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Traços biográficos de Ethel Parsons: uma liderança na enfermagem norte-americana e brasileira

RESUMO

Objetivo:

reconstruir aspectos biográficos de Ethel Parsons no centenário da missão de cooperação técnica para o desenvolvimento da enfermagem no Brasil.

Método:

pesquisa biográfica, realizada pelo método de análise de fontes históricas, que consiste em leitura e interpretação dos documentos coletados.

Resultados:

de família renomada, Ethel Parsons ocupou chefias de serviços de saúde pública e atuou na Cruz Vermelha Americana antes de ser indicada para coordenar a missão da Fundação Rockefeller no Brasil, onde inaugurou o modelo anglo-americano de enfermagem. Por dez anos, Parsons se dedicou a liderar tal missão, que resultou na implantação e difusão, por força de decreto, do modelo anglo-americano de enfermagem. Em 1931, retornou a seu país, onde faleceu em 1953.

Conclusão:

Ethel Parsons se destacou no século XX como mulher e enfermeira, liderando serviços assistenciais de saúde pública nos EUA e no Brasil. Sua biografia demonstra um ideal de profissionalização e ciência a ser conquistado pela enfermagem no cenário assistencial e educacional, que influenciou no delineamento de uma identidade coletiva da enfermagem brasileira.

DESCRITORES
Biografia; Escolas de Enfermagem; História da Enfermagem; Saúde Pública

ABSTRACT

Objective:

to reconstruct Ethel Parsons’ biographical aspects in the centenary of the technical cooperation mission for nursing development in Brazil.

Method:

biographical research, carried out using the historical sources analysis method, which consists of reading and interpreting the collected documents.

Results:

from a renowned family, Ethel Parsons was head of public health services and worked for the American Red Cross before being appointed to coordinate the Rockefeller Foundation mission in Brazil, where she inaugurated the Anglo-American model of nursing. For ten years, Parsons dedicated herself to leading such a mission, which resulted in implementation and dissemination, by decree, of the Anglo-American model of nursing. In 1931, she returned to her country, where she died in 1953.

Conclusion:

Ethel Parsons stood out in the 20th century as a woman and a nurse, leading public health care services in the USA and Brazil. Her biography demonstrates an ideal of professionalization and science to be conquered by nursing in the care and educational scenario, which influenced the design of a collective identity for Brazilian nursing.

DESCRIPTORS
Biograph; Schools, Nursin; History of Nursin; Public Healt

RESUMEN

Objetivo:

reconstruir aspectos biográficos de Ethel Parsons en el centenario de la misión de cooperación técnica para el desarrollo de la enfermería en Brasil.

Método:

investigación biográfica, realizada mediante el método de análisis de fuentes históricas, que consiste en la lectura e interpretación de los documentos recopilados.

Resultados:

de una familia renombrada, Ethel Parsons fue jefa de servicios de salud pública y trabajó para la Cruz Roja Americana antes de ser designada para coordinar la misión de la Fundación Rockefeller en Brasil, donde inauguró el modelo angloamericano de enfermería. Durante diez años, Parsons se dedicó a liderar tal misión, que resultó en la implementación y difusión, por decreto, del modelo angloamericano de enfermería. En 1931 regresó a su país, donde falleció en 1953.

Conclusión:

Ethel Parsons se destacó en el siglo XX como mujer y enfermera, al frente de los servicios públicos de salud en EUA y Brasil. Su biografía demuestra un ideal de profesionalización y ciencia a ser conquistado por la enfermería en el escenario asistencial y educativo, lo que influyó en el diseño de una identidad colectiva para la enfermería brasileña.

DESCRIPTORES
Biografía; Facultades de Enfermería; Historia de la Enfermería; Salud Pública

INTRODUÇÃO

A necessidade de construção da narrativa biográfica de Ethel Parsons é evidenciada, principalmente, pela significativa função dessa enfermeira no Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), ao lado do médico sanitarista Carlos Chagas, em cooperação técnica que desenvolveu a enfermagem moderna no Brasil. Pouco ainda se conhece sobre essa profissional, que foi a primeira mulher enfermeira a assumir um cargo público de liderança nacional, como o Serviço de Enfermeiras do DNSP, e mentora de um modelo de formação de enfermeiras que passou a ser o padrão desejado de ensino de enfermagem no Brasil.

Mesmo com a enfermagem brasileira avançando na história da profissão, especialmente nos últimos 40 anos, a biografia de Ethel Parsons não era suficientemente conhecida, de modo a revelar traços de sua identidade social e profissional. Grande parte dos registros históricos e dos relatos acerca da vida de Ethel Parsons expõe momentos de sua atuação profissional ao longo dos 10 anos de permanência no Brasil (1921–1931).

A Missão de Cooperação Técnica para o Desenvolvimento da Enfermagem no Brasil, que recebeu o nome “Missão Parsons”, foi definida por muitos pesquisadores como o marco de implantação da enfermagem moderna no país, o que é corroborado pelas autoras deste estudo, sustentada no fato de que a referida missão, ao inaugurar a escola de enfermeiras do DNSP, em 1923, estabeleceu o currículo mínimo e as condições necessárias para se tornar uma enfermeira, ambos elaborados pela Liga Nacional de Educação em Enfermagem norte-americana e publicado no Relatório Goldmark (1923)(11. Freire MAM, Amorim WM. A enfermagem de saúde pública no Distrito Federal: a influência do relatório Goldmark (1923 a 1927). Esc Anna Nery. 2008;12(1):115–24. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452008000100018
http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452008...
,22. Padilha MI, Borenstein MS, Bellaguarda MLR, Santos I. organizadores. Enfermagem: história de uma profissão. 3ª ed. São Caetano do Sul: Difusão Editora; 2020.).

Ademais, a escola de enfermeiras do DNSP, atual Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi reconhecida como “escola oficial padrão” pelo Decreto 20.109 de 15 de junho de 1931 do Governo Federal, tornando-se modelo para as escolas de enfermagem brasileiras existentes e as futuras, permanecendo nessa condição até 1949, quando foi promulgada a Lei 775, que estabeleceu critérios para os cursos de graduação e de auxiliar de enfermagem. Apesar disso, várias escolas criadas posteriormente prosseguiram com o mesmo modelo de ensino de enfermagem(33. Lopes RE, Nóbrega-Therrien SM, Aragão SB. Studies on the impact of the law number 775 on nurse training. Hist Enferm Rev Eletron [Internet]. 2016 [cited 2022 Jun 10];7(2):449–57. Available from: http://here.abennacional.org.br/here/2a07.pdf
http://here.abennacional.org.br/here/2a0...
,44. Santos TCF, Almeida Fo AJ, Teixeira KRB, Batalha MC. Parsons Mission: a reflection about the immediate effects for the implementation of modern nursing. Cul Cuid [Internet]. 2022 [cited 2022 jul 6];26(62):138–50. Available from: https://rua.ua.es/dspace/handle/10045/122776
https://rua.ua.es/dspace/handle/10045/12...
).

