“Eu escrevo o quê, professor (a)?”: notas sobre os sentidos da classificação racial (auto e hetero) em políticas de ações afirmativas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2020.178854

Palavras-chave:

Autodeclaração, heteroclassificação, cotas étnico-raciais, suspeição sistemática

Resumo

O artigo pretende problematizar como a regulamentação das cotas raciais - positiva como política pública de ação afirmativa ao reconhecer o racismo como estruturante das desigualdades no país – tem se revelado uma tecnologia social fundada na suspeição sistemática, gerando insegurança jurídica nas avaliações dos “pardos”, assim como o ressurgimento de critérios fenotípicos, procedimentos considerados legítimos para assegurar o direito a vaga na universidade pública, podendo resultar em um não-lugar para negros de pele clara.  As análises baseiam-se nos procedimentos da Universidade Federal Fluminense durante a matrícula de aprovados no SISU em 2018 para cumprir a Lei nº. 12.990/2014 e Orientação Normativa nº 3, de 01/2016, do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão que instituíram a obrigatoriedade de comissões de aferição de candidatos autodeclarados negros e indígenas.

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Biografia do Autor

  • Ana Paula Mendes de Miranda, Universidade Federal Fluminense

    Ana Paula Mendes de Miranda é Professora Associada II do Departamento de Antropologia (UFF), Professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e do Programa Justiça e Segurança (UFF), Pesquisadora do Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (InEAC – UFF), Bolsista de Produtividade do CNPq 2, Coordenadora Adjunta dos Programas Profissionais da Área de Antropologia / Arqueologia (CAPES).

  • Rolf Ribeiro de Souza, Universidade Federal Fluminense

    Rolf Ribeiro de Souza é Professor Adjunto do Departamento de Ciências Humanas – UFF, Pesquisador do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (InEAC – UFF), Assessor de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade da UFF.

  • Rosiane Rodrigues de Almeida, Universidade Federal Fluminense

    Rosiane Rodrigues de Almeida é Doutora em Antropologia (UFF), Pesquisadora do Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (InEAC – UFF), Bolsista de Pós-doutorado pela FAPERJ.

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Publicado

2020-12-17

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

“Eu escrevo o quê, professor (a)?”: notas sobre os sentidos da classificação racial (auto e hetero) em políticas de ações afirmativas. (2020). Revista De Antropologia, 63(3), e178854. https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2020.178854