A humanidade e seu(s) gênero(s): mito, parentesco e diferença no noroeste amazônico

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192786

Palavras-chave:

Noroeste Amazônico, Mito, Parentesco

Resumo

Este artigo pretende articular duas investigações etnográficas, entre os Tukano e Baniwa, que abordam a relação entre parentesco e mito. Pretende-se compreender a produção das diferenças sociocosmológicas no Noroeste Amazônico recorrendo-se às narrativas míticas da origem da humanidade. A análise seguirá os acontecimentos que se desdobram a partir de Jurupari, uma criança extraordinária e artefato cerimonial possuidor de capacidades reprodutivas; da cobra-canoa, um animal-objeto-útero que gesta a humanidade; dos nascimentos nas cachoeiras de Hipana e Ipanoré; do adultério com uma cobra-homem branco; e da guerra entre homens e mulheres. Todos estes eventos, personagens e relações, articulam de modo complexo transespecificidade e relações de sexo cruzado. Esperamos ao final evidenciar esses dois distintos modos pelos quais a humanidade atual é estabilizada a partir de um fundo virtual de alteridade, notando as importantes transformações tukano e baniwa no Alto Rio Negro.  

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Geraldo Andrello, Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, SP, Brasil

    Geraldo Andrello é antropólogo e professor associado no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos. É pesquisador do LETS (Laboratório de Etnologias Transespecífica), da UFSCar.

  • João Vianna , Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, ES, Brasil

    João Vianna é antropólogo, psicólogo e professor adjunto na Universidade Federal do Espírito Santo. É pesquisador vice-líder do GAIA: Núcleo de Estudos dos Povos da Terra e pesquisador do Organon - Núcleo de estudo, pesquisa e extensão em mobilizações sociais.

Referências

ACEP. 2012. O que a gente precisa para viver e estar bem no mundo. v. 1 e 2, São Gabriel da Cachoeira, ACEP. Disponível em <https://issuu.com/instituto-socioambiental/docs/manejo_pamaali_portugues> acesso em 20 de abril de 2016.

ANDRELLO, Geraldo. 2006. Cidade do Índio. Transformações e cotidiano em Iauareté. São Paulo, Editora UNESP- ISA; Rio de Janeiro, NUTI.

ARHEM, Kaj; CAYÓN, Luis; ANGULO, Gladys; GARCIA, Maximiliano. 2004. Etnografia makuna: tradiciones, relatos y saberes de la gente de água. Bogotá, Acta Universitatis Gothenburgensis & Instituto Colombiano de Antropología e Histooria.

BARBOSA RODRIGUES, João. 1890. Poranduba Amazonense. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. 14, n. 2. Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/402630/per402630_1980_00100.pdf acesso em 23 de agosto de 2021.

BAYARU, Tõrãmu; YE NI, Guahari. 2004. Livro dos antigos Desana – Guahari Diputiro Porã. São Gabriel da Cachoeira, ONIMRP/FOIRN.

BELAUNDE, Luisa Elvira. 2006. A força dos pensamentos, o fedor do sangue. Hematologia e gênero na Amazônia. Revista de Antropologia vol. 49, n. 1: 205-243. DOI https://doi.org/10.1590/S0034-77012006000100007

BOLLENS, Jacqueline. 1967. Mythe de Jurupari – Introduction à une analyse. L’Homme, vol. 7, n.1: 50-66. https://doi.org/10.3406/hom.1967.366858

BRANDÃO DE AMORIM, Antonio. 1987 [1926]. Lendas em Nheengatu e em Português. Manaus, Fundo Editorial - ACA.

CABALZAR, Aloísio. 2008. Filhos da Cobra de Pedra: organização social e trajetórias tuyuka no rio Tiquié (noroeste amazônico). São Paulo, Editora da Unesp/ISA/NuTI.

CARDOSO, Júlio. [s/d]. Novo Milênio: as histórias e a vida de Júlio Cardoso Awadzoro. São Gabriel da Cachoeira, [s/e]. (mimeo)

CAYÓN, Luis. 2013. Pienso, logo creo. La teoria Makuna del mundo. Bogotá, Instituto Colombiano de História y Antropologia.

CHERNELA, Janet. 1988. “Rethinking history in the Northwest Amazon. Myth, structure, and history in an Arapaço narrative”. In.: HILL, Jonathan D. (éd.), Rethinking History and Myth. Indigenous South American Perspectives on the Past. Urbana, University of Iillinois Press, pp. 35-49.

CORNELIO, José; FONTES, Ricardo; SILVA, Manuel. 1999. Waferinaipe Ianheke. A Sabedoria dos Nossos Antepassados. Histórias dos Hohodene e dos Walipere-Dakenai do rio Aiari. Coleção Narradores Indígenas do Rio Negro. São Gabriel da Cachoeira, FOIRN.