Ao se tratar do desenvolvimento da enfermagem moderna no Brasil, cabe mencionar a inauguração de um curso inspirado no modelo Nightingale na cidade de São Paulo, no século XIX, vinculado ao Hospital Samaritano. Provavelmente, estudos ainda serão produzidos sobre as razões que impediram a difusão do referido modelo na sociedade brasileira naquele momento. Sabe-se que a Missão Parsons, no século XX, foi uma proposta do Governo Federal para realizar uma reforma no campo da saúde e, por essa razão, facilitada em seus propósitos de criar, difundir e, portanto, implantar, um modelo de enfermagem na sociedade, com especial destaque para a enfermagem de saúde pública (SP), fundamental para a construção da prática profissional da enfermagem pela precursora da enfermagem moderna(55. Mott MLB. Revendo a história da enfermagem em São Paulo (1890–1920). Cad Pagu [Internet]. 1999 [cited 2022 Oct 8]; (13):327–55. Available from:https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/8635331
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
). De fato, iniciativas de formação em enfermagem anteriores à Missão Parsons têm registro na historiografia da enfermagem brasileira, o que nos leva a reafirmar uma reflexão realizada por uma das autoras deste estudo sobre o aprisionamento dos avanços no campo do conhecimento da enfermagem ao modelo de Nightingale, quando, nos EUA, antes mesmo da chegada das ideias dessa enfermeira, já existia uma enfermagem com elevado padrão de qualidade(66. O’Brien P. ‘All a woman’s life can bring’: the domestic roots of nursing in Philadelphia, 1830–1885. Nurs Res [Internet]. 1987 Jan [cited 2022 Oct 8];36(1):12–17. Available from: https://journals.lww.com/nursingresearchonline/Citation/1987/01000/_All_a_Woman_s_Life_Can_Bring___The_Domestic_Roots.4.aspx
https://journals.lww.com/nursingresearch...
).

A Missão Parsons se empenhou em implantar o que se tinha de mais moderno no mundo em termos de enfermagem como profissão feminina. Dentro do possível, diante dos ideais conservadores do Brasil de 1920, Ethel Parsons, através da escola de enfermeiras, formou profissionais para qualificar, além da assistência em SP, a assistência no âmbito hospitalar geral e especializado. Essa qualificação deu visibilidade à identidade da enfermeira diplomada no campo da saúde, a qual obteve reconhecimento formal em 1937, quando a formação dessas enfermeiras passou a se dar no espaço universitário, com a inserção da referida escola na Universidade do Brasil, atual UFRJ(77. Santos SC, Almeida DB, Silva GTR, Santana GC, Silva HS, Santana LS. Identidade profissional da enfermeira: uma revisão integrativa. Rev Baiana Enferm. 2019;33:e29003. http://dx.doi.org/10.18471/rbe.v33.29003
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).

Em uma visão filosófica sobre a identidade profissional na enfermagem, um estudo sublinha no perfil profissional da enfermagem brasileira a modernidade nightingaleana e os conceitos advindos de proposições parsonianas que, na atualidade, permeiam o saber/fazer profissional, representando bases epistemológicas que permanecem, apesar das crises sociais vivenciadas no país, que afetaram os avanços histórico-evolutivos da enfermagem(88. Carvalho V. Sobre a identidade profissional na Enfermagem: reconsiderações pontuais em visão filosófica. Rev Bras Enferm. 2013;66(spe):24–32. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-716720130007000030
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).

A descoberta dos traços da trajetória pessoal de Ethel Parsons, a partir da construção da tese de doutorado intitulada “Missão Parsons: da implantação de um modelo de enfermeira de SP às bases da profissionalização da Enfermagem brasileira (1921–1931) ”, contribuiu para a releitura de documentos, possibilitando conhecer mais influências dessa líder da enfermagem brasileira, permitindo avaliar elementos identitários de um modelo de enfermeira implantado no Brasil. Mesmo que alguns elementos biográficos sejam subjetivos, o valor da personalidade Ethel Parsons para a enfermagem, por si só, justificaria este estudo sobre sua biografia.

Em face do exposto, a questão levantada pelos autores foi: quais características socioculturais serviram de base para construir a identidade profissional de Ethel Parsons, enfermeira indicada para desenvolver a enfermagem brasileira? O objetivo do estudo foi reconstruir aspectos biográficos de Ethel Parsons no centenário da Missão de Cooperação Técnica para o Desenvolvimento da Enfermagem no Brasil. As lacunas de conhecimento sobre o tema vão desde diferentes interpretações para o seu sobrenome paterno até ausência de informação sobre sua formação profissional completa, passando pelas suas origens sociais e sua imagem, visto que, em pesquisa simples na internet, encontram-se fotografias de pessoas homônimas identificadas como sendo ela, o que vem corroborando com a disseminação de erros históricos em trabalhos acadêmicos.

MÉTODO

Tipo de Estudo

Pesquisa biográfica, realizada pelo método de análise de fontes históricas, que consiste em leitura e interpretação dos documentos coletados. Cabe esclarecer que o campo de conhecimento da pesquisa biográfica busca reafirmar a especificidade e a centralidade do fato biográfico nos processos de individuação e de socialização. Os condicionamentos sociais, sofridos por todo ser humano, são fatores importantes na definição das histórias de vida(99. Borges VP. Fontes biográficas: grandezas e misérias da biografia. In: Pinsky CB, organizador. Fontes históricas. 2ª ed. São Paulo: Contexto; 2008. p. 203–33.). As biografias contribuem com o debate acerca da profissão na construção da identidade profissional de enfermagem, pois permitem destacar o legado deixado pelas personagens que influenciaram e vêm influenciando as práticas de cuidado, a pesquisa e a educação em enfermagem(1010. Padilha MI, Nelson S, Borenstein MS. As biografias como um dos caminhos na construção da identidade do profissional da enfermagem. Hist Cienc Saude Manguinhos. 2011;18(Suppl 1):241–52. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702011000500013. PubMed PMID: 22240956.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702011...
).

Coleta das Fontes Documentais

Os dados que sustentam esta pesquisa foram coletados em dois países, no período de julho de 2020 a agosto 2021. No Brasil, os documentos foram levantados no Centro de Documentação da Escola de Enfermagem Anna Nery da UFRJ; nos Estados Unidos (EUA), os documentos foram encontrados nas seguintes instituições: Embaixada Norte-Americana (alfândega americana responsável por serviços de imigração e viajantes); Rockefeller Archive Center – Tarritown, New York; Walworth Harrinson Public Library – Greenville; The Teachers College Record Archives; The Gottesman Libraries – Teachers College Columbia University; James B. Duke Library, da Universidade de Furman, Greenville; Denison University – Granville. O Quadro 1 a seguir apresenta as fontes documentais utilizadas na produção desta pesquisa.

Quadro 1.
Fontes documentais acerca da vida de Ethel Parsons – Juiz de Fora, MG, Brasil, 2020/2021.

A seleção do corpus documental ocorreu a partir do recorte temático e temporal do estudo e da observação dos princípios de pertinência, suficiência, exaustividade, representatividade, homogeneidade e organização por setores em relação ao problema e ao tema estudado(1111. Barros JA. O projeto de pesquisa em história: da escolha do tema ao quadro teórico. 8ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2012.). Foram excluídos documentos incompletos e que não permitiram a identificação de autoria ou do contexto em que foram produzidos. Entre os documentos selecionados, estão relatórios, registros oficiais, fontes jornalísticas publicadas pela imprensa local e documentos pessoais da personagem biografada.

