“Se oriente, rapaz!”: Onde ficam os antropólogos em relação a pastores, geneticistas e tantos “outros” na controvérsia sobre as causas da homossexualidade?

Autores

  • Peter Fry Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Sérgio Carrara Universidade Estadual do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2016.116920

Palavras-chave:

Homossexualidade, genética, pentecostalismo, Brasil.

Resumo

Neste ensaio abordamos a controvérsia motivada por uma entrevista, nacionalmente veiculada por importante canal de televisão brasileiro. Nela, um eminente pastor pentecostal negava haver qualquer base biológica para o que se referia como homossexualismo, recomendando que “pacientes” homossexuais se convertessem ao heterossexualismo. Diferentes atores sociais do campo religioso (evangélico) e científico (genética/biologia) manifestaram-se então sobre as possíveis causas da homossexualidade. Examinamos a repercussão dessa controvérsia entre antropólogos e ativistas LGBT e revisitamos a clássica oposição, trazida à tona por ela, entre perspectivas essencialistas e construtivistas nos estudos sobre a sexualidade. Sugerimos, finalmente, que o próprio conflito entre tais perspectivas deva ser entendido como parte do problema a ser analisado em futuras  pesquisas antropológicas.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

BLANCHARD, Ray e BOGAERT, Anthony F. 2004. “Proportion of Homosexual Men Who Owe Their Sexual Orientation to Fraternal Birth Order: An Estimate Based on Two National Probability Samples”. American Journal of Human Biology. 16(2): 151-7.

CARRARA, Sérgio e SIMÕES, Júlio. 2007. “Sexualidade, cultura e política: a trajetória da identidade homossexual masculina na antropologia brasileira”. Cadernos Pagu, 28: 65-99.

CIANI, Andrea S. Camperio; FONTANESI, Lilybeth; IEMMOLA, Francesca; GIANNELLA, Elga; FERRON, Claudia; e LOMBARDI, Luigi. 2012. “Factors Associated with Higher Fecundity in Female Maternal Relatives of Homosexual Men”. The Journal of Sexual Medicine, 9 (11): 2878-2887.

FACCHINI, Regina 2005. Sopa de letrinhas? Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90. Rio de Janeiro, Garamond.

FOUCAULT, Michel. 1977. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro, Graal.

FOUCAULT, Michel. 1984a. Histoire de la sexualité III: le Souci de soi, Bibliothèque des histoires. Paris, Gallimard.

FOUCAULT, Michel. 1984b. História da sexualidade II: o uso dos prazeres. Rio de Janeiro, Graal.

FREIRE COSTA, Jurandir. 1995. A face e o verso: estudos sobre homoeroticos III. São Paulo, Editora Escuta.

FRY, Peter. 1982. “Da Hierarquia à igualdade: a construção histórica da homossexualidade no Brasil”. In Para inglês ver: identidade e política na cultura brasileira. Rio de Janeiro, Zahar, pp. 87-113.

GIUMBELLI, Emerson. 2002. “Para além do trabalho de campo: reflexões supostamente malinowiskianas”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.17, n.48.

HACKING, Ian. 1995. “The Looping Effect of Human Kinds”. In SPERBER, Dan; PREMACK, David e PREMACK, Ann James (orgs.), Causal Cognition: An Interdisciplinary Approach. Oxford, Oxford University Press, pp. 351-383.

HAMER, Dean e COPELAND, Peter. 1994. The Science of Desire: the Search for the Gay Gene and the Biology of Behavior. New York, Simon and Schuster.

HERTZ, Robert. 1909. “La Prééminence de la main droite: étude sur la polarité religieuse”. Revue Philosophique, 68: 553-580.

KATZ, Jonathan Ned. 1995. The Invention of Heterosexuality. Chicago, University of Chicago Press.

KINSEY, Alfred C.; POMEROY, Wardell B.; e MARTIN, Clyde E. 1948. Sexual Behavior in the Human Male. Philadelphia, W.B. Sauders.

LAQUEUR, Thomas. 2001. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro, Relume Dumará.

LATOUR, Bruno. 1996. Petite réflexion sur le culte moderne des dieux faitiches. Paris, Synthélabo Groupe.

LEVAY, Simon. 1991. “A Difference in Hypothalamic Structure Between Homosexual and Heterosexual Men”. Science, 253: 1034-1037.

MACHADO, Maria das Dores Campos; PICCOLO, Fernanda Devalhas (orgs.). 2010. Religiões e homossexualidades. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas.

MCINTOSH, Mary. 1968. “The Homosexual Role”. Social Problems, 16: 182-192.

NATIVIDADE, Marcelo e OLIVEIRA, Leandro. 2013. As novas guerras sexuais: diferença, poder religioso e identidade LGBT no Brasil. Rio de Janeiro, Garamond.

NUCCI, Marina Fisher. 2010. Hormônios pré-natais e a idéia de sexo cerebral: uma análise das pesquisas biomédicas sobre gênero e sexualidade. Rio de Janeiro, dissertação, Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

ROBINSON, Susan J. e MANNING, John T. 2000. “The Ratio of 2nd to 4th Digit Length and Male Homosexuality”. Evolution and Human Behavior, 21: 333-345.

SAHLINS, Marshal. 1976. The Use and Abuse of Biology: An Anthropological Critique of Sociobiology. Ann Arbor, University of Michigan Press.

VANCE, Carole. 1995. “A antropologia redescobre a sexualidade: Um comentário teórico”. Physis – Revista de Saúde Coletiva, vol 5, n. 1: 7-31.

VITAL, Christina e LEITE LOPES, Paulo Victor. 2013. Religião e Política uma análise da atuação de parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs no Brasil. Rio de Janeiro, Fundação Heinrich Böll & Instituto de estudos da Religião (ISER).

WEEKS, Jeffrey. 1985. Sexuality and its Discontents: Meanings, Myths & Modern Sexualities. Londres, Routlegde & Kegan Paul.

Downloads

Publicado

2016-06-28

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

“Se oriente, rapaz!”: Onde ficam os antropólogos em relação a pastores, geneticistas e tantos “outros” na controvérsia sobre as causas da homossexualidade?. (2016). Revista De Antropologia, 59(1), 258-280. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2016.116920