A invenção da infância

Mudança geracional na comunidade de Feira Nova (Orobó – PE) a partir do Programa Bolsa Família

Autores

  • Patrícia Oliveira S. dos Santos Universidade Federal de Campina Grande
  • Flávia Ferreira Pires Universidade Federal da Paraíba

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2018.148951

Palavras-chave:

Crianças, Infância, mudança geracional, Programa Bolsa Família, trabalho infantil

Resumo

Na comunidade de Feira Nova, um pequeno povoado rural, pertencente à cidade de Orobó, no Agreste pernambucano, Nordeste do Brasil, há um ideal de infância que se encontra relacionado ao não trabalho, à escolarização e à ludicidade. Contudo, essa compreensão de infância não foi vivenciada pelas gerações de avós e mães das crianças da geração contemporânea. Essa negação está, sobretudo, assentada na necessidade que lhes foi imposta pelo trabalho precoce e pela ausência total ou parcial de escolarização. Diferente das predecessoras, a geração atual de crianças encontra-se determinantemente marcada pela escolarização e largamente ausente do trabalho infantil, o que vem configurando uma importante mudança na forma em que a infância é vivenciada nesse contexto. O presente texto refletirá sobre essas mudanças que reverberam em uma maior atenção para as crianças no meio rural e surgem a partir de um processo de institucionalização da infância. Esse processo ganha força a partir da implementação e efetivação de programas sociais de transferência condicionada de renda, a exemplo do Programa Bolsa Família, que nesse contexto vem mudando, entre outras coisas, o lugar de socialização das crianças rurais e as marcas geracionais da infância.

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Biografia do Autor

  • Patrícia Oliveira S. dos Santos, Universidade Federal de Campina Grande
    Patrícia Oliveira S. dos Santos é Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande. Mestre em Antropologia, bacharel e licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Paraíba. É membro do grupo de pesquisa Crias: criança, sociedade e cultura. Recentemente tem se dedicado a pesquisar entre as crianças rurais do Agreste Pernambucano.
  • Flávia Ferreira Pires, Universidade Federal da Paraíba
    Flávia Ferreira Pires é professora da Pós-Graduação em Sociologia e da Pós-Graduação em antropologia da Universidade Federal da Paraíba, membro da Global Young Academy, pesquisadora produtividade do CNPq, líder do grupo de pesquisa CRIAS: Criança, Sociedade e Cultura. Pesquisa infância e crianças em seus mais diversos desdobramentos teóricos, éticos, metodológicos e etnográficos.      

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Publicado

2018-08-14

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

A invenção da infância: Mudança geracional na comunidade de Feira Nova (Orobó – PE) a partir do Programa Bolsa Família. (2018). Revista De Antropologia, 61(2), 156-186. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2018.148951