A troca do fio e os descaminhos do duplo: sonho e vigília entre os Ye’kwana do rio Auaris

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.202291

Palavras-chave:

Etnologia ameríndia, Ye’kwana, sonho, noção de pessoa, cosmopráxis ameríndia

Resumo

O artigo versa sobre reflexões dos Ye’kwana do rio Auaris acerca das experiências oníricas e os seus efeitos na vigília. O sonho é um afastamento temporário do duplo em relação à pessoa (corpo) e, nesse sentido, é expressão dos caminhos e descaminhos do duplo em outros mundos. Meus interlocutores contam que as pessoas comuns não sonham bem, pois ao dormirem seus duplos andam por lugares onde o encontro com entes perigosos é corriqueiro. Diferentemente dos pajés, as pessoas comuns não controlam os percursos de seus duplos durante o sonho. Além de trazer à baila as histórias verdadeiras (wätunnä) sobre a origem da morte, da descontinuidade entre o sonho e a vigília e do sono, o estudo aborda conceitos centrais para o entendimento da configuração da pessoa ye’kwana - duplo (äkaato) e fio do duplo (wadeeku ekaato) - e analisa a onirocrítica nativa, uma reflexão especulativa e prática implicada em futuros possíveis prefigurados nos sonhos.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Majoí Favero Gongora, Universidade de São Paulo

    Majoí Favero Gongora é doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo e pesquisadora associada ao Centro de Estudos Ameríndios-USP. Desde 2013, realiza estudos etnográficos sobre cosmologia e artes verbais do povo Ye’kwana e atua em projetos em parceria com a Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume) e lideranças ye’kwana.

Referências

BARANDIARÁN, Daniel de. 1962. “Shamanismo Yekuana o Marikitare”. In: Antropológica, Caracas, n. 11: 61-90.

BARANDIARÁN, Daniel de. 1979. Introducción a la Cosmovisión de los Indios Ye’kuana-Makiritare. Caracas, Universidad Católica Andrés Bello, Instituto de Investigaciones Históricas, Centro de Lenguas Indígenas.

CÁCERES, Natalia. 2011. Grammaire Fonctionnelle-Typologique du Ye'kwana. Lyon, Tese de Doutorado, Université Lumière Lyon 2.

CESARINO, Pedro de Niemeyer. 2011. Oniska: poética do xamanismo na Amazônia. São Paulo, Perspectiva/; FAPESP.

CESARINO, Pedro de Niemeyer. 2014. “A voz falível – ensaio sobre as formações ameríndias de mundos”. In: Literatura e Sociedade, Departamento de Teoria Literária-USP, vol. 19, n. 19: 75-99. DOI 10.11606/issn.2237-1184.v0i19p76-99.

CIVRIEUX, Marc de. [1970] 1997. Watunna – An Orinoco creation cycle. Austin. University of Texas Press.

COELHO DE SOUZA, Marcela Stockler. 2002. O Traço e o Círculo: o conceito de parentesco entre os Jê e seus antropólogos. Rio de Janeiro, Tese de doutorado, Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 1978. Os Mortos e os Outros: uma análise do sistema funerário e da noção de pessoa entre os índios Krahó. São Paulo, Editora Hucitec.

GALLOIS, Dominique Tilkin. 1988. O Movimento na Cosmologia Waiãpi: Criação, Expansão e Transformação do Mundo. São Paulo, Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo (doutorado).

GONGORA, Majoí Favero. 2017. Ääma ashichaato: replicações, transformações, pessoas e cantos entre os Ye’kwana do rio Auaris. São Paulo, Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo.

GUSS, David M. 1980. “Steering for Dream: Dream Concepts of the Makiritare Indians of Venezuela”. Journal of Latin American Folklore. vol. 6, n. 2: 297-312.

GUSS, David M. 1986. “Keeping it Oral: A Yekuana Ethnology”. American Ethnologist, vol. 13: 413-429.

GUSS, David M. 1990. To Weave and Sing – Art, Symbol and Narrative in the South American Rainforest. Berkeley, University of California Press.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL – ISA. 2014. Território e Comunidades Yanomami Brasil-Venezuela (Mapa).