Tratamento e Análise das Fontes

Após selecionado, o corpus documental foi categorizado, sendo submetido a uma leitura minuciosa e exaustiva, catalogado em planilha por cronologia, tipo e assunto. Foram retiradas as fontes duplicadas, sendo estabelecida a triangulação entre as fontes, o que levou à validação convergente dos achados, garantindo maior confiabilidade devido à combinação dos procedimentos metodológicos(1111. Barros JA. O projeto de pesquisa em história: da escolha do tema ao quadro teórico. 8ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2012.). Cabe destacar que as fontes internacionais foram separadas por ordem cronológica e traduzidas para o português por profissional tradutor de língua nativa inglesa.

As fontes foram analisadas mediante realização da crítica documental (interna e externa), visando avaliar a credibilidade e a representatividade dessas. Nessa etapa, foi verificada a veracidade das fontes, com observância em relação ao suporte, natureza do documento, procedência, originalidade, autenticidade e credibilidade do acervo(1212. Padilha MI, Bellaguarda MLR, Nelson S, Maia ARC, Costa R. The use of sources in historical research. Texto Contexto Enferm. 2017;26(4):e2760017. doi: https://doi.org/10.1590/0104-07072017002760017
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).

Aspectos Éticos

Os documentos referenciados neste artigo pertencem a acervos de instituições brasileiras e norte-americanas que atestam a credibilidade interna e externa das fontes e estão abertos para consulta, conforme suas regras específicas.

RESULTADOS

A busca resultou em um total de 12 documentos, conforme apresentado no Quadro 1, citadas ao longo do texto.

Surge a Personagem Ethyle Estelle Shaman

Para traçar a biografia da enfermeira Ethel Parsons (Figura 1), foi necessária uma busca exaustiva por documentos tanto no Brasil quanto nos EUA, seu país de origem, a fim de desvendar possíveis rastros nominais que garantissem o resgate pretendido. A ausência de informações com a busca feita pelo seu nome, conforme grafado nos documentos encontrados no Brasil, levou à necessidade de uma análise minuciosa da “caligrafia das letras de estilo cursiva” na ficha de registro da sua história pessoal de funcionária da Fundação Rockefeller, preenchida pela própria Ethel Parsons, na qual consta seu nome e assinatura. Esse destaque é necessário para compreender os fatos que definiram o nome de nascimento de Ethel Parsons, elemento-chave para encontrar os documentos que compõem este estudo.

Figura 1.
Retrato de Ethel Parsons doado para a escola de enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública.

Registrada ao nascer como Ethyle Estelle Shaman, de descendência Suíça, por parte dos avós paternos, a enfermeira Ethel Parsons nasceu em 18 de setembro de 1882 e faleceu em 13 de outubro de 1953, aos 71 anos de idade. Seu local de nascimento foi no Vilarejo de Benington, localizado ao Sul de Locke e ao Norte de Granville, em Ohio, EUA(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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).

No que diz respeito à sua data de nascimento, verifica-se em documento por ela preenchido como sendo o ano de 1884. Contudo, os registros oficiais dos moradores da cidade de Ohio mostram que, até 1881, residiam na casa da família de Ethel apenas seus pais, passando, a partir de 1882, a constar também seu nome no mesmo endereço residencial, o que indica seu nascimento no período entre os censos de 1881/1882(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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,1414. National Archives and Record Administration. Clues in Census Records, 1850–1940 [Internet]. Washington: National Archives and Record Administration; 1881–1882 [updated 2021 Jan 8; cited 2022 Mar 15]. Available from: http://www.archives.gov/genealogy/census/1850-1930.html
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).

Filha de Emanuel Elias Shaman e Carrie Arnold Shaman, seus pais se separaram em 1900, quando ela tinha 18 anos. Ethel permaneceu morando com a mãe, que se casou pela segunda vez em 1904 com James McCann, que se tornou seu padrasto(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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,1414. National Archives and Record Administration. Clues in Census Records, 1850–1940 [Internet]. Washington: National Archives and Record Administration; 1881–1882 [updated 2021 Jan 8; cited 2022 Mar 15]. Available from: http://www.archives.gov/genealogy/census/1850-1930.html
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). Sua mãe é identificada como “matron” e trabalhava como supervisora no Orphanage Support Services Organization (OSSO), em Xenia/Ohio, cidade que morou com Ethel após se separar do primeiro marido, tendo se aposentado como enfermeira(1414. National Archives and Record Administration. Clues in Census Records, 1850–1940 [Internet]. Washington: National Archives and Record Administration; 1881–1882 [updated 2021 Jan 8; cited 2022 Mar 15]. Available from: http://www.archives.gov/genealogy/census/1850-1930.html
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,1717. Newspapers. The Dayton Herald (Dayton, Ohio) [Internet]. Dayton (OH): Dayton Journal Co.; 1905–1949 [cited 2021 Mar 20]. Available from: https://www.newspapers.com/search
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). Carrie era descendente da Revolução Americana (Daughters of the American Revolution – DAR) por parte de seu avô materno, Jacob Arnold, personagem importante da referida revolução, que atuou como combatente. Ethel, na qualidade de bisneta, herdou a posição de DAR, mantendo enaltecido em família o título de Patriotas da América. A importância da família de Ethel na história americana ficou evidenciada nas pautas dos principais jornais dos estados de Ohio, Texas, Novo México e Califórnia desde a sua adolescência(1515. Columbia University. Teachers College. Gottesman Libraries [Internet]. New York: Techers College, Columbia University; c2006–2022 [cited 2020 out 15]. Available from: https://library.tc.columbia.edu/
https://library.tc.columbia.edu/...
,1717. Newspapers. The Dayton Herald (Dayton, Ohio) [Internet]. Dayton (OH): Dayton Journal Co.; 1905–1949 [cited 2021 Mar 20]. Available from: https://www.newspapers.com/search
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,2424. Daughters of the American Revolution. The DAR Story [Internet]. Washington (DC): Daughters of the American Revolution; c1890–2022 [cited 2022 Jul 15]. Available from: www.dar.org
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).

Até tornar-se adolescente, o nome “Ethyl” era o que constava em formulários e documentos das instituições que Ethel frequentava. A partir de 1897, quando ela tinha 18 anos de idade, a mídia passou a se referir a ela como Ethel (com a letra “e” no lugar do “y” de Ethyle)(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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1515. Columbia University. Teachers College. Gottesman Libraries [Internet]. New York: Techers College, Columbia University; c2006–2022 [cited 2020 out 15]. Available from: https://library.tc.columbia.edu/
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). O mesmo fato se deu em relação ao nome de sua mãe, Carrie, que em alguns documentos foi escrito como Carried (com acréscimo da letra “d” ao final). De igual modo, evidenciamos inconsistências no sobrenome de seu pai, Shaman, escrito de várias formas em diferentes documentos, a saber: Shenon, Shernon, Sheron, Sharon, Sharnon(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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,1515. Columbia University. Teachers College. Gottesman Libraries [Internet]. New York: Techers College, Columbia University; c2006–2022 [cited 2020 out 15]. Available from: https://library.tc.columbia.edu/
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,1717. Newspapers. The Dayton Herald (Dayton, Ohio) [Internet]. Dayton (OH): Dayton Journal Co.; 1905–1949 [cited 2021 Mar 20]. Available from: https://www.newspapers.com/search
https://www.newspapers.com/search...
).

