Palavras carnais: sobre re-lembrar e re-esquecer, ser e não ser, entre os Filhos do Erepecuru

Autores

  • Julia Frajtag Sauma Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2016.124811

Palavras-chave:

remanescentes de quilombos, ontologia, esquecimento, palavras, corpo

Resumo

Neste trabalho, exploro o potencial analítico daquilo que Martin Holbraad denomina ‘método ontográfico’, a partir das reflexões dos Filhos do Erepecuru – castanheiros, ribeirinhos e remanescentes de quilombos – acerca do processo de lembrar e esquecer relatos sobre os seus antepassados, e a atuação dessas palavras sobre o corpo. Inicio com uma consideração sobre a importância que os Filhos conferem ao esquecimento dos seus relatos sobre a vinda dos antigos para o rio Erepecuru, município de Oriximiná, Pará. A partir dessa questão etnográfica, descrevo como a necessidade de esquecer e os cuidados inerentes ao ato de lembrar estão relacionados ao poder das palavras de mobilizar forças e sentimentos, curas e doenças, para dentro da pessoa. Tal reflexão etnográfica possibilita sugerir como a linguagem e a experiência são relacionadas pelos Filhos do Erepecuru, e como essa relação opera com base em uma ontologia móvel.

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Biografia do Autor

  • Julia Frajtag Sauma, Universidade de São Paulo
    É pós-doutoranda no ppgas da FFLCH/USP e bolsista do pnpd (Programa Nacional de Pós-Doutorado) da Capes

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Publicado

2016-12-22

Edição

Seção

Dossiê - Cosmopolíticas e ontologias relacionais entre povos indígenas e populações tradicionais na América Latina

Como Citar

Sauma, J. F. (2016). Palavras carnais: sobre re-lembrar e re-esquecer, ser e não ser, entre os Filhos do Erepecuru. Revista De Antropologia, 59(3), 150-173. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2016.124811