As histórias dos outros

Autores

  • Marina Vanzolini Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2018.152164

Palavras-chave:

Mito, Aweti, Alto Xingu, teoria do conhecimento, ontologia

Resumo

Assim como outros povos amazônicos, os Aweti – povo tupi que habita a região dos formadores do rio Xingu – costuma designar certas narrativas por uma expressão que pode ser traduzida por “história dos antigos”. No mais das vezes, contudo, referem-se a elas simplesmente como “histórias” ou, mais precisamente, tomowkap, termo cuja tradução literal seria “instrumento de orientar”, e que pode designar igualmente o relato de um evento ocorrido no passado recente. O que segue é uma tentativa de levar a sério esse fato – a (ou certa) indiscernibilidade do mito em relação a outros tipos narrativos – explorando suas implicações epistemológicas e ontológicas. A aposta deste artigo é que isso pode nos dizer algo sobre o que os Aweti pensam, não apenas sobre a natureza disso que chamamos mito, mas também sobre a natureza do conhecimento que se pode ter do mundo de forma geral e, com isso, sobre a natureza do seu mundo.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Marina Vanzolini, Universidade de São Paulo
    Marina Vanzolini é professora do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo. É autora de A flecha do ciúme. O parentesco e seu avesso segundo os Aweti do Alto Xingu e diversos artigos centrados em sua experiência entre os Aweti, com quem trabalha desde 2004.

Referências

BALL, Christopher Gordon. 2007. Out of the Park: Trajectories of Wauja (Xingu Arawak) Language and Culture. Chicago, tese de doutorado, University of Chicago.

BARCELOS NETO, Aristóteles. 2008. Apapaatai. Rituais de máscaras no Alto Xingu. São Paulo, Edusp.

BASSO, Ellen B. 1973. The Kalapalo Indians of Central Brazil. Nova York, Holt, Rinehart and Winston. 157p.

BASSO, Ellen B. 1987. In Favour of Deceit. A Study of Tricksters in an Amazonian Society. Tucson, The University of Arizona Press.

BASSO, Ellen B. 1995. The Last Cannibals: A South American Oral History. Austin, University of Texas Press.

BASTOS, Rafael. 2013. A festa da Jaguatirica: uma partitura crítico-

interpretativa. Florianópolis, Editora da UFSC.

CALAVIA, Oscar. 2002. “A variação mítica como reflexão”. Revista de

Antropologia. São Paulo, v. 45, n. 1.

CHARBONNIER, Georges. 1989 (1961). Entrevistas com Claude Lévi-Strauss. Campinas, Papirus.

CESARINO, Pedro. 2011. Oniska. Poética do xamanismo na Amazônia. São Paulo, Editora Perspectiva.

COELHO DE SOUZA, Marcela. 2001. “Virando gente: notas a uma história aweti”. In FRANCHETTO, B. e HECKENBERGER, M. (orgs.). Os povos do Alto Xingu: história e cultura. Rio de Janeiro, UFRJ. pp. 358-400.

DÉLÉAGE, Pierre. 2010. Le Chant de l’anaconda. L’Apprentissage du chamanisme chez les Sharanahua (Amazonie occidentale) . Nanterre, Société d’ethnologie.

DURKHEIM, Emille. 1996 (1912). As formas elementares da vida religiosa. São Paulo, Martins Fontes.

DRUDE, Sebastia. 2009. “Awetí in Relation with Kamayurá: The Two Tupian Languages of the Upper Xingu”. In FRANCHETTO, Bruna (org.). Alto Xingu. Uma sociedade multilíngüe. Rio de Janeiro, Museu Nacional / UFRJ.

ERIBON, Didier e LÉVI-STRAUSS, Claude. 2005 (1988). De perto e de longe. São Paulo, Cosac Naify.

FRANCHETTO, Bruna. 1986. Falar Kuikuro: estudo etnolinguistico de um grupo karíbe do Alto Xingu. Rio de Janeiro, tese de doutorado, Museu Nacional, UFRJ.

FRANCHETTO, Bruna. 1993. “A celebração da história nos discursos cerimoniais kuikuro. (Alto Xingu)”. In CARNEIRO DA CUNHA, Manuela e VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo (orgs). Amazônia: etnologia e história indígena. São Paulo, NHII/USP, Fapesp. pp. 95-116.

FRANCHETTO, Bruna. 1998 (1992). “‘O aparecimento dos caraíba’. Para uma história kuikuro e alto-xinguana”. In CARNEIRO DA CUNHA, M. (org.). História dos índios do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras. pp 339-356.

GALLOIS, Dominique Tilkin. 1994. Mairi Revisitada. A reintegração da fortaleza de Macapá na tradição oral dos Waiãpi. São Paulo, NHII-USP/FAPESP.

GOW, Peter. 2001. An Amazonian Myth and its History. Oxford, Oxford University Press.

GREGOR, Thomas. 1977. Mehinaku: The Drama of Daily Life in a Brazilian Indian Village. Chicago, The University of Chicago Press.

GUERREIRO JR., Antônio R. 2012. Ancestrais e suas sombras uma etnografia da chefia kalapalo e seu ritual mortuário. Brasília, tese de doutorado, UnB.

