6, n. 15, p. 51-58, 2020.

FANON, F. Os condenados da terra. Juiz de Fora: Editora UFJF, [1961] 2005.

FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: Edufba, (1952) 2008.

FARRÉS D., Y. Arquitetura e decolonialidade: algumas ideias sobre a Escola de Artes Plásticas de Ricardo Porro. Redobra, v. 6, n. 15, p. 289-316, (2015) 2020.

FARRÉS D., Y.; CUNHA, G. R.; NAME, L. Por um diálogo latino-americano sobre colonialidade, arquitetura e urbanismo. Redobra, v. 6, n. 15, p. 87-107, 2020.

FATHY, H. Arquitectura para os pobres. Lisboa: Argumentum/Dinalivro, (1973) 2009.

FERNÁNDEZ, R. El laboratório americano: arquitectura, geocultura y regionalismo. Madrid: Biblioteca Nueva, 1998.

FERRO, S. O canteiro e o desenho. São Paulo: Projeto, (1976) 1979.

FOUCAULT, M. Aula de 28 de janeiro de 1976. In: Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, (1997) 2010.

FREIRE-MEDEIROS, B.; NAME, L. Epistemologia da laje. Tempo social, v. 31, n. 1, p. 153-172, 2019.

FREITEZ C., O. Desenhando com o subalterno. Epistemologias do sul, v. 3, n. 1, p. 166-179, 2019.

G1. Grupos indígenas derrubam estátua de colonizador na Colômbia. G1, Mundo, 17 set. 2020.

GOES, E. F.; RAMOS, D. O.; FERREIRA, A. J. F. Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da covid-19. Trabalho, Educação e Saúde, v. 18, n. 3, p. 1-7, 2020.

GROSFOGUEL, R. El concepto de “racismo” en Michel Foucault y Frantz Fanon: ¿teorizar desde la zona del ser o desde la zona del no-ser? Tábula Rasa, n. 16, p. 79-102, 2012.

GROSFOGUEL, R. Desenvolvimentismo, modernidade e teoria da dependência na América Latina. Revista de Estudos Antiutilitaristas e Pós-Coloniais, v. 3, n. 2, p. 26-55, (2000) 2013.

GROSFOGUEL, R. ¿Negros marxistas o marxismos negros? Una mirada descolonial. Tabula Rasa, n. 28, p. 11-22, 2018.

GUTIÉRREZ B., A. Ressurgimentos: suis como desenhos e desenhos-outros. Redobra, v. 6, n. 15, p. 265-288, (2015) 2020.

GUTIÉRREZ B., A.; NAME, L.; CUNHA, G. R. Desenhos outros: da hegemonia ao giro decolonial e dos desenhos do sul aos “dessocons”. Redobra, v. 6, n. 15, p. 59-86,

HALL, S. Raça, o significante flutuante. Revista Z Cultural, v. 8, n. 2, (1995) 2013

HARAWAY, D. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, n. 5, p. 7-41, (1988) 1995.

HERCULANO, S.; PACHECO, T. (org.). Racismo ambiental. Rio de Janeiro: Fase, 2006.

INEP. Instrumento de avaliação de cursos de graduação. Brasília: Mec/Inep/Dae, 2017.

IPAM AMAZÔNIA. Mortalidade de indígenas por covid-19 na Amazônia é maior do que média nacional. Ipam Amazônia, Notícias, 21 jun. 2020.

JACQUES, P. B. Notas fugidias sobre nossa herança antropófaga. Redobra, v. 6, n. 15, p. 111-120, 2020.

LARA, F. Teorizando o espaço das Américas: possíveis saídas para séculos de exclusão e de esquecimento. América, n. 1, p. 66-75, 2018.

LORDE, A. As ferramentas do senhor nunca derrubarão a casa-grande. In: Irmã outsider. Belo Horizonte: Autêntica, (1979) 2020, p. 135-139.

MACHADO ARÁOZ, H. Mineração, genealogia do desastre. São Paulo: Elefante, (2014) 2020.

MALDONADO-TORRES, N. A topologia do ser e a geopolítica do conhecimento. Revista Crítica de Ciências Sociais, v. 80, p. 71-114, [2004] 2008.