DIAKURU [Américo Castro Fernandes); KISIBI (Durvalino Moura Fernandes). 1996. A mitologia sagrada dos Desana-Wari Dihputiro Põrã. São Gabriel da Cachoeira, UNIRT/FOIRN.

FONTES, Francineia. 2019. Hiipana, eeno hiepolekoa: construindo um pensamento antropológico a partir da mitologia Baniwa e de suas transformações. Rio de Janeiro, Dissertação de mestrado, Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

GARNELO, Luiza. 2002. Poder, Hierarquia e Reciprocidade: saúde e harmonia entre os Baniwa do Alto Rio Negro. Campinas, Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas.

GARNELO, Luiza; ALBUQUERQUE, Gabriel; SAMPAIO, Suelly; BRANDÃO, Luiz Carlos. (Orgs.) (2005). Cultura, escola, tradição: mitoteca na escola Baniwa. Manaus, RASI/UFAM.

GENTIL, Gabriel. 2000. Mito Tukano. Quatro Tempos de Antiguidades. Zurich/Basel, Waldgut.

HILL, Jonathann. 1993. Keepers of Sacred Chants. The Poetics of Ritual Power in an Amazonian Society. Tucson, The University of Arizona Press.

HILL, Jonathann. 2009. Made from Bone. Trickster Myths, Music, and History from the Amazon. Urbana/Chiacago, University of Illinois Press.

HILL, Jonathan; CHAUMEIL, Jean-Pierre (Orgs). 2011. Burst of Breath: New Research on Indigenous Ritual Wind Instruments in Lowland South America. Lincoln, University of Nebraska.

HUGH-JONES, Christine. 1979. From the Milk River. Spatial and Temporal Processes in North-west Amazonia. Cambridge, Cambridge University Press.

HUGH-JONES, Stephen. 1979. The Palm and the Pleiades: Initiation and Cosmology in North-west Amazonia. Cambridge, Cambridge University Press.

HUGH-JONES, Stephen. 1995. “Inside-out and back-to-front: the androgynous house in Northwest Amazonia”. In: CARSTEN, Janet; HUGH-JONES, Stephen (eds.), About the house. Lévi-Strauss and Beyond. Cambridge: Cambridge University Press. pp.226-252.

HUGH-JONES, Stephen. 1996. Resenha de La paix des jardins: Structures sociales des Indiens curripaco du haut Rio Negro (Colombie), de Nicolas Journet. American Anthropologist, vol. 98: 672–673. DOI https://doi.org/10.1525/aa.1996.98.3.02a00510

HUGH-JONES, Stephen. 2001. “The Gender of some Amazonian Gifts: An Experiment with an Experiment”. In: GREGOR, Thomas; TUZIN, Donald. (eds.), Gender in Amazonia and Melanesia. Berkeley: University of California Press. pp. 245-278.

HUGH-JONES, Stephen. 2013. Bride-service and the absent gift. Journal of the Royal Anthropological Institute, 19/2: 356-377. https://doi.org/10.1111/1467-9655.12037

HUGH-JONES, Stephen. 2019. Thinking through Tubes: Flowing H/air and Synaesthesia. Tipití: Journal of the Society for the Anthropology of Lowland South America: Vol. 16: n. 2: 20-46.

JACKSON, Jean. 1983. Fish People. Linguistic exogamy and Tukanoan identity in Northwest Amazonia. Cambridge: Cambridge University Press

JESUS, Adriano de; JESUS, Pedro de; Aguiar, Luís. 2018. Ennu Ianáperi. História dos Tariano pelo clã Koivathe. São Gabriel da Cachoeira, COIDI/FOIRN.

JOURNET, Nicholas. 1995. La paix des jardins: Structures sociales des Indiens curripaco du haut Rio Negro (Colombie). Paris, Institut D’Ethnologie, Musée de L’Homme.

JOURNET, Nicholas. 2006. Sacred Flutes as the Medium for an Avowed Secret in Curripaco Masculine Ritual. Sevilla, 52nd International Congress of Americanists.

KARADIMAS, Dimitri. 2008. La métamorphose de Yurupari: flûtes, trompes et reproduction rituelle dans le Nord-Ouest amazonien. Journal de la Société des Americaniste, vol. 94, n. 1: 127-169. DOI https://doi.org/10.4000/jsa.9253

KELLY, José. 2005. Notas para uma teoria do “virar branco”. Mana – Estudos de Antropologia Social, vol. 11, n.1: 201-234. DOI https://doi.org/10.1590/S0104-93132005000100007

LÉVI-STRAUSS, Claude. 2004. O Cru e o Cozido. São Paulo, Cosac Naify.

MAIA, Arlindo; ANDRELLO, Geraldo. 2019. Ye'pâ-Di'iro-Mahsã, gente de carne da terra: os Tukano do rio Vaupés. Mundo Amazónico, 10(1): 53-81.

