Militarização no Distrito Sanitário Especial Indígena do Maranhão: do “desastre anunciado” ao epicentro da pandemia

Autores

  • István van Deursen Varga Universidade Federal do Maranhão. Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente. Departamento de Sociologia e Antropologia. São Luís/MA, Brasil http://orcid.org/0000-0003-3171-1748
  • Rosana Lima Viana Ministério da Saúde. Superintendência Estadual do Maranhão. Fundação Nacional de Saúde. São Luís/MA, Brasil
  • Ana Caroline Amorim Oliveira Universidade Federal do Maranhão. Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade. Curso de Ciências Humanas/Sociologia. Campus São Bernardo/MA, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9044.rdisan.2022.189517

Palavras-chave:

Covid-19, Distrito Sanitário Especial Indígena do Maranhão, Militarização, Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, Saúde dos Povos Indígenas no Maranhão

Resumo

Este estudo de caso utilizou metodologia historiográfica para investigar a trajetória e o desempenho do Distrito Sanitário Especial Indígena do Maranhão, tendo por parâmetro o que preconiza a própria Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, ainda oficialmente em vigor em 2021, e, por pano de fundo, o contexto geral das políticas de saúde em sucessivos governos federais. O período analisado e discutido vai de 2010 a 2021, abrangendo: a crise na gestão da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, implementada pela Fundação Nacional de Saúde; a consequente criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena e a transferência, para seu âmbito, do papel de gestora dessa política, em 2010; os desafios enfrentados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena em seus primeiros anos de gestão, no contexto das crises políticas que levaram ao impeachment da presidente Dilma Roussef e ao governo de Michel Temer; o governo de Jair Messias Bolsonaro, com o consequente ataque sistemático a princípios e diretrizes inscritos na própria Constituição Federal de 1988 e o desmonte e/ou sabotagem da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas; o advento da pandemia de covid-19 nesse contexto e seus impactos específicos sobre a população indígena, no Brasil e no Maranhão, até 2021.

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Biografia do Autor

  • István van Deursen Varga, Universidade Federal do Maranhão. Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente. Departamento de Sociologia e Antropologia. São Luís/MA, Brasil

    Pós-Doutorado e doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP); mestrado em Antropologia Social pela USP; graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Professor do Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Professor do Mestrado Profissional em Saúde da População Negra e Indígena da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Coordenador da Comissão Executiva e Presidente da II Conferência Nacional de Saúde para os Povos Indígenas. Membro Associado da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ).

  • Rosana Lima Viana, Ministério da Saúde. Superintendência Estadual do Maranhão. Fundação Nacional de Saúde. São Luís/MA, Brasil

    Doutorado e mestrado em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz); especialização em Vigilância em Saúde Pública e Saúde das Populações Indígenas pela Universidade Federal do Amazonas/Fiocruz; graduação em Engenharia Civil pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Engenheira sanitarista do Ministério da Saúde.

     

  • Ana Caroline Amorim Oliveira, Universidade Federal do Maranhão. Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade. Curso de Ciências Humanas/Sociologia. Campus São Bernardo/MA, Brasil

    Doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP); mestrado em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Líder do Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Representante titular da UFMA no Conselho Distrital de Saúde Indígena do Distrito Sanitário Especial Indígena do Maranhão.

     

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Publicado

2022-12-27

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Varga, I. van D., Viana, R. L., & Oliveira, A. C. A. (2022). Militarização no Distrito Sanitário Especial Indígena do Maranhão: do “desastre anunciado” ao epicentro da pandemia. Revista De Direito Sanitário, 22(2), e0026. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9044.rdisan.2022.189517