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. 2015. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo, Companhia da Letras.

LIMA, Tânia Stolze. 1996. O dois e seu múltiplo: reflexões sobre o perspectivismo em uma cosmologia tupi. In: Mana – Estudos De Antropologia Social, vol. 2, n. 2: 21-47. DOI 10.1590/S0104-93131996000200002

LIMA, Tânia Stolze. 1999. Para uma teoria etnográfica da distinção natureza e cultura na cosmologia Juruna. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 14, n. 40: 43-52. DOI 10.1590/S0102-69091999000200004

LIMA, Tânia Stolze. 2005. Um peixe olhou para mim: o povo Yudjá e a perspectiva. São Paulo, Editora Unesp e ISA; Rio de Janeiro: NuTI.

MCCALLUM, Cecilia. 1996. The body that knows: From Cashinahua Epistemology to a Medical Anthropology of Lowland South America. Medical Anthropology Quarterly. New Series, vol. 10, n. 3: 347-372.

MENTORE, George. 1993. “Tempering the social self: body adornment, vital substance, and knowledge among the Waiwai.” In: Journal of Archaeology and Anthropology, n. 9: 22-34.

RIVIÈRE, Peter. 1997. Carib Soul Matter – Since Fock. Journal of the Anthropological Society of Oxford, vol. 28, n. 2:139-148.

RUSSEL, A.; RAHMAN, E. 2015. The Master Plant: Tobacco in Lowland South America. London, New York: Bloomsbury.

SHIRATORI, Karen Gomes. 2013. O acontecimento onírico ameríndio: o tempo desarticulado e as veredas dos possíveis. Rio de Janeiro, Tese de Doutorado, Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

TAYLOR, Anne-Christine. 1996. The Soul's Body and Its States: An Amazonian Perspective on the Nature of Being Human. In: The Journal of the Royal Anthropological Institute, vol. 2, n. 2: 201-215.

VERNANT, Jean-Pierre. [1974] 1999. “Razões do mito”. In: Mito e Sociedade na Grécia Antiga. Rio de Janeiro, José Olympio, pp. 171-197.

VIANNA, João Jackson Bezerra. 2016. Notas cromáticas sobre os sonhos ameríndios: transformações da pessoa e perspectivas. Revista de Antropologia, vol. 59, n. 3: 265-294. DOI 10.11606/2179-0892.ra.2016.124820

VILAÇA, Aparecida. 2005. “Chronically Unstable Bodies: Reflections on Amazonian Corporalities. The Journal of the Royal Anthropological Institute, vol. 11, n. 3: 445-464. DOI 10.1111/j.1467-9655.2005.00245.x

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1986. Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002a. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo, Cosac & Naify.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002b. “O nativo relativo”. In: Mana – Estudos de Antropologia Social, vol.8, n. 1: 113-148. DOI 10.1590/S0104-93132002000100005

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2006. A floresta de cristal: notas sobre a ontologia dos espíritos amazônicos. Cadernos de Campo, n. 14/15: 319-338. DOI 10.11606/issn.2316-9133.v15i14-15p319-338

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2007. Filiação intensiva e aliança demoníaca. Novos estudos – CEBRAP, n. 77: 91-126. DOI 10.1590/S0101-33002007000100006

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2011. O “Medo dos outros”. In: Revista de Antropologia, vol. 54, n. 2: 885-917. DOI 10.11606/2179-0892.ra.2011.39650

WHITEHEAD, Neil. 2002. Dark Shamans-Kanaima and the Poetics of Violent Death. Duke University Press: Durham & London, Duke University Press.

Downloads

Publicado

2022-11-25

Edição

Seção

Dossiê - Novas perspectivas sobre os sonhos ameríndios

Como Citar

Gongora, M. F. (2022). A troca do fio e os descaminhos do duplo: sonho e vigília entre os Ye’kwana do rio Auaris. Revista De Antropologia, 65(3), e202291. https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.202291