A aculturação é um objeto legítimo da Antropologia Entrevista com Peter Gow

Autores

  • Marta Amoroso Universidade de São Paulo
  • Leandro Mahaken de Lima

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2011.38611

Resumo

Esta entrevista foi realizada em São Paulo, em dezembro de 2009, por Marta Amoroso e Leandro Mahalem de Lima, na ocasião em que o antropólogo ministrava palestras na USP, a convite do PPGAS. Peter Gow é professor do Departamento de Antropologia Social da Universidade de St Andrews, Escócia, onde desenvolve pesquisas sobre mito, história, parentesco e estética na Amazônia. Em seu doutorado sobre os Piro do baixo rio Urubamba, orientado por Joanna Overing, que resultou na tese publicada em 1991 sob o título Of Mixed Blood: kinship and history in Peruvian Amazonian, Peter Gow praticava pela primeira vez a fórmula que o consagrou no campo do americanismo tropical: ali “subordinava história à cultura e a historiografia à etnografia” (Viveiros de Castro, 1993). Nesta entrevista, retoma o tema da aculturação, central nos seus primeiros trabalhos, e a trajetória que o conceito delineia na teoria antropológica. Critica a apropriação culturalista norte-americana e da antropologia brasileira do tema da aculturação – usado nestes contextos para sinalizar processos de mudança e descaracterização cultural. Aludindo à tradição da etnologia alemã, traz de volta o conceito formulado exatamente para servir às descrições das sociedades e culturas ameríndias e de suas redes de troca. Sobre a metodologia para tratar das sociedades amazônicas em suas diferentes circunstâncias de contato, a ênfase recai na adoção de um padrão etnográfico clássico, que dispõe a experiência social e cultural dos povos da Amazônia em um diálogo pautado pela etnologia. Nas palestras na USP, Peter Gow mostrou-se particularmente interessado em compreender a lógica dos nexos regionais que ligam povos de língua piro do Ucayali-Urubamba, Manu, Piedras, Purus e Juruá, que por sua vez estão conectados a um complexo sistema de troca de longa distância e de grande profundidade temporal, que se liga à vasta área do sudoeste da Amazônia e dos Andes peruanos do norte e do sul. Volta-se, assim, para as condições de construção das fronteiras culturais e linguísticas, o que chamou de “soleiras”. Lembra, por fim, as lições de sua orientadora e, antes dela, as do “finado mestre, o eterno” Claude Lévi- Strauss, ao se propor a analisar o que as pessoas dizem – como tão bem faz a antropologia cultural, sem, entretanto, deixar de lado as relações entre aqueles que estão falando e os que estão ouvindo, como faz o antropólogo social.

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Biografia do Autor

  • Marta Amoroso, Universidade de São Paulo
    Marta Amoroso é professora de Antropologia Social do Departamento de Antropologia da FFLCH/USP . Temas de investigação: história dos índios e o indigenismo nos séculos XVIII-XX; fontes primárias para a etnologia ameríndia (entre 1984-2007); população Mura do rio Madeira (AM): processo de demarcação das terras (1997-2001); aldeamentos indígenas do Império no Paraná e São Paulo (entre 1993 -1998); missões capuchinhas do Império: categorias missionárias (2000-2006). Desenvolve no momento pesquisa sobre as teorias de Natureza e Sociedade na Amazônia. Realizou o mestrado em Antropologia Social na UNICAMP (1991), com a dissertação: "Guerra mura no século XVIII: versos e versões. Representações dos Mura no imaginário colonial". Realizou o doutorado em Antropologia Social, apresentando a tese: "Catequese e evasão. Etnografia do aldeamento indígena de São Pedro de Alcântara, Paraná (1855-1895)". Pós-doutorado em Antropologia Social desenvolvido junto ao Centro Brasileiro de Análises e Planejamento (CEBRAP) em 2005. Faz atualmente trabalho de campo entre os Mura do rio Madeira (AM), pesquisa que teve início por ocasião do processo de demarcação das terras mura no final da década de 1990. É membro fundador do Centro de Estudos Ameríndios/USP.

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Publicado

2012-08-16

Edição

Seção

Entrevista

Como Citar

A aculturação é um objeto legítimo da Antropologia Entrevista com Peter Gow. (2012). Revista De Antropologia, 54(1). https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2011.38611