Uma interpretação rawlsiana da Constituição: considerações agonísticas sobre a democracia brasileira

Autores

  • Sergio Schargel Doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
  • João Gabriel Ribeiro Pessanha Leal Doutorando em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2179-5487.v13i18p188969

Palavras-chave:

Teoria política, John Rawls, Teoria da justiça, Consenso sobreposto, Constituição brasileira

Resumo

Na concepção de John Rawls, o consenso sobreposto consiste na formulação de uma instância de tolerância mútua que torna democracias possíveis. Entendimento de que para uma democracia funcionar é necessário que os agentes políticos respeitem direitos de seus oponentes, ainda que discordem de suas crenças, uma noção que dialoga com a ideia de Chantal Mouffe sobre democracia agonística. A democracia agonística, casando as ideias de Rawls com as de Bobbio e Mouffe, depende do respeito pelo consenso sobreposto, pela própria existência da democracia. É pertinente utilizar as reflexões teóricas desses autores para perceber suas absorções pela Constituição Federal de 1988, em especial as noções rawlsianas. Da mesma forma, perceber a fragilização das noções dos princípios de justiça e do consenso sobreposto conforme sucessivas crises – política, saúde, econômica – colocam a própria Constituição em cheque. Assim, a proposta deste trabalho é deslocar a teoria de John Rawls para compreender seus diálogos com a Constituição de 1988, ante a hipótese de que a fragilização democrática brasileira, seguida da eleição de um nacionalista autoritário em 2018, erode essas próprias noções por dentro. Destarte, através do diálogo entre a base teórica e o objeto apreendido, será possível contribuir para o estado da arte ao alargar os conceitos rawlsianos para a interpretação de um objeto periférico na academia, e permitindo, em última instância, perceber a essencialidade das concepções de Rawls para a existência de uma democracia liberal saudável e estável.

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Biografia do Autor

  • Sergio Schargel, Doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF)

    Doutorando em Letras pela USP. Mestre em Letras pela PUC-Rio e Mestre em Ciência Política pela Unirio. Bacharel em Comunicação Social, Jornalismo e Comunicação Social, Publicidade e Propaganda, ambas pela PUC-Rio. Sua pesquisa e produção artística são focadas na relação entre literatura e política, tangenciando temas como teoria política, literatura política, pós-memória, antissemitismo e a obra de Sylvia Serafim Thibau. Publicou em veículos como Nexo, Cantareira, Dignidade Re:Vista, Ribanceira, Valittera, HanzeMAG, Albuquerque, Almanaque de Ciência Política, Entrelaces e outros, além de diversas traduções de artigos acadêmicos e jornalísticos, principalmente para a Folha de S.Paulo. Apresentou trabalhos em eventos como CAPPE, Mostra bosque, CLAEC, Póscom, LETEX, entre outros. Organizou a vigésima sétima edição da Revista Escrita. Vencedor do Prêmio Abralic de Dissertações, Prêmio Dirce Côrtes Riedel, pela dissertação O Ur-Fascismo ontem e hoje: aparições literárias de uma metodologia de poder.

  • João Gabriel Ribeiro Pessanha Leal, Doutorando em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)

    Discente do doutorado em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/FIOCRUZ). Mestre em Ciência Política na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2022). Graduado em Administração Pública pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (2019). Possui o curso técnico em Administração pela FAETEC-E.T.E João Barcelos Martins (2014). Estuda, predominantemente, questões determinantes das políticas públicas nos municípios brasileiros. Atua nos seguintes temas: Gasto Social e Rendas Petrolíferas; Partidos Políticos e Financiamento de Políticas Sociais, com foco no Sistema Único de Saúde (SUS); Reeleição de prefeitos no Brasil. Utiliza métodos quantitativos de pesquisa.

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Publicado

2022-10-12

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Uma interpretação rawlsiana da Constituição: considerações agonísticas sobre a democracia brasileira. (2022). Revista Angelus Novus, 13(18), 188969. https://doi.org/10.11606/issn.2179-5487.v13i18p188969