Nos tempos antigos nhanderu soube qual haveria de ser nosso futuro teko. Tempo, troca e transformação entre os Guarani

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2020.168618

Palavras-chave:

Guarani, Nhandereko, Tempo, Transformação e troca

Resumo

Este artigo propõe uma reflexão a respeito de alguns aspectos presentes na cosmologia guarani que se referem à vida e ao tempo. A partir das falas e reflexões de alguns pensadores guarani – em sua maioria anciãos e pajés - podemos vislumbrar a existência de uma estratégia para a duração cuja invenção e/ou descoberta é remetida a Nhanderu Tenonde, principal divindade do cosmos guarani. Tal estratégia tem como ponto nodal a alternância entre tempos (dia/noite e tempo velho/tempo novo - ou ara yma/ara pyau) e espaços (opy/oka – casa de reza/pátio), operada pelos movimentos de coisas, palavras e pessoas – a troca – que seguem certos padrões estéticos – a linha e o círculo – e que replicam posições relacionais específicas – “em frente” e “na frente”; ela expressa a relação entre dois processos de transformação mutuamente implicados: mbo-jera (o florescimento) e aguyje (a renovação).

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Ana Maria Ramo, Universidade Federal de Santa Catarina
    Ana Maria Ramo é doutora em Antropologia pela UFF (Universidade Federal Fluminense/Rio de Janeiro) e doutora em Geografia e Historia pela UCM (Universidad Complutense de Madri/Espanha). Atualmente é professora substituta no Departamento de Antropologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina/ Forianópolis). Trabalha com populações Guarani desde 2010. É consultora da Ação Saberes Indígenas na Escola/Núcleo Santa Catarina. Atúa na área de antropologia, com ênfase nos seguintes temas: etnologia indígena, populações guarani, educação escolar indígena, teoria antropológica e xamanismo.

Referências

ALMEIDA, Mauro. 1990. “Symmetry and Entropy: Mathematical Metaphors in the Work of Levi-Strauss”. Current Anthropology, Chicago, v.31, n.4: 367-385.

CADOGAN, León. 1992. Diccionário Español Guarani-Mbya. Asunción: CEADUC-CEPAG.

CADOGAN, León. 1959. Ayvu RapytaTextos míticos de los Mbyá-Guaraní del Guairá. São Paulo: FFLCH-USP, boletim n. 227, série Antropologia n. 5.

CLASTRES, Hélene. [1978] 2007.Terra sem Mal. Roraima: Ed. Tapé.

CLASTRES, Pierre. [1974] 2003. A sociedade contra o Estado. São Paulo: Cosac e Naify.

DANOWSKI, Déborah. 2011. “Ordem e desordem na Teodicéia de Leibniz”. Revista Índice, v.3, n.1: 41-55.

DARELLA, Maria Dorothea Post; RAMO Y AFFONSO, A. M.; GUEROLA, Carlos M.; MELO, C.R.; COLOMBERA, Ana C. (orgs). 2018. Tape Mbaraete Anhetengua Fortalecendo o caminho verdadeiro. Programa Ação Saberes Indígenas na Escola/ Núcleo SC. ASIE.

DOOLEY, Robert. 2006. Léxico Guarani, Dialeto Mbya. Summer Institute of Linguistic.Disponível em: https://www.sil.org/americas/brasil/publcns/dictgram/GNDicLex.pdf. Acesso em 20 de 02 de 2017.

EPPS, Patience & SALANOVA, Andrés P. 2012. “A linguística amazônica hoje”. Liames, v.12: 07-37.

HUGH-JONES, Stephen. 2015. “A origem da noite e por que o sol é chamado de ‘folha de caraná’”. Sociologia e Antropologia, Rio de Janeiro, v. 05, n.03: XX-XX.

KELLER, Hector A. 2012. “El origen y la decandencia de los cultivos guaraníes, un relato mítico de los avá chiripá de Misiones, Argentina”. Bonplandia, Corrientes (Argentina), v.21, n.01: 27-44.

