Nordeste, contracultura e Cultura Popular: lugares cognitivos e ficções persistentes na poética de João do Crato

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.198022

Palavras-chave:

Sexualidade, espacialidades, etnobiografia, nordeste, cultura popular

Resumo

Ao longo dos quarenta anos de percurso como cantor e ativista, João do Crato valeu-se inúmeras vezes do fato de estar fora do lugar: foi cantor de rock no interior do Ceará nas décadas de 1970 e 1980; sustenta uma performatividade de gênero excessivamente sinuosa para os bairros periféricos onde se apresenta e milita; consegue transitar livremente entre grupos diversos de cultura popular e manifestações próximas às culturas de matrizes africanas na região do Cariri (CE). Apoiados em narrativas do cantor e companheiros(as) de militância, refletiremos sobre deslocamentos efetuados em torno da recepção de marcadores sociais expressos pelo artista. A ação contínua empreendida a partir dos palcos notabiliza a trajetória de João como forma expressiva das vivências no interior do Ceará, ao tempo que modula estereótipos sobre a imobilidade de uma cultura popular autêntica e fixidez das oposições entre masculino e feminino em áreas rurais e periféricas. Ao tratar mundo rural e cultura popular como cenários de diferenças, João potencializa o reconhecimento de um lugar para si e para seu público a partir dos deslocamentos que provoca.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Roberto Marques, Universidade Estadual do Ceará e Universidade Regional do Cariri

    Roberto Marques é professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual do Ceará (PPGS/UECE) e Professor Associado do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri. Doutor em Antropologia Cultural pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2011), com Estágio Pós-Doutoral pela mesma instituição (2014) e junto ao Núcleo de Estudos de Gênero Pagu/Unicamp (2018).

Referências

AIRES, Mary Pimentel.1994. Terral dos sonhos. O cearense na música popular brasileira. Fortaleza: Secretaria da Cultura e Desporto do Estado do Ceará/Multigraf ed.

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. 2001. A Invenção do Nordeste e outras artes. Recife, Fundação Joaquim Nabuco e Ed. Massangana; São Paulo, Cortez.

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. 2003. Nordestino: uma invenção do falo: uma história do gênero masculino (Nordeste- 1920/1940). Maceió, Catavento.

ARCOS-PALMA, Ricardo. 2006. “Foucault e Deleuze: a existência como uma obra de arte”. In: GONDRA, José e KOHN, Walter (orgs.). Foucault 80 anos. Belo Horizonte, Autêntica, pp. 283- 298.

BARROS, Luitgarde Oliveira Cavalcanti. 1988. A Terra da mãe de Deus. Um estudo do movimento religioso de Juazeiro do Norte. Rio de Janeiro, Francisco Alves; Brasília: INL.

BARDI, Lina Bo. 2007. “Por que Nordeste? ”. In: BASUALDO, Carlos (org.). Tropicália. Uma revolução na cultura brasileira. São Paulo, Cosac & Naify, pp. 215-216.

BASUALDO, Carlos. 2007. “Vanguarda, cultura popular e indústria cultural no Brasil”. In: BASUALDO, Carlos (org.). Tropicália. Uma revolução na cultura brasileira. São Paulo, Cosac & Naify, pp. 11-28.

BHABHA, Homi. 1998 [1994]. O local da cultura. Belo Horizonte, Ed. UFMG.

BRAH, Avtar. 2006. “Diferença, diversidade, diferenciação”. Cadernos Pagu, n. 26: 329-376. DOI https://www.doi.org/10.1590/S0104-83332006000100014.

BUTLER, Judith. 2018. Corpos em aliança e a política das ruas. Notas para uma teoria performativa de assembleia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira.

BUTLER, Judith. 2019. Corpos que importam. Os limites discursivos do “sexo”. São Paulo, N-1 edições.

CAMURÇA, Marcelo. 1994. Marretas, molambudos e rabelistas. A revolta de 1914 no Juazeiro. São Paulo, Maltese.

CRAPANZANO, Vincent. 1982. Tahumi. Portrait of a Moroccan. Chicago: University of Chicago Press.

CRAPANZANO, Vincent. 1984. “Life-histories”. American Anthropologist, vol. 86, n. 4: 953-960. Disponível em: www.jstor.org/stable/679192 . Acesso em: 26 mai. 2014.

DELLA CAVA, Ralph. 1977. Milagre em Joaseiro. Paz e Terra, Rio de Janeiro.