MAIA, Moisés; MAIA, Tiago. 2004. Yekisimia Masîke’. O conhecimento dos nossos antepassados. Uma narrativa Oyé. São Gabriel da Cachoeira, COIDI/FOIRN.

MICH, Tadeusz. 1994. The Yuruparí Complex of the Yucuna Indians. The Yuruparí Rite Source. Anthropos, vol. 89, n. 1/3: 39-49. Disponível em https://www.jstor.org/stable/40463193, acesso em 23 de agosto de 2021.

NAHURI [Miguel Azevedo] & KUMARÕ [Antenor Azevedo]. 2003. Dahsea Hausirõ Poã ukushe wiophesase merã bueri turi. Mitologia sagrada dos Tukano Hausirõ Porã. São Gabriel da Cachoeira, UNIRT/FOIRN.

PANLÕN KUMU, Umusi [Firmiano Arantes Lana]; KEHÍRI, Tõrãmu [Luiz Gomes Lana]. 1995. Antes o mundo não existia. Mitologia dos antigos Desana-Kehíripõrã. São Gabriel da Cachoeira, UNIRT/FOIRN.

RAMIREZ, Henri. 2001. Dicionário Baniwa Português. Manaus, Ed. Universidade do Amazonas.

REICHEL-DOLMATOFF, Gerardo. 1996. Yuruparí: studies of an Amazonian foundation myth. Cambridge/Massachusetts, Harvard University press.

REID, Howard. 1979. Some aspects of movement, growth and change among the Hupdu Maku indians of Brazil. Cambridge, Tese de doutorado, University of Cambridge.

ROJAS, Filintro. 1997. Ciencias naturales em la mitología Curripaco. Guainia, Fundación Etnollano.

SAAKE, Wilhelm G. 1976. “O mito do Jurupari entre os Baníwa do rio Içana”. In SCHADEN, Egon. (org.), Leituras de Etnologia Brasileira. São Paulo, Companhia Editora Nacional. pp. 277-285.

SCOLFARO, Aline, OLIVEIRA, Ana Gita; HERNÁNDEZ, Natalia; GÓMEZ, Silvia. 2014. Cartografia dos Sítios Sagrados. São Paulo, Instituto Socioambiental.

SORENSEN, Arthur. 1967. Multilingualism in the Northwest Amazon. American Anthropologist, vol.69, n.6: 670-684. DOI https://doi.org/10.1525/aa.1967.69.6.02a00030

STRATHERN, Marilyn. 1988. The Gender of the Gift. Cambridge, Cambridge University Press.

STRADELLI, Ermano. 2009. Lendas e notas de viagem. A Amazônia de Ermano Stradelli. São Paulo, Martins Fontes.

VIANNA, João. 2017. Kowai e os Nascidos: a mitopoese do parentesco Baniwa. Florianópolis, Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina.

VIANNA, João. 2020. A coafinidade baniwa: descrições e modelos no Noroeste Amazônico. Maloca. Revista de Estudos Indígenas, vol. 3, n. 1: e020009. DOI https://doi.org/10.20396/maloca.v3i.13502

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002. “O problema da afinidade na Amazônia” In: VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem. São Paulo, Cosac e Naify, pp. 87-180.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2007a. Filiação intensiva e aliança demoníaca. Novos estudos CEBRAP. Vol. 77: 91-126. DOI https://doi.org/10.1590/S0101-33002007000100006

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2007b. “Xamanismo transversal, Lévi-Strauss e a cosmopolítica amazônica”. In: QUEIROZ, Rubem Caixeta de; NOBRE, Renarde Freire (org). Lévi-Strauss: leituras brasileiras. Belo Horizonte: UFMG, pp.87-136.

WAGNER, Roy. 2010. A invenção da cultura. São Paulo, Cosac e Naify.

WRIGHT, Robin. 1993-1994. Umawali. Hohodene myths of the Anaconda, father of fish. Bulletin de la Société Suisse des Américanistes, Genebra, v. 57/58: 37-48. http://www.sag-ssa.ch/bssa/pdf/bssa57-58_05.pdf

WRIGHT, Robin. 2013. Mysteries of the jaguar shamans of the northwest Amazon. Lincoln, University of Nebraska Press.

WRIGHT, Robin. 2017. As tradições sagradas de Kuwai entre os povos aruaque setentrionais: estruturas, movimentos e variações. Mana – Estudos de Antropologia Social, vol. 23, n. 3: 609-652. DOI https://doi.org/10.1590/1678-49442017v23n3p609

Downloads

Publicado

2022-04-27

Edição

Seção

Dossiê - Entre a mitologia e a etnografia: transformações nas Américas indígenas

Como Citar

Andrello, G., & Vianna , J. (2022). A humanidade e seu(s) gênero(s): mito, parentesco e diferença no noroeste amazônico. Revista De Antropologia, 65(1), e192786. https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192786