Nos documentos da Missão Parsons, já tendo o sobrenome de casada (Parsons), ela costumava abreviar o sobrenome paterno (Shaman). Essa abreviação fez com que a letra manuscrita fosse interpretada por pesquisadoras brasileiras ora como sendo a letra “s” (Ethel S. Parsons)(2525. Santos LAC, Faria LR. A cooperação internacional e a enfermagem de saúde pública no Rio de Janeiro e São Paulo. Horizontes [Internet]. 2004 [cited 2022 Jul 15]; 22(2):123–50. Available from: http://lyceumonline.usf.edu.br/webp/portalUSF/edusf/publicacoes/RevistaHorizontes/Volume_04/uploadAddress/hor-3[6264].pdf
http://lyceumonline.usf.edu.br/webp/port...
) ora como sendo a letra “o” (Ethel O. Parsons)(2626. Passos ES. De anjos a mulheres: ideologias e valores na formação de enfermeiras [Internet]. 2ª ed. Salvador: EDUFBA; 2012 [cited 2022 Jul 15]. 196 p. Available from: https://static.scielo.org/scielobooks/mnhy2/pdf/passos-9788523211752.pdf
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).

A identificação da primeira letra do sobrenome paterno de Ethel Parsons, apesar de parecer um detalhe relativamente simples ou de pouca relevância, foi um dos maiores obstáculos para que a pesquisa fluísse. Na Ficha de Registro da História Pessoal, por ela preenchida para a Fundação Rockefeller (FR), foi possível observar que, em algum momento posterior, foi complementado à letra “s”, também em letra cursiva, com caneta de cor diferente da original, a grafia “haman”, formando o sobrenome Shaman(2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.,2121. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery. Centro de Documentação. Missão Parsons. Rio de Janeiro: CEDOC; 1921.).

Em um olhar atento à citada ficha de registro, Ethel Parsons se declara viúva (widow), o que confirma o sobrenome Parsons como sendo de seu marido. Como de praxe, nos casamentos da época, a mulher assumia o sobrenome do marido, e isso é confirmado em documentos do Brasil (correspondências, cartas, memorandos), sendo ela referida como “Mrs. Parsons”. A sigla “Mrs” na língua inglesa é usada para mencionar uma mulher casada, ao contrário da sigla “Ms” usada para identificar uma mulher solteira(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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,2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.,2121. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery. Centro de Documentação. Missão Parsons. Rio de Janeiro: CEDOC; 1921.).

A partir da descoberta do sobrenome paterno de Ethel, foram feitos novos contatos com as instituições de ensino e formação profissional citadas na mesma ficha, nas quais, em buscas anteriores pelo nome abreviado e de casada, não foram encontrados dados de Ethel Parsons. Uma vez conhecendo seu sobrenome paterno, foi possível identificar Ethel, antes Ethyle, em uma das listas de alunas da instituição de ensino por ela frequentada(1515. Columbia University. Teachers College. Gottesman Libraries [Internet]. New York: Techers College, Columbia University; c2006–2022 [cited 2020 out 15]. Available from: https://library.tc.columbia.edu/
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).

Conforme preenchido na ficha da FR, Ethel Parsons estudou de 1896 a 1899 na Granville High School, escola localizada na cidade de Granville, Ohio. De 1899 a 1902, estudou na Granville Female College, faculdade para moças cujos pais eram membros ou simpatizantes da doutrina presbiteriana, onde se adquiria uma cultura ampla, incluindo conhecimento de Música, Artes e Letras; de 1902 a 1904, estudou enfermagem no Grant Hospital Training School, em Columbus, Ohio; e de 1914 a 1915, cursou especialização no Teachers College Public Health Nurse, New York(2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.,2121. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery. Centro de Documentação. Missão Parsons. Rio de Janeiro: CEDOC; 1921.).

A grafia de seu nome como “Ethyl” foi mantida pela nossa biografada até antes do seu casamento, pois assim consta em seu registro na lista de formandas da turma de 1902 do curso de enfermeiras do Grant Hospital(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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), porém, na lista de egressas da primeira turma de pós-graduação em SP do Teachers College (1914–1915), seu nome consta como Ethel Shaman Parsons(1515. Columbia University. Teachers College. Gottesman Libraries [Internet]. New York: Techers College, Columbia University; c2006–2022 [cited 2020 out 15]. Available from: https://library.tc.columbia.edu/
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).

Em 20 de Julho de 1905, já enfermeira diplomada e com 23 anos, Ethel Estelle Shaman teve seu noivado anunciado no The Journal Herald. Nesse anúncio de casamento, seus pais foram citados como sendo o Sr. e a Sra. James McCann, indicando como referência seu padrasto e sua mãe(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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,1515. Columbia University. Teachers College. Gottesman Libraries [Internet]. New York: Techers College, Columbia University; c2006–2022 [cited 2020 out 15]. Available from: https://library.tc.columbia.edu/
https://library.tc.columbia.edu/...
). Em 15 de julho de 1906, aos 24 anos de idade, Ethel Estelle Shaman se casou em Benton Harbor, uma cidade no condado de Berrien, no estado americano de Michigan. O marido, Azariah Worthington Parsons, de 49 anos, era um renomado médico e escritor. O Dr. Parsons, como era conhecido, já havia tido dois casamentos antes de se unir a jovem Ethel: um em 1881 e outro em 1885(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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,1515. Columbia University. Teachers College. Gottesman Libraries [Internet]. New York: Techers College, Columbia University; c2006–2022 [cited 2020 out 15]. Available from: https://library.tc.columbia.edu/
https://library.tc.columbia.edu/...
,1717. Newspapers. The Dayton Herald (Dayton, Ohio) [Internet]. Dayton (OH): Dayton Journal Co.; 1905–1949 [cited 2021 Mar 20]. Available from: https://www.newspapers.com/search
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).

Enquanto esteve casada, Ethel viveu no Texas com o Dr. Parsons. O casal não teve filhos, e se divorciou após quatro anos de casamento, em 1910, quando Ethel estava com 28 anos de idade. No censo do mesmo ano, ela se autodeclarou divorciada e principal provedora de sua família. O Dr. Parsons se casou pela quarta vez em 1910, após o divórcio com Ethel, e veio a falecer em sua casa, em Oakwood/Texas, no dia 4 de setembro de 1931, de miocardite crônica(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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,1414. National Archives and Record Administration. Clues in Census Records, 1850–1940 [Internet]. Washington: National Archives and Record Administration; 1881–1882 [updated 2021 Jan 8; cited 2022 Mar 15]. Available from: http://www.archives.gov/genealogy/census/1850-1930.html
http://www.archives.gov/genealogy/census...
).