MALDONADO-TORRES, N. Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões básicas. In: BERNARDINO-COSTA, J.; MALDONADO-TORRES, N.;

GROSFOGUEL, R. (org.). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. Belo Horizonte: Autêntica, 2018, p. 27-54.

MALDONADO-TORRES, N. Notas sobre la colonialidad de la paz. In: La construcción del “mundo del Tú”. Moca: Guamo, 2020, p. 10-14.

MARQUES, P.; MASS, M. Design espontâneo periférico da América Latina: uma forma de participação alternativa e subversiva. In: PDC. Proceedings… Manizales: PDC, 2020.

MBEMBE, A. Que faire des statues et monuments coloniaux? Africultures, 16 mar. 2006.

MBEMBE, A. Crítica da razão negra. São Paulo: n-1 edições, (2013) 2018.

MEMMI, A. Retrato do colonizado precedido de retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, [1985] 2007.

MIGNOLO, W. D. Historias locales/diseños globales. Madrid: Akal, (2000) 2003.

MIGNOLO, W. D. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF, v. 34, p. 287-324, (2003) 2008.

MIGNOLO, W. D. Espacios geográficos y localizaciones epistemológicas: la ratio entre la localización geográfica y la subalternización de conocimientos. In: CABALLO, F.; HERRERA R., L. A. (org.) Hab la frontera. Barcelona: Cidob, (1999) 2015a, p. 117-139.

MIGNOLO, W. D. Geopolítica de la sensibilidad y del coocimiento: sobre descolonialidad, pensamiento fronterizo y desobediencia epistémica. In: CABALLO, F.; HERRERA R., L. A. (org.) Habitar la frontera. Barcelona: Cidob, (2013) 2015b, p. 173-189.

MIGNOLO, W. D. El lado más oscuro del Renacimiento. Popayán: Editorial Universidad del Cauca, (1995) 2016.

MOASSAB, A. O patrimônio arquitetônico no século 21. Para além da preservação uníssona e do fetiche do objeto. Arquitextos, v. 17, n. 198.07, 2016.

MOASSAB, A. Os desafios de introduzir as categorias gênero e raça no ensino de arquitetura e urbanismo. Epistemologias do sul, v. 3, n. 2, p. 134-153, 2019.

MOASSAB, A. De que lado a arquitetura está? Reflexões sobre ensino, tecnologia, classe e relações raciais. Revista Projetar, v. 5, n. 1, p. 8-19, 2020.

MOASSAB, A.; RUGERI, M. R.; FREITEZ C., O.; NAME, L. Arquitetura, gênero e raça. Redobra, v. 6, n. 15, p. 19-50, 2020.

NAME, L. A natureza como o Outro de diferentes partes: uma discussão sobre Ratzel e alteridade. Biblio 3W, v. 15, n. 854, 2010.

NAME, L. Aníbal Quijano depois do dependentismo: notas inconclusivas sobre colonialidade, raça e a atualização do debate sobre centro e periferia. Epistemologias do sul, v. 3, n. 2, p. 118-133, 2019.

NAME, L. Geopolítica do alimento e a pedagogia do coronavírus: quem acessa um pé de manga ou tem uma horta é rei. Cadernos Sesunila, n. 3, p. 90-97, 2020.

NAME, L.; FREITEZ C., O. Cartografias alternativas decoloniais. Gênero, sexualidades e espaços em uma universidade em área transfronteiriça. Arquitextos, ano 20, n. 230.02, 2019.

NAME, L.; MOASSAB, A. Por um ensino de paisagismo crítico e emancipatório na América Latina: um debate sobre tipos e paisagens dominantes e subalternos. In: ENEPEA, 12, 2014. Anais... Vitória: Enepea, 2014.

NAME, L.; ZAMBUZZI, M. Notas inconclusivas sobre raça, arquitetura e a colonialidade do patrimônio material e imaterial. Epistemologias do sul, v. 3, n. 1, p. 118-140, 2019.

NASCIMENTO, A. O genocídio do negro brasileiro. São Paulo: Perspectiva, (1978) 2016.

O’GORMAN, E. La invención de América. México: Fondo de Cultura Económica, (1958) 2010.

PORTO-GONÇALVES, C. W. A globalização da natureza e a natureza da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

QUIJANO, A. Colonialidad y modernidad/racionalidad. Perú Indígena, v. 13, p. 11-29, 1992.

