Em busca do limiar sonoro: gestos, sons e riscos na afinação das folias

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2021.186654

Palavras-chave:

Folia, afinação, enquadramentos, limiar

Resumo

O artigo aborda a afinação dos instrumentos musicais no contexto religioso e festivo das folias na Taboquinha, localidade rural pertencente ao município de São Francisco, norte de Minas Gerais. O texto chama a atenção para a dinâmica envolvida no processo de afinação, entendendo o fenômeno como uma prática coletiva realizada na interação entre pessoas por meio de uma economia expressiva e comunicativa, envolvendo gestos, objetos, movimentos corporais, olhares, palavras e sonoridades. Nessa direção, a pergunta que anima este exercício não é tanto qual é a afinação ou o que é afinação, mas:  como se afinam os instrumentos? O que acontece quando a prática é realizada? Quais os efeitos produzidos pela afinação? Como a afinação se relaciona com outras situações e momentos do ciclo ritual das folias? O artigo sugere ainda que a afinação, se por um lado cria um enquadramento, um sentido de coletividade e integração; por outro, é permeada de perigos, riscos e incertezas, fazendo dela uma busca constante, um movimento contínuo, um limiar entre tensões, alturas e frequências.   

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Wagner Diniz Chaves, Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Wagner Diniz Chaves é antropólogo, professor do Departamento de Antropologia Cultural do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (DAC/IFCS/UFRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da mesma universidade.

Referências

AMES, Eric. 2003. “The sound of evolution”. Modernism /Modernity, v.10, n.2: 297-325. https://doi.org/10.1353/mod.2003.0030

ANDRADE, Mário de. [1928] 1972. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo, Martins Fontes.

ARAGÃO, Pedro de Moura. 2005. Luiz Heitor Corrêa de Azevedo e os Estudos de Folclore no Brasil: uma análise de sua trajetória na Escola Nacional de Música (1932-1947). Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

AUSTIN, John L. 1962. How to do Things With Words. Cambridge: Harvard University Press.

AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. 1950. “Violas”. In AZEVEDO Luiz Heitor Corrêa de. (org.), Relação dos discos gravados no estado de Goiás. Rio de Janeiro, Centro de Pesquisas Folclóricas, n.2, pp. 34-38.

BAILY, John e DRIVER, Peter. 1992. “Spatio-motor thinking in playing folk blues guitar”. The world of music, v. 34, n. 3: 57-71. https://www.jstor.org/stable/43563264

BARROS, Felipe. 2013. Música, etnografia e arquivo nos anos 40: Luiz Heitor Correa de Azevedo e suas viagens a Goiás (1942), Ceará (1943) e Minas Gerais (1944). Rio de Janeiro, Multifoco.

BASTOS, Rafael José de Menezes. 1993. “Esboço de uma teoria da música: para além de uma antropologia sem música e de uma musicologia sem homem”. Anuário Antropológico, Brasília, v. 18, n.1: 9-73.

BATES, Eliot. 2012. “The social life of musical instruments”. Ethnomusicology, v. 56, n. 3: 363-395. https://doi.org/10.5406/ethnomusicology.56.3.0363

BATESON, Gregory. [1972] 2000. “Uma teoria sobre brincadeira e fantasia”. Cadernos IPUB, v. 5: 35-49.

BAUMAN, Richard. 1977. Verbal art as performance. Massachusetts, Newbury House Publishers.

BAUMAN, Richard & BRIGGS, Charles L. 1990. “Poetics and performance as critical perspectives on language and social life”. Annual Review of Anthropology, v. 19: 59-88. https://doi.org/10.1146/annurev.an.19.100190.000423

BITTER, Daniel. 2010. A bandeira e a máscara: a circulação de objetos rituais nas Folias de Reis. Rio de Janeiro, 7Letras.

BLUM, Stephen. “Analysis of musical style”. In, MEYER, Helen. (org.), Ethnomusicology: an introduction, New York and London, W. W. Norton & Company, pp.165-213.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. 1977. “A Folia de Reis de Mossâmedes”. Cadernos de Folclore, v. 20 Rio de Janeiro, FUNARTE.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. 1981. Sacerdotes da viola. Petrópolis, Vozes.