A Construção de Uma Carreira de Sucesso: Vida Acadêmica e Profissional

Ethel assumiu seu primeiro emprego aos 16 anos como estenógrafa em uma empresa de contabilidade, onde ficou por um ano(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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). A seguir, tornou-se funcionária da Associação de Médicos, em Chicago, de onde pediu demissão em 14 de setembro de 1899 para iniciar um trabalho no Hospital Athens, na mesma cidade, indicada pelo Governador de Ohio (gestão 1896 a 1900), Asa Smith Bushnell. Ethel, nessa época, era solteira e tinha entre 17 e 18 anos de idade(1515. Columbia University. Teachers College. Gottesman Libraries [Internet]. New York: Techers College, Columbia University; c2006–2022 [cited 2020 out 15]. Available from: https://library.tc.columbia.edu/
https://library.tc.columbia.edu/...
).

Essa atividade e profissão de sua mãe provavelmente despertou seu interesse pela enfermagem, já que, em 1902, aos 20 anos, entrou para a Escola de Treinamento de Enfermeiras do Grant Hospital, em Columbus/Ohio, diplomando-se enfermeira dois anos depois(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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,1717. Newspapers. The Dayton Herald (Dayton, Ohio) [Internet]. Dayton (OH): Dayton Journal Co.; 1905–1949 [cited 2021 Mar 20]. Available from: https://www.newspapers.com/search
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).

Ethel Parsons cursou especialização em enfermagem em SP, de 1914 até 1915, no Teachers College – Columbia University, uma escola de, saúde e, localizada em Nova Iorque. O curso era para enfermeiras graduadas que, ao concluírem, recebiam também o certificado de professoras. Foi ministrado por Mary Adelaide Nutting, enfermeira canadense, formada no primeiro programa de treinamento de enfermagem da J University, em 1891, modelo de enfermeira pela sua participação em importantes reformas curriculares nos EUA, em especial a que originou o (1917), proposto pela National League of Nursing(2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.,2121. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery. Centro de Documentação. Missão Parsons. Rio de Janeiro: CEDOC; 1921.).

Ethel Parsons seguia em ascensão profissional, e, após se especializar, iniciou o trabalho como enfermeira de SP no Houston Settlement, Texas, em 1916. Ainda nesse ano, entrou para os serviços de enfermagem da Cruz Vermelha Americana (CVA) com a função de treinar e selecionar enfermeiras durante a Primeira Guerra Mundial. Findada a guerra, Ethel assumiu o cargo de Diretora de Enfermagem da Secretaria de SP em uma das quatro divisões da CVA, onde também atuou treinando e cadastrando enfermeiras para trabalhar durante a epidemia da gripe espanhola, no período de fevereiro a julho de 1918. Posteriormente, precisou se afastar do trabalho por 19 dias devido a motivo de saúde, não retornando mais para essa função de treinadora(1919. Rude AR. Status of state bureaus of child hygiene. AJPH. 1920;10(10):772–9. doi: http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.10.10.772.
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,2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.).

Em 1919, após um ano de serviço, Ethel renunciou ao cargo de Diretora da CVA para assumir o cargo de Diretora de Enfermagem da Secretaria Estadual de SP do Texas, porém permaneceu ainda como membro do Comitê Nacional de Enfermagem da CVA. Nesse mesmo ano, assumiu o cargo de Diretora do Departamento de Higiene Infantil da Secretaria de Saúde do Texas, o Bureau of Child Hygiene, criado em 1º de setembro de 1919 pelo Conselho de Saúde do Texas, com a finalidade de prevenir mortes infantis e fortalecer o sistema de saúde, sendo fortemente apoiada pelo Diretor do Conselho de Saúde do Texas(1616. Parsons E. Parsons, Ethel (correspondence). In: Colombia University. Teachers College. PocketKnowledge [Internet]. New York: Teachers College, Columbia University; 1922–1925 [cited 2020 Nov 20]. Available from: https://pk.tc.columbia.edu/item/Parsons-Ethel-(correspondence)-74449
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,1919. Rude AR. Status of state bureaus of child hygiene. AJPH. 1920;10(10):772–9. doi: http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.10.10.772.
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).

Como diretora, ela recomendou uma campanha ativa que tivesse mais relação com a saúde da criança, devido às estatísticas gerais do país mostrarem que, para cada 154 bebês nascidos, uma mãe perdia a vida e que, em 1918, somente no estado do Texas, 625 mães morreram no parto. Além disso, no meio médico, todos concordavam que 90% dessa perda poderia ser evitada e que instruções e cuidados de pré-natais adequados salvariam a mãe e o bebê(1616. Parsons E. Parsons, Ethel (correspondence). In: Colombia University. Teachers College. PocketKnowledge [Internet]. New York: Teachers College, Columbia University; 1922–1925 [cited 2020 Nov 20]. Available from: https://pk.tc.columbia.edu/item/Parsons-Ethel-(correspondence)-74449
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,1919. Rude AR. Status of state bureaus of child hygiene. AJPH. 1920;10(10):772–9. doi: http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.10.10.772.
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).

Concomitantemente ao cargo de diretora, atuava como membro do Conselho de Saúde de Higiene Infantil na Atenção ao Pré-Natal e ao Recém-Nascido Prematuro no Conselho Estadual de Saúde e Enfermagem em SP da América, mantendo o cargo de Diretora Distrital da Cruz Vermelha do Texas(1616. Parsons E. Parsons, Ethel (correspondence). In: Colombia University. Teachers College. PocketKnowledge [Internet]. New York: Teachers College, Columbia University; 1922–1925 [cited 2020 Nov 20]. Available from: https://pk.tc.columbia.edu/item/Parsons-Ethel-(correspondence)-74449
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).

Em janeiro 1921, ela publicou um artigo intitulado Child Hygiene and Public Health Nursing, no Texas State Journal of Medicine, no qual descreve brevemente como organizou os serviços de saúde no Bureau of Child Hygiene, trabalho que lhe permitiu aperfeiçoar um plano de cooperação entre a CVA, a Universidade do Texas, a Divisão de Bem-Estar Infantil da Federação Estadual de Clubes de Mulheres e o Congresso de Mães do Texas. Após assegurar a cooperação com essas organizações, Ethel Parsons iniciou o planejamento dos programas que desenvolveu enquanto atuou nesse estado(1717. Newspapers. The Dayton Herald (Dayton, Ohio) [Internet]. Dayton (OH): Dayton Journal Co.; 1905–1949 [cited 2021 Mar 20]. Available from: https://www.newspapers.com/search
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1919. Rude AR. Status of state bureaus of child hygiene. AJPH. 1920;10(10):772–9. doi: http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.10.10.772.
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).

Em junho de 1921, Wickliffe Rose, Diretor do International Health Board (IHB) da FR, enviou uma carta convite a Ethel Parsons comunicando o interesse do governo brasileiro na implantação dos serviços de enfermagem em SP e na criação de uma escola de enfermagem no estado do Rio de Janeiro/Brasil(2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.,2121. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery. Centro de Documentação. Missão Parsons. Rio de Janeiro: CEDOC; 1921.). Ethel Parsons foi uma das enfermeiras a apresentar o programa de SP norte-americano ao sanitarista brasileiro Dr. Carlos Chagas, quando ele foi em viagem aos EUA com finalidade de conhecer a enfermagem norte-americana(2121. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery. Centro de Documentação. Missão Parsons. Rio de Janeiro: CEDOC; 1921.).

