Subvertendo a ordem: os indocumentados e as estratégias de acesso à saúde na fronteira de Ponta Porã/BR e Pedro Juan Caballero/PY

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2020.170816

Palavras-chave:

Fronteira Brasil/Paraguai, Etnografia, Acesso à Saúde, Indocumentados, Segredo

Resumo

O artigo discute, a partir das intersecções existentes entre os mecanismos de acesso à saúde – elaborados e acionados pelos indocumentados nas cidades de Pedro Juan Caballero (PY) e Ponta Porã (BR) –, categorias como segredo, confiança, família e amizade. A pesquisa que deu origem aos dados etnográficos aqui apresentados teve por objetivo descobrir e analisar como as pessoas indocumentadas, brasileiros e paraguaios, procediam – e procedem – para ter acesso aos serviços de saúde no Brasil por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), visto que esse acesso só é franqueado diante da apresentação de documentação específica, tais como o Cartão do SUS e a Cédula de Identidade para Estrangeiros (RNE). Aos indocumentados resta apelar aos expedientes tidos pelas autoridades brasileiras como ilegais e, portanto, passíveis de sanções por parte do Estado. As estratégias dos indocumentados para acessar os serviços de saúde através do SUS envolvem complexas redes de solidariedade, nas quais se imiscuem e se confundem binômios como legal/ilegal e confiança/desconfiança.

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Biografia do Autor

  • Valdir Aragão do Nascimento, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
    Valdir Aragão do Nascimento é antropólogo, doutorando em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste (PPGSD/UFMS), mestre em Antropologia Sociocultural pela Universidade Federal da Grande Dourados (PPGAnt/UFGD) e bacharel em Ciências Sociais (UFMS). A pesquisa foi realizada no âmbito do PPGSD/UFMS com apoio financeiro da Capes por meio de bolsa de doutorado.

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Publicado

2020-06-08

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Nascimento, V. A. do. (2020). Subvertendo a ordem: os indocumentados e as estratégias de acesso à saúde na fronteira de Ponta Porã/BR e Pedro Juan Caballero/PY. Revista De Antropologia, 63(2), e161823. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2020.170816