DIAS, Carlos Rafael. 2014. Da flor da terra aos guerreiros cariris: Representações e identidades do Cariri cearense (1855–1980). Campina Grande, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Campina Grande.

DREYFUS, Dominique. 1997. Vida de viajante: A Saga de Luiz Gonzaga. São Paulo, Editora 34.

DURHAM, Eunice Ribeiro. 1973. A caminho da cidade: a vida rural e a migração para São Paulo. São Paulo, Perspectiva.

GADELHA, Simone Mary Alexandre. 2018. O Perfume azul, artífice da ruptura: transgressão na cena rock de Fortaleza nos anos 70. Fortaleza, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Ceará.

GONÇALVES, Marco Antônio; MARQUES, Roberto; CARDOSO, Vânia (orgs.). 2012a. Etnobiografia: subjetivação e etnografia. Rio de Janeiro, 7Letras.

GONÇALVES, Marco Antônio; MARQUES, Roberto e CARDOSO, Vânia. 2012b. “Etnobiografia: esboços de um conceito”. In: GONÇALVES, Marco Antônio; MARQUES, Roberto e CARDOSO, Vânia (orgs.). Etnobiografia: subjetivação e etnografia. Rio de Janeiro: 7Letras, pp. 02-12.

GUPTA, Akhil; FERGUSON, James. (ed). 1997. Anthropological locations. Boundaries and Grounds of a Field Science. Berkeley: University of California Press.

HOLLANDA, Heloísa Buarque de. 1980. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde. São Paulo, Brasiliense.

KAMINSKI, Leon (org.). 2019. Contracultura no Brasil, anos 70: circulação, espaços e sociabilidades. Curitiba, CRV.

LUIZ Gonzaga (Luiz Gonzaga do Nascimento) 2002. In: DICIONÁRIO Cravo Albin da música popular brasileira. Rio de Janeiro, Instituto Cultural Cravo Albin, Disponível em: https://dicionariompb.com.br/luiz-gonzaga. Acesso em 25 mar. 2021.

MARQUES, Roberto. 2004. Contracultura, tradição e oralidade: (Re)inventando o sertão nordestino na década de 70. São Paulo, Annablume.

MARQUES, Roberto. 2008. “Nordestinidade, música e desenraizamento ou Eram os tropicalistas nordestinos? ” In: GIUMBELLI, Emerson; DINIZ, Júlio Cesar; NAVES, Santuza Cambraia. Leituras sobre música popular: reflexões sobre sonoridade e cultura. Rio de Janeiro, 7 Letras, pp. 65-82.

MARQUES, Roberto. 2016. “Embaralhando Nordestes: produção de sujeitos, tempos e espaços nas narrativas e performances de João do Crato”. Amazônica: Revista de Antropologia. vol. 8, n. 2: 456- 478. DOI 10.18542/amazonica.v8i2.5052

MARQUES, Roberto. 2019. “Caldeirão de Santa Cruz, Avalon, Craterdam: lugares cognitivos da contracultura no interior do Ceará”. In: KAMINSKI, Leon (org.). Contracultura no Brasil, anos 70: circulação, espaços e sociabilidades. Curitiba, CRV, pp. 171- 194.

MCCLINTOCK, Anne. 2010. Couro imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas: Ed. Unicamp.

NEGRÃO, Lísias Nogueira. 2001. “Revisitando o messianismo no Brasil e profetizando seu futuro”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 16, n. 46: 119-129.

ORTIZ, Renato. 1987. A Moderna tradição brasileira. São Paulo: brasiliense.

PINHEIRO, Irineu; FIGUEIREDO FILHO, J. de. 1955. Cidade do Crato. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional.

PISCITELLI, Adriana. 2008. “Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes brasileiras”. Sociedade e Cultura, vol. 11, n.2: 263-274. DOI https://www.doi.org/10.5216/sec.v11i2.5247

POLLAK, Michel. 1989. “Memória, esquecimento e silêncio”. Estudos Históricos, vol. 2, n. 3: 3-15.

PRATT, Mary Louise. 1999a. “Pós-colonialidade: projeto incompleto ou irrelevante?” In: VÉSCIO, Luiz Eugênio; SANTOS, Pedro Brum (orgs.). Literatura & História. Perspectivas e convergências. Bauru, EDUSC, pp. 17-54.

PRATT, Mary Louise. 1999b. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru, EDUSC.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. 2003 [1965]. O messianismo no Brasil e no mundo. São Paulo, Alga-Omega.