Em 05 setembro de 1921, Ethel Parsons chegou ao Brasil para coordenar a Missão de Cooperação Técnica para o desenvolvimento da enfermagem moderna no Brasil. Sua primeira iniciativa foi fazer um relatório da situação, constatando que as escolas de enfermagem existentes não apresentavam os padrões mínimos comparáveis aos adotados nos países anglo-saxões, que os hospitais viviam superlotados e que a enfermagem era constituída por pessoas, de ambos os sexos, sem formação em enfermagem(1818. Embaixada do Brasil-EUA. Passport applications. Embaixada do Brasil-EUA; 1906–1926.,2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.,2121. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery. Centro de Documentação. Missão Parsons. Rio de Janeiro: CEDOC; 1921.).

No interior do DNSP, os médicos atuantes nos serviços de tuberculose, doenças venéreas e higiene infantil haviam contratado 44 moças, de baixo nível de instrução, que após doze palestras passaram a atuar como visitadoras de higiene. Para Ethel Parsons, essa situação era inadequada e comprometia a assistência de enfermagem prestada, pois as visitadoras careciam de conhecimentos básicos de enfermagem em concomitância com o treinamento sistematizado em campos de prática(2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.,2121. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery. Centro de Documentação. Missão Parsons. Rio de Janeiro: CEDOC; 1921.).

Após ser contratada como membro especial da IHB da FR, Ethel Parsons foi nomeada superintendente do recém-criado Serviço de Enfermeira do DNSP e recebeu a incumbência de apoiar o governo brasileiro em uma reforma sanitária, na qual organizou o serviço de enfermagem de SP, cujo período de atuação foi de dez anos, iniciando seu trabalho junto às visitadoras de higiene, em 1921, ministrando cursos intensivos de seis a dez meses sobre matérias essenciais do curso de enfermagem enquanto cuidava de instalar uma moderna escola de enfermeiras, anexa ao Hospital Geral da Assistência, no Rio de janeiro, então capital do Brasil(2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.).

O encerramento da Missão Parsons se deu em 1931, quando Ethel Parsons, após algumas solicitações feitas à FR para retornar ao seu país, teve seu pedido atendido. Ethel Parsons solicitou retorno aos EUA após ter passado meses investigando um sério problema de saúde que a levou ao tratamento em instância para cuidados à tuberculosos na região serrana do estado do Rio de Janeiro. A doença foi descartada pelo médico Thompson Motta após examiná-la, mas não houve diagnóstico para o que sentia Ethel naquele momento. Ethel se queixava também de problemas dentários(2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.,2121. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery. Centro de Documentação. Missão Parsons. Rio de Janeiro: CEDOC; 1921.).

Com o fim da Missão no Brasil, com problemas de saúde em investigação, Ethel Parsons voltou para o Texas em 15 de setembro de 1931. No ano seguinte, na cidade de Las Cruces, Novo México/EUA, Ethel Parsons, então com 50 anos, casou-se novamente, desta vez com o herdeiro milionário Thomas M. Fairbairn, em 20 junho de 1932. Desde então, não há notícias de sua atuação na enfermagem. Thomas M. Fairbairn faleceu em 1943, aos 69 anos, deixando Ethel Parsons viúva(2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.,2121. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery. Centro de Documentação. Missão Parsons. Rio de Janeiro: CEDOC; 1921.).

A certidão de óbito de Ethel Estelle Shaman Parsons Fairbairn registra seu falecimento em 03 de novembro de 1953, às 4:30 da manhã, no St. Benedictos Hospital, em Bexas, cidade do Texas, devido à doença cardiovascular hipertensiva, aos 71 anos de idade. Foi cremada, em 07 de novembro de 1953, no Removal Burial Cremation, e suas cinzas foram levadas para o cemitério Mountain View Mausoleum, em Altadena, Los Angeles County, California, onde repousa ao lado de seu último marido(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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,1414. National Archives and Record Administration. Clues in Census Records, 1850–1940 [Internet]. Washington: National Archives and Record Administration; 1881–1882 [updated 2021 Jan 8; cited 2022 Mar 15]. Available from: http://www.archives.gov/genealogy/census/1850-1930.html
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).

DISCUSSÃO

O primeiro ponto de discussão na biografia de Ethel Parsons diz respeito às diferentes grafias de seu primeiro nome e do sobrenome do seu pai em documentos, como fichas de registro, listas escolares, entre outros. Com base em estudos acerca da cultura norte-americana do século XIX e início do século XX, é possível supor que, por ter nascido em um vilarejo em Ohio, região de grande migração de famílias de negros e judeus, e onde se instalaram imigrantes ingleses, americanos (nova-iorquinos), irlandeses e russos, provavelmente era comum diferentes pronúncias para seu nome Ethyle(2727. Van Tessel DD, Grabowski JJ, editors. The encyclopedia of cleveland history. 2nd ed. Bloomington: Indiana University Press; 1996.).

Isso explicaria o fato de ela ter optado por escrever Ethel (com “e”), tornando a pronúncia de seu nome uniforme para esses diferentes imigrantes, então moradores da sua região, pois seu nome Ethyle deve ser pronunciado como “Étôul”, o mesmo que se usa para Ethel. Contudo, em uma região mestiça, provavelmente era comum as pessoas pronunciarem “Étíul”, o que, aos ouvidos de uma moça aristocrata, poderia soar desconfortável. Assim, a pronúncia correta do seu nome ficaria mais óbvia se escrito Ethel, enquanto a grafia com “y”, Ethyle ou Ethyl, levava a sons e compreensões diferentes do desejado(1313. Furman University. James B. Duke Library. Special collections and archives [Internet]. Greenville (SC): Furman University; 2020 [cited 2021 Feb 15]. Available from: https://libguides.furman.edu/special-collections/introduction
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,1414. National Archives and Record Administration. Clues in Census Records, 1850–1940 [Internet]. Washington: National Archives and Record Administration; 1881–1882 [updated 2021 Jan 8; cited 2022 Mar 15]. Available from: http://www.archives.gov/genealogy/census/1850-1930.html
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).

As instituições de ensino frequentadas por Ethel indicam uma excelente formação escolar e mostram seu interesse em adquirir conhecimento, progredindo nos estudos até a pós-graduação, cursada em uma instituição que já tinha importância em seu tempo, o Teachers College, onde foi egressa da primeira turma de pós-graduação em SP, constando seu nome entre as ex-alunas dos anos de 1914–1915(1515. Columbia University. Teachers College. Gottesman Libraries [Internet]. New York: Techers College, Columbia University; c2006–2022 [cited 2020 out 15]. Available from: https://library.tc.columbia.edu/
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,2323. Russell JE. Nursing and health alumini notes. In: Teachers College Record [Internet]. New York: Teachers College, Columbia University; 1922 [cited 2022 Jul 15];23(2). Available from: https://www.tcrecord.org
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).

