Os usos da discórdia: a territorialidade das torcidas organizadas como pretexto para intervenções público-privadas nos espaços do futebol
DOI:
https://doi.org/10.11606/eISSN.2236-2878.rdg.2022.203724Palavras-chave:
Torcidas organizadas, territorialidade, violência, localizaçãoResumo
As torcidas organizadas de futebol ainda são matérias de interesse e preocupação por parte da sociedade brasileira. A criação de novas leis, forças de segurança e de novos estádios no século XXI não fizeram desaparecer os seus conflitos violentos. O objetivo geral deste artigo é investigar como as torcidas organizadas alteraram suas territorialidades (Sack, 1986) para se adaptar aos novos dispositivos disciplinares (Foucault, 1979). As torcidas organizadas de São Paulo e do Rio de Janeiro foram escolhidas como casos na medida em que está mais avançada a integração dos clubes frente à globalização das práticas do futebol. Foram utilizados os relatórios publicados pelo Juizado Especial do Torcedor e os processos jurídicos cadastrados nos sítios eletrônicos Imprensa Oficial e Jusbrasil como bases de dados. A hipótese de trabalho é a de que as formas mais violentas de territorialidade das torcidas organizadas foram deslocadas na cidade. Ao invés das lesões corporais graves e homicídios ligados ao futebol acontecerem dentro dos estádios ou na área próxima ao evento esportivo, as novas forças e equipamentos de segurança estão ocorrendo em outras partes da cidade, sobretudo nos eixos de transportes. A confirmação desta hipótese ainda não é possível pela pequena sistematização de dados. Porém, esta tendência é apresentada nos discursos realizados tanto pelos representantes das torcidas organizadas quanto pelas porta-vozes das forças policiais.
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