RAPPORT, Nigel. 1992. “From affect to analysis. The biography of an interaction in an English village”. In: OKELY, Judith;CALLAWAY, Helen (eds.). Anthropology and autobiography. New York, Routledge., pp. 191-204.

RAPPORT, Nigel. 1997. Transcendent individual: towards a literary and liberal anthropology. New York, Routledge.

RAPPORT, Nigel. 2000. “The narrative as fieldwork technique. Processual ethnography for a world in motion”. In: AMIT, Vered. (ed.). Constructing the field: ethnographic fieldwork in the contemporary world. New York, Routledge, pp. 71-95.

RAPPORT, Nigel; DAWSON, Andrew. 1998. “Opening a debate”. In: RAPPORT, Nigel and DAWSON (eds.). Migrants of identity. Perception of home in a world of movement. New York: Berg, pp. 3-38.

RISÉRIO, Antônio. 1990. “O solo da sanfona: contextos do rei do baião”. Revista USP, 4, 35- 40.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. 2012. “População e sociedade”. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz (coord.). História do Brasil Nação – vol. 3. A abertura para o mundo: 1889-1930. Rio de Janeiro, Objetiva, pp. 35- 83.

SOUSA, Ednardo Soares (org.). 2010. Massafeira: 30 anos. Som, imagem, movimento, gente. Fortaleza, Edições musicais.

SOUSA, Raimunda Aurilia Ferreira de. 2016. “O lugar do Crato no século XX: morfologia e funções urbanas da aglomeração em estudo”. Geosaberes, vol. 6, n. 3: 454-468.

VELHO, Gilberto. 1977. Utopia urbana. Um estudo de antropologia social. Rio de Janeiro, Zahar.

VELHO, Gilberto. 1999. Projeto e metamorfose: Antropologia das sociedades complexas. Rio de Janeiro, Zahar.

VIEIRA, Sulamita. 2000. O sertão em movimento: a dinâmica da produção cultural. São Paulo, Annablume.

MÚSICAS CITADAS

BELCHIOR. Fotografia 3 x 4. Em: Belchior. Alucinação, 1976, Polygram, LP.

EDNARDO; PONTES, Augusto. A primeira vez que eu vi São Paulo. Em: Ednardo. O romance do pavão mysterioso, 1974, RCA Victor, LP.

LINHARES, Ângela; BEZERRA, Ricardo. Como as primeiras chuvas de caju. Em: Vários. Massafeira, 1980, CBS, LP.

MARCULINO, José. Numa sala de reboco. Em: GONZAGA, Luiz. A Triste partida, 1964, RCA, LP.

MORAIS, Guio de. No Ceará não tem disso, não. Em: GONZAGA, Luiz. Chofer de praça/No Ceará não tem disso não, 1950, Victor, 78 rotações.

REGO, Amorim; GONZAGA, Luiz. O Cheiro da Carolina. Em: Luiz Gonzaga. O cheiro de Carolina/Aboio apaixonado, 1956, Victor, 78 rotações.

RODRIGUES, Sebastião; VALE, João do. Pra onde tu vai baião. Em: GONZAGA, Luiz. Pisa no pilão (Festa do milho), 1963, RCA Victor, 1963.

TEIXEIRA, Humberto. Chá Cutuba. Em: Chá Cutuba, 1977, RCA Camden, LP

VELOSO, Caetano. É proibido proibir/ Ambiente de Festival. Em: Caetano Veloso e Os Mutantes. É proibido proibir/ Ambiente de Festival, 1968, PHILIPS, Compacto simples, 7”.

VELOSO, Caetano; GIL, Gilberto. Eles. Em: VELOSO, Caetano. Caetano Veloso, 1968, Philips, LP.

VELOSO, Caetano; GIL, Gilberto. Panis et circencis. Em: Vários. Tropicália ou Panis et circencis, 1968, Philips, LP.

FILMES CITADOS

Caldeirão de Santa Cruz do deserto. Direção: Rosemberg Cariry, 1986.

Jaguar. Direção: Jean Rouch, 1955.

Publicado

2023-01-06

Edição

Seção

Dossiê - Resistências musicais entre arte e política

Como Citar

Marques, R. (2023). Nordeste, contracultura e Cultura Popular: lugares cognitivos e ficções persistentes na poética de João do Crato. Revista De Antropologia, 65(2), e198022. https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.198022