Entende-se que essa formação acadêmica religiosa, social e cultural possibilitou a Ethel um preparo diferenciado em todos os campos, incluindo o profissional. Esta afirmativa é comprovada quando se avalia a sua experiência profissional pregressa à atuação no Brasil, sendo possível observar que ela trabalhou em quatro atividades e locais diferentes, alternando entre atuações de liderança, ensino, gestão e atividades assistenciais, concentrando seus primeiros anos de carreira em atuações no Sul dos EUA, região próxima à fronteira mexicana, o que pode explicar a informação sobre ela dominar o idioma espanhol(2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.,2121. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery. Centro de Documentação. Missão Parsons. Rio de Janeiro: CEDOC; 1921.).

Analisando essas atividades, pode-se depreender que Ethel Parsons, além de enfermeira e educadora, era uma líder nata, com visão de gestão e competência no trabalho desenvolvido, o que se articulava com sua identidade patriótica de membro da DAR(2424. Daughters of the American Revolution. The DAR Story [Internet]. Washington (DC): Daughters of the American Revolution; c1890–2022 [cited 2022 Jul 15]. Available from: www.dar.org
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). Essas experiências fortaleceram suas qualidades para, posteriormente, assumir a função, na visão das autoras, mais importante de sua vida, coordenar os trabalhos da que seria denominada Missão Parsons no Brasil.

Essas experiências diversas, porém complementares, permitiram a Ethel Parsons adquirir uma compreensão de como atender às necessidades de saúde tanto no âmbito hospitalar quanto no de SP, em tempos de guerra e em tempos de paz. Sem dúvida, ela era reconhecida nos EUA como uma profissional competente em termos de gestão de serviços, implantação e desenvolvimento de políticas públicas de saúde, habilidosa nas relações com as instituições, além de uma grande líder com funções que desempenhava concomitantemente.

Como estudiosa, comprometida com a saúde e o papel da enfermeira neste processo, Ethel Parsons acreditava que era dever de todos empenhar esforços para evitar o desperdício desnecessário de vidas humanas, sem contar a perda da força de trabalho que ocorria com frequência. A saúde e o bem-estar infantil eram essenciais em qualquer programa geral de SP e medicina preventiva, e o destaque que esse assunto assumia no Brasil era indicativo de fundamental importância(1919. Rude AR. Status of state bureaus of child hygiene. AJPH. 1920;10(10):772–9. doi: http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.10.10.772.
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,2222. Parsons E. Child hygiene and public health nursing. Texas State Journal of Medicine [Internet]. 1921 [cited 2021 Jun 18];16. Available from: https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=hvd.32044102959699&view
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).

A identidade profissional de Ethel Parsons foi construída a partir de formação escolar básica compatível com o perfil de formação de mulheres na sociedade em seu tempo, curso de enfermeira de dois anos, especialização em universidade renomada, exercício profissional na área de especialização e ocupação de elevadas posições administrativas no campo da saúde. Para algumas dessas posições, Ethel foi indicada, como seu trabalho no Hospital Athens, pelo Governador de Ohio, que provavelmente ocorreu devido ao prestígio e influência política e social de sua família(77. Santos SC, Almeida DB, Silva GTR, Santana GC, Silva HS, Santana LS. Identidade profissional da enfermeira: uma revisão integrativa. Rev Baiana Enferm. 2019;33:e29003. http://dx.doi.org/10.18471/rbe.v33.29003
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,1515. Columbia University. Teachers College. Gottesman Libraries [Internet]. New York: Techers College, Columbia University; c2006–2022 [cited 2020 out 15]. Available from: https://library.tc.columbia.edu/
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,1616. Parsons E. Parsons, Ethel (correspondence). In: Colombia University. Teachers College. PocketKnowledge [Internet]. New York: Teachers College, Columbia University; 1922–1925 [cited 2020 Nov 20]. Available from: https://pk.tc.columbia.edu/item/Parsons-Ethel-(correspondence)-74449
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).

Dessa forma, depreende-se que a chefe da Missão Parsons protagonizou a liderança feminina no projeto de cooperação que envolvia o governo brasileiro (DNSP) e o governo norte-americano (FR), para transformar a enfermagem em uma profissão reconhecida no Brasil com uma identidade própria, compatível com a enfermagem moderna, diferenciando-se do que no país era protagonizado como enfermagem. O projeto da Missão Parsons foi exitoso, pois redundou na criação de um serviço de enfermeiras de SP à nível federal e de uma escola de enfermeiras com padrões de nível superior. Cumpre ainda destacar que, no tocante à formação de enfermeiras, a Missão Parsons adotou a exclusividade feminina na profissão, além da exigência de qualidades específicas também contidas no modelo inicial preconizado por Florence Nightingale(2525. Santos LAC, Faria LR. A cooperação internacional e a enfermagem de saúde pública no Rio de Janeiro e São Paulo. Horizontes [Internet]. 2004 [cited 2022 Jul 15]; 22(2):123–50. Available from: http://lyceumonline.usf.edu.br/webp/portalUSF/edusf/publicacoes/RevistaHorizontes/Volume_04/uploadAddress/hor-3[6264].pdf
http://lyceumonline.usf.edu.br/webp/port...
,2626. Passos ES. De anjos a mulheres: ideologias e valores na formação de enfermeiras [Internet]. 2ª ed. Salvador: EDUFBA; 2012 [cited 2022 Jul 15]. 196 p. Available from: https://static.scielo.org/scielobooks/mnhy2/pdf/passos-9788523211752.pdf
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).

O modelo parsoniano de enfermagem considera que, para o paciente se tornar o centro do cuidado de enfermagem, é preciso conhecer sua cultura, seus valores e suas expectativas de vida, não se tratando apenas de oferecer a ele apenas o que foi prescrito pelo médico. Isso acrescentava importância à visita domiciliar da enfermeira, profissional responsável por conhecer o ambiente residencial do paciente, sua família, seu papel profissional, sua classe social, buscando um cuidado individualizado(2828. Araújo AC, Sanna MC. Ciências Humanas e Sociais na formação das primeiras enfermeiras cariocas e paulistanas. Rev Bras Enferm. 2011;64(6): 1106–13. doi: https://doi.org/10.1590/S0034-71672011000600018. PubMed PMID: 22664611.
https://doi.org/10.1590/S0034-7167201100...
,2929. Ferreira LO, Salles RBB. The social origin of the standard nurse: the recruitment and public image of the nurse in Brazil, 1920. Nuevo Mundo Mundos Nuevos. 2019:19. doi: https://doi.org/10.4000/nuevomundo.77966
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).

