Mulheres-Onça: mitologia, gênero e antropofagia no Complexo do Marico

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192785

Palavras-chave:

Mitologia ameríndia, Antropofagia, Sudoeste Amazônico, Gênero

Resumo

As narrativas mitológicas dos povos originários dos afluentes da margem direita do médio rio Guaporé revelam uma íntima conexão entre relações de gênero e a diferença humano/animal/espírito.  Enfatizam, por um lado, as condições de possibilidade de uma sociedade composta por relações de sexo oposto, e por outro lado, a “antropofagia” praticada pelas mulheres. A partir da articulação com a etnografia cotidiana, em particular referente à produção e consumo de bebida fermentada, o artigo sugere que a antropofagia feminina, i.e., a identificação virtual das mulheres com as onças, é a condição para a diferença (atual) que separa os humanos dos não-humanos e os humanos entre si.

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Biografia do Autor

  • Nicole Soares-Pinto, Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, ES, Brasi

    Nicole Soares-Pinto é professora do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo. Doutora em Antropologia Social pelo PPGAS-UnB. Realizou dois estágios pós doutorais no PPGAS-Museu Nacional (UFRJ), em 2016 e em 2020.

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Publicado

2022-04-27

Edição

Seção

Dossiê - Entre a mitologia e a etnografia: transformações nas Américas indígenas

Como Citar

Soares-Pinto, N. (2022). Mulheres-Onça: mitologia, gênero e antropofagia no Complexo do Marico . Revista De Antropologia, 65(1), e192785. https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192785