QUIJANO, A. ¡Qué tal raza! Ecuador Debate, n. 48, p. 141-151, 1999.

QUIJANO, A. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In: LANDER, E. (org.) La colonialidad del saber. Buenos Aires: CLACSO, 2000, p. 201-246.

REDAÇÃO. Candidatos do PSL destroem placa em homenagem a Marielle Franco. O Estado de S. Paulo, Política, 3 out. 2018.

RESTREPO, E.; ROJAS, A. Inflexión decolonial. Popayán: Instituto Pensar, 2010.

REUTERS. Estátua de escravocrata é substituída por uma de manifestante negra no Reino Unido. G1, Mundo, 15 jul. 2020.

RIBEIRO, C. R. A construção da memória a partir do espaço público nacional: a produção do espaço cordial e suas rupturas. Libertas, v. 14, p. 1-21, 2014.

ROBINSON, C. J. Capitalismo racial: el carácter no objetivo del desarrollo capitalista. Tabula Rasa, n. 28, p. 23-56, (1999) 2018.

RODRÍGUEZ I., M. Ressignificando a cidade colonial e extrativista. Bem Viver a partir de contextos urbanos. In: DILGER, G.; LANGER, M.; PEREIRA FILHO, J. (org.). Descolonizar o imaginário. São Paulo: Elefante, (2013) 2016, p. 297-333.

ROY, A. Cidades faveladas: repensando o urbanismo subalterno. Cadernos e-metropolis, v. 8, n. 31, p. 6-21, (2014) 2017.

RUBBO, D. A. Aníbal Quijano em seu labirinto: metamorfoses teóricas e utopias políticas. Sociologias, v. 21, n. 52, p. 240-269, 2019.

RUDOFSKY, B. Arquitectura sin arquitectos. Buenos Aires: Eude, (1964) 1973.

RUGERI, M. R. Casa branca, terra roxa: modernidade, espaço rural, arquitetura e suas relações de gênero. Epistemologias do sul, v. 3, n. 2, p. 156-165, 2019.

SANTOS, B.S.; MENESES, M.P. (org.). Epistemologias do sul. Coimbra: Almedina, 2009.

SELIGMANN-SILVA, M. Antimonumentos: trabalho de memória e de resistência. Psicologia USP, v. 27, n. 1, p. 49-60, 2016.

SILVA, R. A. Afroinscrições negras em Petrópolis: história, memória e territorialidades. 2018. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2018.

SPINDULA, M. G.; NAME, L.; MOASSAB, A. Drag queens em banheiros públicos coletivos e ruas de Foz do Iguaçu: cartografias de corpos dissidentes em lugares transientes. Revista Latino-Americana de Geografia e Gênero, v. 11, n. 2, p. 3-29, 2020.

SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: UFMG, (1985) 2010.

SVAMPA, M.; VIALE, E. Maldesarrollo. Buenos Aires, Katz, 2014.

TORRES, L. Dupla que pichou estátua de Zumbi pede desculpas: ‘É uma adrenalina’. G1, Rio de Janeiro, 21 out. 2014.

TRAVERSO. D. Tearing down statues doesn’t erase history, it make us see it more clearly. Jacobin, 24 jun. 2020.

VAN LENGEN, J. Manual do arquiteto descalço. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto, (1981) 2014.

VELLOSO, R. De/descolonizar o urbano, insurreição nas periferias: notas de pesquisa. Redobra, v. 6, n. 15, p. 153-176, 2020.

VIÉGAS, R. Desigualdade ambiental e zonas de sacrifício. In FASE; IPPUR (org.). Mapa dos conflitos ambientais no estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Fase/Ippur, 2006.

WALLERSTEIN, I. Eurocentrismo e seus avatares: os dilemas da ciência social. In: O fim do mundo como o concebemos. Rio de Janeiro: Revan, (1997) 2002.

WALSH, C. (org.). Pensamiento crítico y matriz colonial. Quito: Uasb/Abya Yala, 2005.

Publicado

2021-07-02

Edição

Seção

Dossiê: Estudos decoloniais na arquitetura, no urbanismo, no design e na arte

Como Citar

Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões espaciais básicas e em arquitetura. (2021). PosFAUUSP, 28(52), e176627. https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.psrevprogramapsgradarquiturbanfauusp.2021.176627