KELLER, Hector A. 2010. “Nociones de vulnerabilidad y balance biocultural en la relación sociedad guaraní y naturaleza”. Avá, Posada (Misiones/Argentina), n. 18: 25-41.

KELLY, José Antonio. 2018. “Figure ground dialectics in Yanomami, Yekuana and Piaroa myth and shamanism”. In: KELLY, J e PITARCH, P. (orgs). The culuture of invention in the Americas, Londres: Sean Kingston.

LADEIRA, Maria Inês. 2008. Espaço geográfico Guarani-Mbya. São Paulo: Edusp, 2008.

LADEIRA, Maria Inês. 2007. O caminhar sob a luz: o território Mbya à beira do oceano. São Paulo: Editora Unesp.

LADEIRA, Maria Inês. 1999. “Yvy Marãey - renovar o eterno”. Suplemento Antropológico, Paraguai, v. XXXIV: 81-100.

LÉVI-STRAUSS, Claude. [1962] 1989.O pensamento Selvagem. Campinas: Papirus.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 2004. O cru e o cozido. São Paulo: Cosac & Naify.

LIMA, Tânia Stolze. 2005. Um peixe olhou pra mim: o povo Yudjá e a perspectiva. São Paulo: Unesp, ISA; Rio de Janeiro: NuTi.

MONTOYA, Antonio Ruiz de. [1639] 2011.Tesoro de la lengua guarani. Asunción: Centro de estudios paraguayos “Antonio Guasch”.

MOREIRA, Geraldo e MOREIRA, Wanderley C. 2015. Calendário cosmológico: os símbolos e as principais constelações na visão guarani. Santa Catarina, TCC (Licenciatura Intercultural Indígena), Universidade Federal de Santa Catarina.

PESQUISADORES GUARANI. 2015. Guata Porã: Belo Caminhar. IPHAN/CTI, São Paulo.

PIERRI CALAZANS, Daniel. 2013. O perecível e o imperecível: lógica do sensível e corporalidade no pensamento guarani-mbya. São Paulo,dissertacão de Mestrado, Universidade de São Paulo.

PISSOLATO, Elizabeth de Paula. 2007. A duração da pessoa. Mobilidade, parentesco e xamanismo mbya (guarani). Rio de Janeiro: NuTI.

PRIGOGINE, Ilya & STENGERS, Isabelle. 1984. A nova aliança: metamorfoses da ciência. Tradução de Miguel Faria e Maria Joaquina Machado Trincheira. Brasília: Editora UnB.

RAMO Y AFFONSO, Ana M. 2014. De palavras e pessoas entre os Guarani-Mbya. Niterói, tese de doutorado, Universidade Federal Fluminense.

STRATHERN, Marilyn. [1988] 2006.O gênero da dádiva. Problemas com as mulheres e problemas com a sociedade na Melanésia. Campinas: Editora da UNICAMP.

VALENTIM, Marco Antônio. 2018. Extramundanidade e sobrenatureza. Ensaios de ontologia infundamental. Curitiba: Cultura e Barbarie.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. 2012. “‘Transformação’ na antropologia e transformação da ‘antropologia’”. Mana, Rio de Janeiro, v.18, n.1: 151-171.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. 2006. “A floresta de cristais: notas sobre a ontologia dos espíritus amazônicos”. Cadernos de Campo, São Paulo, n.14/15: 319-338.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. 1996. “Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio”. Mana, Rio de Janeiro, v.2, n.2: 115-143.

WAGNER, Roy. 2010. Coyote Anthropology, Lincoln e Londres, University of Nebraska Press.

WAGNER, Roy.1991. “The Fractal Person”. In: STRATHERN, Marilyn e GODELIER, Maurice (org.). Big Men and Great Men: Personifications of Power in Melanesia.Cambridge: Cambridge University Press.

WAGNER, Roy. 1981. The invention of culture. Chicago and London: The University of Chicago Press.

Downloads

Publicado

2020-04-09

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Nos tempos antigos nhanderu soube qual haveria de ser nosso futuro teko. Tempo, troca e transformação entre os Guarani. (2020). Revista De Antropologia, 63(1), 122-142. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2020.168618