O medo dos outros

Autores

  • Eduardo Viveiros de Castro Museu Nacional

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2011.39650

Palavras-chave:

Perspectivismo ameríndio, sobrenatureza, canibalismo, medo.

Resumo

Pierre Clastres perguntava, em um artigo publicado em A sociedade contra o Estado: de que riem os índios? Pergunto, por analogia: e de que eles têm medo? A resposta é, em princípio, simples: eles riem e têm medo das mesmas coisas, aquelas mesmas apontadas por Clastres – coisas como jaguares, xamãs, brancos e espíritos, isto é, seres definidos por sua radical alteridade. E eles têm medo porque a alteridade é objeto de um desejo igualmente radical por parte do Eu. Esta é uma forma de medo que implica necessariamente a inclusão ou a incorporação do outro ou pelo outro como forma de perpetuação do devir-outro que é o processo do desejo nas socialidades amazônicas. Partindo de um mito taulipang sobre a origem do ânus (órgão que costumamos associar ao medo), também um mito da especiação e, no caso, da origem das diferentes corporalidades, o artigo envereda por uma discussão em torno do “perspectivismo ameríndio”, passando por mais uma analogia, desta vez entre os perigos da sujeição envolvidos nos encontros sobrenaturais e a experiência do indivíduo moderno perante o Estado. A questão que emerge é como, nos regimes perspectivistas, é possível se deixar investir pela alteridade sem que isto se torne um germe de transcendência.

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Biografia do Autor

  • Eduardo Viveiros de Castro, Museu Nacional
    Etnólogo americanista, com experiência de pesquisa na Amazônia. Doutor em Antropologia Social pela UFRJ (1984). Pós-doutorado na Université de Paris X (1989). Docente de etnologia no Museu Nacional/UFRJ desde 1978. Professor titular de antropologia social na UFRJ desde janeiro de 2012. Membro da Equipe de Recherche en Ethnologie Américaniste do C.N.R.S. desde 2001. Simón Bolívar Professor of Latin American Studies na Universidade de Cambridge (1997-98); Directeur de recherches no C.N.R.S. (1999-2001). Professor-visitante nas Universidades de Chicago (1991, 2004), Manchester (1994), USP (2003), UFMG (2005-06). Prêmio de melhor tese de doutorado em Ciências Sociais da ANPOCS (1984); Médaille de la Francophonie da Academia Francesa (1998); Prêmio Erico Vanucci Mendes do CNPq (2004); Ordem Nacional do Mérito Científico (2008). Orientou 35 dissertações de mestrado e dezoito de doutorado. de 1984 ao presente. Orientações acadêmicas em curso: dois mestrandos, seis doutorandos. Publicou cerca de 120 artigos ou capítulos de livros e sete livros, de 1972 ao presente. Coordenou o Projeto Pronex "Transformações indígenas: os regimes de subjetivação ameríndios à prova da história" (2004-06). É o coordenador do Núcleo de Transformações Indígenas, grupo baseado no Museu Nacional/UFRJ, e co-coordenador da Rede Abaeté de Antropologia Simétrica.

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Publicado

2012-08-24

Edição

Seção

Dossiê

Como Citar

Castro, E. V. de. (2012). O medo dos outros. Revista De Antropologia, 54(2). https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2011.39650