CHAVES, Wagner. 2009. A bandeira é o santo e o santo não é a bandeira: práticas de presentificação do santo nas Folias de Reis e de São José. Rio de Janeiro, Tese de Doutorado, Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

CHAVES, Wagner. 2014a. “Canto, voz e presença: uma análise do poder da palavra cantada nas folias norte-mineiras”. Mana - Estudos de Antropologia Social, v. 20, n. 2:, 249-280. https://doi.org/10.1590/S0104-93132014000200002

CHAVES, Wagner. 2014b “A origem da folia de reis na tradição oral: variações de um mito”. In: OLIVEIRA, Humbertho. (org.), Mitos, folias e vivências. Rio de Janeiro, Mauad / Bapera, pp 65-88.

CHAVES, Wagner. 2020. “Tudo é e não é”: paradoxos e antinomias no pensamento de Riobaldo e no imaginário de violeiros do vale do São Francisco, norte de Minas Gerais”. Religião & Sociedade, v. 40, n. 2: 75-97. https://doi.org/10.1590/0100-85872020v40n2cap04

CHAVES, Wagner e FONSECA, Edilberto. 2005. Sons de couros e cordas: instrumentos musicais tradicionais de São Francisco, MG. Rio de Janeiro, Iphan/CNFCP, 40pgs.

DE VALLE, Sue. 1990. “Organizing organology”. Selected reports in ethnomusicology, v. 9: 1-34.

DOUGLAS, Mary. [1966] 1976. Pureza e perigo. São Paulo, Perspectiva.

ELLIS, Alexander. 1885. “On the musical scales of various nations”. Journal of the royal society of arts, v. 33: 485-527.

EVEREST, F. Alton; POHLMANN, Ken. 2009. Master Handbook of Acoustics. New York, McGraw Hill.

GOFFMAN, Erving. 1974. Frame Analysis. New York, Harper & Row.

HENNION, Antoine. 2003, “Music and mediation: toward a new sociology of music”. In CLAYTON, Martin; HERBERT, Trevor. MIDDLETON, Richard. (orgs.), The Cultural Study Of Music: a critical introduction. London and New York, Routledge, pp.80-92.

HENNION, Antoine. 2011. “Pragmática do gosto”. Desigualdade & diversidade, v. 8: 253-277.

HOLANDA, Sergio Buarque de. [1936] 1978. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro, José Olympio.

HORNBOSTEL, Erich e SACHS, Curt. [1914] 1961. “Classification of musical instruments”. Galpin society jornal, 14, 3-29.

INGOLD, Tim. [2011] 2015. “Quatro objeções ao conceito de paisagem sonora”. In: INGOLD, Tim. Estar Vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis, Vozes, pp. 206-210.

IRVING, David. 2009. “Comparative organography in early modern empires”. Music & Letters, v. 90, n.3: 372-398. https://doi.org/10.1093/ml/gcp010

JAKOBSON, Roman. [1960] 1973. “Lingüística e poética”. In: JAKOBSON, Roman. Lingüística e comunicação. São Paulo, Cultrix, pp.118-162.

LEVI-STRAUSS, Claude. [1964] 2004.O cru e o cozido. São Paulo, Cosac & Naify.

MALINOWSKI, Bronislaw. [1922] 1978. Argonautas do pacífico ocidental. São Paulo, Abril.

MALINOWSKI, Bronislaw. [1930] 1972. “O problema do significado em linguagens primitivas”. In OGDEN & RICHARDS, A. (orgs.), O significado de significado. Rio de Janeiro, Zahar, pp. 295-330.

MAUSS, Marcel. [1925] 2003. “Ensaios obre a dádiva: forma e razão da troca em sociedades arcaicas”. In MAUSS, Marcel, Sociologia e antropologia. São Paulo, Cosac & Naify, pp.185-314.