Ethel Parsons considerava ainda que a enfermeira de SP era o agente mais eficaz da campanha educativa instituída na reforma sanitária dos EUA, o que seria fomentado nos mesmos moldes por Dr. Carlos Chagas no Brasil. Destacava a importância do posto de saúde infantil, sob supervisão de uma enfermeira de SP, como local de conhecimento dos melhores meios de prevenção de doenças entre crianças. Ela defendia que o essencial em um centro de saúde infantil era contar com um bom médico e uma boa enfermeira de SP, para atender às crianças e às mães, e que houvesse um ambiente próprio para esse atendimento(1919. Rude AR. Status of state bureaus of child hygiene. AJPH. 1920;10(10):772–9. doi: http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.10.10.772.
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,2121. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery. Centro de Documentação. Missão Parsons. Rio de Janeiro: CEDOC; 1921.). Nessa expressão de Ethel Parsons, nota-se a equipe de SP da época, que no Brasil seria também assim constituída, com médico e enfermeiras de SP, sendo essas as autoridades profissionais no centro de saúde.

Ainda nos escritos de Ethel Parsons, consta que o crescimento das enfermeiras de SP ocorreu em resposta a uma necessidade no campo da medicina. Contudo, para atender aos padrões de exigência a essa profissional, era necessário um bom treinamento em hospital geral e, pelo menos, dois meses de treinamento especial em enfermagem em SP. Segundo ela, a enfermeira, para ter sucesso no trabalho em SP, deveria ser dotada de um verdadeiro amor pela humanidade e de um espírito de trabalho e de ensino, o que de algum modo reflete a sua formação em princípios presbiterianos(2020. Rockefeller Archive Center. Brazil, Série 305; Brazil Nursing, Subseries 305c. Box 7. New York: Rockefeller Archive Center; 1921–1931.,2222. Parsons E. Child hygiene and public health nursing. Texas State Journal of Medicine [Internet]. 1921 [cited 2021 Jun 18];16. Available from: https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=hvd.32044102959699&view
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).

Os artigos de autoria de Ethel Parsons nos trazem traços da sua identidade social e profissional, que valorizava especialmente os cuidados da enfermeira de SP, de padrão de conhecimento elevado, capaz de mobilizar as comunidades em favor da prevenção da saúde, a começar pela saúde materno-infantil. De modo semelhante, sua identidade social de mulher aristocrática, de religião cristã, que herdou o legado patriótico de seu avô, aparece quando associa às características da enfermeira de SP valores humanitários e atitude de servir à profissão(2222. Parsons E. Child hygiene and public health nursing. Texas State Journal of Medicine [Internet]. 1921 [cited 2021 Jun 18];16. Available from: https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=hvd.32044102959699&view
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).

O trabalho desenvolvido por ela, articulando educação para a saúde, preparo de profissionais para o trabalho de enfermagem de SP e a formação de qualidade, além dos textos por ela publicados sobre como a saúde deveria ser promovida e desenvolvida na comunidade, convergia com os ideais da FR, em termos de fornecer possibilidades de educação em saúde para os demais países americanos em desenvolvimento, em especial o Brasil, estabelecendo amistosas relações políticas e aumentando a influência cultural dos EUA sobre os países da América Latina(2828. Araújo AC, Sanna MC. Ciências Humanas e Sociais na formação das primeiras enfermeiras cariocas e paulistanas. Rev Bras Enferm. 2011;64(6): 1106–13. doi: https://doi.org/10.1590/S0034-71672011000600018. PubMed PMID: 22664611.
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3030. Peters AA, Peres MAA, D’Antonio P. Influences of the Anglo-American Teaching System in Brazil: contributions by the Parsons Mission (1921–1925). Online J Issues Nurs. 2020;25(2):6. doi: https://doi.org/10.3912/OJIN.Vol25No02Man06
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).

A Missão Parsons produziu em 10 anos de permanência no país efeitos extraordinários, como implantação e reconhecimento de uma escola de enfermeiras de alto padrão, organização de um serviço nacional de enfermeiras de SP, reconfiguração da enfermagem em vários hospitais federais, entre eles o Hospital Geral da Assistência, criação de uma associação de enfermeiras, que conquistou assento no International Council of Nursing (ICN), em 1929, e promulgação de legislação que regulamentou o exercício da enfermagem no Brasil. Além disso, ao dar visibilidade à figura da enfermeira diplomada, reforçou no imaginário coletivo a imagem da mulher economicamente emancipada, o que pode ser considerado ousado para o período(2929. Ferreira LO, Salles RBB. The social origin of the standard nurse: the recruitment and public image of the nurse in Brazil, 1920. Nuevo Mundo Mundos Nuevos. 2019:19. doi: https://doi.org/10.4000/nuevomundo.77966
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,3030. Peters AA, Peres MAA, D’Antonio P. Influences of the Anglo-American Teaching System in Brazil: contributions by the Parsons Mission (1921–1925). Online J Issues Nurs. 2020;25(2):6. doi: https://doi.org/10.3912/OJIN.Vol25No02Man06
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).

Assim, a biografia de Ethel Parsons atinge grau de relevância não restrito apenas à sua missão inicial no Brasil, mas à sua extensão como modelo de educação de enfermagem, que vem influenciando todos os períodos até então. Sem sombra de dúvida, sua história de vida deve ser conhecida e celebrada, pois esculpe uma identidade de enfermeira que se projeta no século XXI em todas as lutas da profissão.

Este estudo não esgota o conhecimento possível de ser produzido a respeito da personalidade Ethel Parsons, pois foi parcialmente limitado pela dificuldade de acesso aos documentos escritos, uma vez que grande parte deles estão distribuídos em instituições de diferentes estados norte-americanos e, para adquiri-los, foi necessário um investimento grande de tempo da pesquisa com solicitações e negociações por e-mail e telefonema, além do pagamento de taxas e contratação de um tradutor da língua Inglesa.

CONCLUSÃO

Esta pesquisa biográfica procurou explorar os processos de gênese e de devir da personalidade Ethel Parsons nos espaços sociais em que esteve inserida e como eles deram forma às suas experiências na enfermagem. Poder desvelar fatos nunca antes acessado em sua biografia faz os pesquisadores de história da enfermagem ressignificar as situações e os acontecimentos acerca de sua existência.

Ethel Parsons pode ser considerada uma das precursoras da luta pela assistência de enfermagem por pessoal formalmente preparado, sendo ela própria um exemplo do perfil da enfermeira de SP ainda não conhecido no Brasil, sem, contudo, dar o devido valor à formação da enfermeira hospitalar, fatos que demonstram uma construção de identidade profissional abrangente, de acordo com os avanços da enfermagem.

Seu trabalho teve grande repercussão em todos os estados brasileiros, e o seu nome figura entre as pioneiras da enfermagem no país, pela grande campanha de saúde que iniciou, elevando o nível sanitário de uma população pouco favorecida de recursos, e por ter propiciado às jovens mulheres do país um novo campo de ação, de profissão, de independência financeira e de reconhecimento social, ao lhes permitir ingressar na profissão de enfermeira, que passou a ser bem vista pela sociedade brasileira à época.

Conhecer traços da biografia de Ethel Parsons permite ampliar a compreensão de quem somos e do quanto poderemos vir a ser no cenário da enfermagem mundial. Após cem anos de sua chegada ao Brasil, a biografia de Ethel Parsons representa hoje uma visão de futuro e de vanguarda para todos os que estão se iniciando na enfermagem.

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Editado por

EDITOR ASSOCIADO

Rosa Maria Godoy Serpa da Fonseca

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jan 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    30 Ago 2022
  • Aceito
    02 Nov 2022
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