Relações entre a judicialização de cobertura e a incorporação de tecnologia na saúde suplementar: o caso dos quimioterápicos

Autores

  • Julian Ferreira Kozan Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. São Paulo/SP, Brasil
  • Marina de Almeida Magalhães Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. São Paulo/SP, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9044.rdisan.2022.176965

Palavras-chave:

Avaliação da Tecnologia Biomédica, Judicialização da Saúde, Plano de Saúde, Saúde Suplementar

Resumo

A negativa de cobertura de tratamentos é o principal fator que leva beneficiários de planos de saúde a buscar a justiça, e o motivo central alegado pelas empresas do setor para essa recusa é o fato do tratamento pleiteado não ser contemplado no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Este artigo analisou a incorporação de tecnologias em saúde no Brasil, especialmente no setor de saúde suplementar, e a regulação da cobertura de tratamento para câncer pelos planos de saúde, identificando possíveis influências, bem como o sentido da atuação do Poder Judiciário na incorporação de quimioterápicos na saúde suplementar. Para tanto, utilizaram-se dois bancos de dados que, somados, contêm informações sobre todos os acórdãos (1.368), proferidos em segunda instância entre 2015 e 2019 pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em ações judiciais ajuizadas na Comarca da Capital que demandaram tratamentos quimioterápicos contra operadoras de planos de saúde. Foram explorados em maior detalhe os casos dos dez quimioterápicos mais demandados no escopo considerado. Os resultados do estudo mostraram que, apesar da regulação setorial da saúde suplementar determinar  a cobertura de sete dos dez quimioterápicos mais demandados, isso não impediu que ela fosse, ainda assim, negada aos beneficiários. Há, portanto, indicativos de que a atuação do Poder Judiciário, que julgou favoravelmente 96,3% das demandas analisadas, cumpre uma função de enforcement da regulação setorial da incorporação de tecnologias, em contraposição à hipótese de que seria uma via ilegítima para o acesso a tecnologias não cobertas. Trata-se, a partir dessa perspectiva, de uma importante instância de garantia do direito à saúde dos beneficiários de planos privados de saúde.

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Biografia do Autor

  • Julian Ferreira Kozan, Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. São Paulo/SP, Brasil

    Mestrado em Saúde Coletiva pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP); pós-graduada em Direito Administrativo pela Faculdade Autônoma de Direito (Fadisp). Advogada.

  • Marina de Almeida Magalhães, Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. São Paulo/SP, Brasil

    Mestranda em Saúde Coletiva pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP). Advogada.

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Publicado

2022-08-25

Como Citar

Kozan, J. F., & Magalhães, M. de A. . (2022). Relações entre a judicialização de cobertura e a incorporação de tecnologia na saúde suplementar: o caso dos quimioterápicos. Revista De Direito Sanitário, 22(1), e0003. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9044.rdisan.2022.176965

Dados de financiamento