MENDONÇA, Cecília. 2012. A coleção Luiz Heitor Corrêa de Azevedo: música, memória e patrimônio. Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

NETTL, Bruno. [1983] 2005a. The Study of Ethnomusicology: twenty-nine issues and concepts. Urbana e Chicago, University of Illinois Press.

NETTL, Bruno. 2005b. “A year of anniversaries”. SEM Newsletter, v.39, n.3, p.5.

OLIVEIRA PINTO, Tiago de. 2001. “Som e música. Questões de uma Antropologia Sonora”. Revista de Antropologia, v. 44, n.1: 222-286. https://doi.org/10.1590/S0034-77012001000100007

OLIVEIRA PINTO, Tiago de. 2004. “Cem anos de etnomusicologia e a ‘era fonográfica’ da disciplina no Brasil”. Anais do II Encontro Nacional de Etnomusicologia, Salvador, Contexto, pp. 103-124.

PEREIRA, Luzimar. 2012. Os giros do sagrado: um estudo etnográfico sobre as folias em Urucuia, MG. Rio de Janeiro, 7Letras.

PEREIRA, Luzimar. 2014. “O 'giro' dos outros: fundamentos e sistemas nas folias de Urucuia, MG.” Mana – Estudos de Antropologia Social, v. 20, n.3: 545-573. https://doi.org/10.1590/S0104-93132014000300005

PITT-RIVERS, Julian. [1977] 2012. “The law of hospitality”. HAU: journal of ethnographic theory, v. 2, n. 1: 501-517.

REILY, Ana Suzel. 2002. Voices of the magi: enchanted journeys in southeast Brazil. Chicago studies in ethnomusicology, The University of Chicago Press.

ROSA, João Guimarães. [1956] 1985. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro. Nova Fronteira.

SCHAFER, R. Murray. [1977] 1997. A afinação do mundo. São Paulo, Editora Unesp.

SCHUTZ, Alfred. [1951] 1976. "Making music together". In BRODERSEN, Arvid. (ed.), Collected papers II: studies in social theory. The Hague, Martinus Nijhoff, pp.159-178.

SEEGER, Anthony. 1987. “Novos horizontes na classificação dos instrumentos musicais”. In RIBEIRO, Darcy. (org.), Arte índia: suma etnológica brasileira, vol.3, Petrópolis, Vozes, pp.173-179.

SIMMEL, Georg. [1902] 2016. “A moldura: um ensaio estético”. In VILLAS BÔAS, Glaucia e OELZE, Berthold. (orgs.), Arte e vida: ensaios de estética sociológica. São Paulo, Hucitec Editora, pp.167-173.

SMALL, Christopher. 1998. Musicking: the meanings of performance and listening. Middletown, Wesleyan University Press.

STOLLER, Paul. 1989. The Taste Of Ethnographic Things: the senses in Anthropology. University of Pennsylvania Press.

TAMBIAH, Stanley J. [1979] 1985. “A performative approach to ritual”. In: TAMBIAH, Stanley J. Culture, Thought, And Social Action: an anthropological perspective. Cambridge, Harvard University Press, pp. 113-169.

TRAVASSOS, Elizabeth. 1987. “Glossário dos instrumentos musicais”. In RIBEIRO, Darcy. (org.), Arte índia: suma etnológica brasileira, vol.3, Petrópolis, Vozes, pp.180-187.

TURNER, Victor. [1967] 2005. “Betwix and between: o período liminar nos ‘ritos de passagem’”. In Floresta dos símbolos: aspectos do ritual Ndembu. Niterói, EdUFF, pp.137-158.

TURNER, Victor. [1969] 2013. “Liminaridade e communitas”. In O processo ritual: estrutura e antiestrutura. Petrópolis, Vozes, pp.97-126.

VAN GENNEP, Arnold. [1908] 2011. Os ritos de passagem. Petrópolis, Vozes.

WISNIK, José Miguel. 1989. O som e o sentido. São Paulo, Companhia das Letras.

Publicado

2021-06-30

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Chaves, W. D. (2021). Em busca do limiar sonoro: gestos, sons e riscos na afinação das folias. Revista De Antropologia, 64(2), e186654. https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2021.186654