HECKENBERGER, Michael. 2000. “Estrutura, história e transformação: a cultura xinguana”. In FRANCHETTO, Bruna e HECKENBERGER, Michael (orgs.).Os povos do Alto Xingu. História e Cultura. Rio de Janeiro, UFRJ.

HECKENBERGER, Michael. 2005. The Ecology of Power. Culture, Place and Personhood in the Southern Amazon A.D. 1000-2000. Nova York, Routledge.

HERZFELD, Michael. 1985. “Lévi-Strauss in the Nation State”. The Journal of American Folklore, v. 98, n. 388: 191-208.

HILL, Jonathan D. (org.). 1988. Rethinking History and Myth. Indigenous South American Perspectives on the Past. Chicago, University of Illinois Press.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1993a (1963). Antropologia estrutural II. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1993b (1991). História de lince. São Paulo, Companhia das Letras.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 2003 (1958). Antropologia estrutural. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 2004a (1962). O pensamento selvagem. Campinas, Papirus.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 2004b (1964). Mitológicas I - O cru e o cozido, tr. Beatriz Perrone-Moisés. Rio de Janeiro, Cosac e Naify.

NOVO, Marina Pereira. 2017. Esse é o meu patikulá: uma etnografia do dinheiro e outras coisas entre os kalapalo de Aiha. São Carlos, tese de doutorado, UFSCar.

MALINOWSKI, Bronislaw. 1988 (1925). Magia, ciência e religião. Lisboa, Edições 70.

NOVELLO, Mario. 2018. O universo inacabado. A nova face da ciência. São Paulo, N-1 Edições.

OVERING, Joanna. 1995. “O mito como história: um problema de tempo, realidade e outras questões”. Mana, Rio de Janeiro, v. 1 , n. 1: 107-140.

PIERRI, Daniel. 2013. “Como acabará essa terra? Reflexões sobre a cataclismologia Guarani- Mbya, à luz da obra de Nimuendajú”. Tellus, Campo Grande, ano 13, n. 24: 159-188.

RENESSE, Nicòdème de. 2017. Seguir ou sair de sua história. Ramificação e antagonismos narrativos entre os Paiter Suruí (tupi-mondé). São Paulo, tese de doutorado, Universidade de São Paulo.

SAHLINS, Marshall. 2008 (1981). Metáforas históricas e realidades míticas. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor.

STANG, Carla. 2009. A Walk to the River in Amazônia: Ordinary Life for the Mehinaku Indians. Londres, Berghahn Books.

STOLZE LIMA, Tânia. 1996. “O Dois e seu Múltiplo: reflexões sobre o perspectivismo em uma cosmologia tupi”. Mana. Estudos de Antropologia Social, v. 2, n. 1: 21-47.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1999. “O pássaro de fogo”. Revista de Antropologia. v. 42, n.1-2.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 2005. Um peixe olhou pra mim. O povo Yudjá e a perspectiva. São Paulo, Unesp.

TURNER, Terence. 1988. “History, Myth, and Social Consciousness among the Kayapó of Central Brasil”. In HILL, J.D (org). Rethinking History and Myth. Indigenous South American Perspectives on the Past. Chicago, University of Illinois Press. pp. 195-213.

TURNER, Terence. 1989. “Commentary: Ethno-Ethnohistory: Myth and History in Native South American Representations of Contact with Western Society”. In HILL, J.D (org). Rethinking History and Myth. Indigenous South American Perspectives on the Past. Chicago, University of Illinois Press. pp.235-281.

VANZOLINI [FIGUEIREDO], Marina. 2014. “Daquilo que não se sabe bem o que é: a indeterminação como poder nos mundos afroindígenas”. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 23: 1-381.

VANZOLINI [FIGUEIREDO], Marina. 2015. A flecha do ciúme. O parentesco e seu avesso segundo os Aweti do Alto Xingu. São Paulo, Terceiro Nome.

VANZOLINI [FIGUEIREDO], Marina. 2016. “Peace and knowledge politics in the upper Xingu”. Common Knowledge. Durham, Duke University Press.

VERNANT, Jean Pierre. 2002. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro, Difel.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. 1977. Indivíduo e sociedade no Alto Xingu. Os Yawalapití. Rio de Janeiro,dissertação de mestrado, Museu Nacional, UFRJ.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. 1996. “Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio”. Mana, v. 2, n. 2: 115–144.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. 2002. A inconstância da alma selvagem. São Paulo, Cosac e Naify.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. 2006. “A floresta de cristal: notas sobre a ontologia dos espíritos amazônicos”. Cadernos de Campo, 14/15: 319-338.

WAGNER, Roy. 1978. Lethal Speech: Daribi Myth as Symbolic Obviation. Ithaca, Cornell University Press.

ZARUR, George. 1975. Parentesco, ritual e economia no Alto Xingu. Brasília, Funai. Seminário Lições de Fala, Centro de Estudos Ameríndios (CEstA-USP), São Paulo, realizado de 4 a 6 de Julho de 2018.

Publicado

2018-11-28

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Vanzolini, M. (2018). As histórias dos outros. Revista De Antropologia, 61(3), 162-184. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2018.152164