Parentesco espiritual e afinidade potencial na América do Sul

Autores

  • Helena Moreira Schiel Universidade Federal do Oeste do Pará

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2018.148952

Palavras-chave:

Parentesco, afinidade potencial, compadrio, política

Resumo

No encontro colonial, duas formas de relação institucionalizada, as relações de compadrio cristão e as de afinidade potencial ameríndia, encontraram uma tal semelhança que puderam traduzir-se uma na outra. Partindo de uma leitura da sugestão de Salvatore D’Onofrio de um “átomo de parentesco espiritual” para explicar o compadrio, pretendo sugerir que as duas instituições evocam o mesmo tipo de armadura sociológica. Antes que a substituição do parentesco tradicional, acredito que o parentesco espiritual tenha uma relação de sobreposição e superação dos laços familiares. Avanço a hipótese de que esse tipo de relação institucionalizada estaria na base de toda relação política.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Helena Moreira Schiel, Universidade Federal do Oeste do Pará
    Helena Moreira Schiel é professora assistente na UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará), doutoranda em Antropologia Social na EHESS (Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, França). Realiza pesquisas junto aos Karajá desde 1999. Atualmente tem se interessado por relações de parentesco, guerra, cultura material e etnomusicologia.

Referências

ALAND, Kurt. 1963. Did the Early Church Baptize Infants? (trad. G.R. Beasley-Murray). Philadelphia, The Westminster Press.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 1978. Os mortos e os outros. Uma análise do sistema funerário e da noção de pessoa entre os índios krahó. São Paulo, Hucitec.

CAVALCANTI-SCHIEL, Ricardo. 2005. Da relutância selvagem do pensamento. Memória social nos Andes meridionais. Rio de Janeiro, tese de doutorado, Museu Nacional/ UFRJ.

COSTA, Luis. 2013. “Alimentação e comensalidade entre os Kanamari da Amazônia Ocidental”. Mana, 19 (3): 473-504.

DELANEY, Carol. 1986. “The Meaning of Paternity and the Virgin Birth

Debate”. Man. New Series, v. 21, n. 3: 494-513.

DIETSCHY, Hans. 1960. “Note à propos des Danses des Carajá. ‘Pas de deux’, Amitié formelle et proibition de l’inceste”. Bulletin de la Société Suisse des Américanistes, Genebra, 19: 1-15.

DIETSCHY, Hans. 1963. “Le Système de parenté et la structure sociale des indiens Carajá”. Actes du VIe Congrès International des Sciences Anthropologique et Ethnologiques, Paris, Musée de l’Homme, tomo II, v. 1: 43-47.

FAUSTO, Carlos. 2008. “Donos demais. Maestria e domínio na Amazônia”. Mana, 14 (2): 329-366.

GIRALDIN, Odair. 2011. “Creating Affinity. Formal Friendship and Matrimonial Alliances among the Jê People and Apinajé Case”. Vibrant, v. 8, n. 2: 403-426.

GONÇALVES, José Reginaldo Santos. 1981. A luta pela identidade social: o caso das relações entre índios e brancos no Brasil Central. Rio de Janeiro, dissertação de mestrado, Museu Nacional/UFRJ.

GOW, Peter. 1991. Of Mixed Blood. Kinship and History in Peruvian Amazonia. Oxford, Claredon Press.

GOW, Peter. 1997. “Parentesco como consciência humana: o caso dos Piro”. Mana, 3 (2): 39-65.

GUDEMAN, Stephen. 1972. “The Compadrazgo as a Reflection of the Natural and Spiritual Person” Proceedings of the Royal Anthropological Institute, 1971, Londres: 45-71.

GOW, Peter. 1975. “Spiritual Relationships and Selecting a Godparent”. Man New series, Londres, v. 10, n. 2: 221-237.

LANNA, Marcos. 1996. A dívida divina. Troca e patronagem no Nordeste Brasileiro. Campinas, Ed. Unicamp.

LANNA, Marcos. 2009. “A estrutura sacrificial do compadrio: uma ontologia da desigualdade?”. Ciências Sociais Unisinos , São Leopoldo, 45 (1): 5-15.

LEA, Vanessa R. 1993. “Casas e casas Mebengokre (Jê)”. In VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo e CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (orgs.). Amazônia: etnologia e história indígena. São Paulo, NHII-USP/Fapesp, pp. 265-282.

LEA, Vanessa R. 2012. Riquezas intangíveis de pessoas partíveis. Os Mebengôkre (Kayapó) do Brasil Central. São Paulo, EdUSP.

LEACH, Edmund. 1966. “Virgin Birth”. Proceedings of the Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, Londres, issue 1966: 39-49.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1943. “The Social Use of Kinship Terms among Brazilian Indians”. American Anthropologist , New Series, v. 45: 398-409.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1949. Les Structures Élementaires de la parente. Paris, Presses Universitaires de France: IX-XIV.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1958. Anthropologie structurale. Paris, Plon.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1973. Anthropologie structurale deux. Paris, Plon.

LOPES DA SILVA, Aracy. 1986 Nomes e amigos: da prática xavante a uma reflexão sobre os Jê. São Paulo, tese de doutorado, Universidade de São Paulo.

NUTINI, Hugo G. e BELL, Betty Louise. 1989. Parentesco ritual: estructura y evolución histórica en la Tlaxcala rural. México, Editora Fondo de Cultura Económico.

PÉTESCH, Nathalie. 2000. La Pirogue de sable. Pérénité cosmique et mutation sociale chezles karajá du Brésil central. Louvain/Paris, Peeters/Selaf.

RADCLIFFE-BROWN, Alfred Reginald. 2013. “O irmão da mãe na África do Sul”. In Estrutura e função na sociedade primitiva. Petrópolis, Vozes, pp. 21-34.

RAVICZ, Robert. 1967. “Compadrinazgo”. In WAUCHOPE, Robert (org.). Handbook of Middle American Indians. Austin, University of Texas Press, pp. 238-252.

RIVIÈRE, Peter. 1974. “The Couvade: A Problem Reborn”. Man, 9 (3): 423-435.

RODRIGUES, Patrícia de Mendonça. 1993. O Povo do Meio. Tempo, cosmo e gênero entre os Javaé da Ilha do Bananal. Brasília, dissertação de mestrado, UnB.

SAHLINS, Marshall. 2008. “The Stranger-King or, Elementary Forms of the Political Life”. Indonesia and the Malay World, Routledge, Taylor & Francis, Londres, 36 (105): 177-199.

SANTOS-GRANERO, Fernando. 2007. “Of Fear and Friendship. Amazonian Sociality beyond Kinship and Affinity”. Journal of the Royal Anthropological Institute (N.S.), 13: 1-18.

STRATHERN, Marilyn. 1988. The Gender of the Gift. Berkeley, University of California Press.

“Necessidade de pais necessidade de mães”. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 3, n. 2: 303-329.

TORAL, André. 1992. Cosmologia e sociedade karajá. Rio de Janeiro, dissertação de mestrado, Museu Nacional/UFRJ.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002. “O problema da afinidade na Amazônia”. In A inconstância da alma selvagem. São Paulo, Cosac & Naify, pp. 87-180.

Downloads

Publicado

2018-08-13

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Parentesco espiritual e afinidade potencial na América do Sul. (2018). Revista De Antropologia, 61(2), 187-207. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2018.148952